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Webinar da Abrapp discutiu funcionamento do mercado de criptoativos

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Os criptoativos podem parecer às vezes um pouco distantes de nosso ambiente normativo imediato, mas como os dirigentes de entidades são abertos à inovação e suas tecnologias transformadoras não perdem de vista toda e qualquer oportunidade que os ajudem a investir em novas classes. Foi o que mostrou o êxito alcançado nesta sexta-feira (18) pelo webinar realizado pela Abrapp sobre o tema “Investimentos de Longo Prazo e a Nova Economia Digital”, evento que lançou novas luzes sobre algo seguramente mais próximo, a infraestrutura disponível para transações financeiras baseada na tecnologia blockchain.

O evento foi aberto por Carlos Salami, Coordenador da Comissão Técnica Sul de Investimentos da Abrapp, e contou com a moderação feita por Rafael Gregório, jornalista especialista na cobertura de assuntos ligados aos criptoativos. O webinar teve como palestrantes Guto Antunes, Head da MezaPro, e Annalisa Blando, CEO da ParMais.

Salami chamou a atenção para os pontos mais importantes na ótica das entidades, em que os gestores operam preocupados em conservar a maior estabilidade possível e com a aderência aos pressupostos atuariais. Isso significa manter uma atenção redobrada ao passivo. É algo que os leva a um cálculo mais cuidadoso do fator risco, mas também a uma razoável diversificação, que naturalmente dilui os efeitos de um eventual erro cometido na alocação.

Mas isso que podemos chamar de conservadorismo não impede, na verdade a seu ver, estimula a análise e o debate mais aprofundado do impacto e das múltiplas possibilidades que se abrem com a chegada dos criptoativos. “É fundamental avançarmos nessa discussão e fazê-lo de uma maneira técnica”, disse Salami. No momento, continuou, falta às entidades fechadas (EFPC) o necessário aval regulatório. “Somos submetidos a uma normatização rígida”, lembrou ele, exemplificando: “o que existe atualmente em matéria de regulação no mercado em geral está voltado para os investimentos no exterior”.

Para Guto Antunes essa normatização não deverá tardar, avançando no Brasil de forma a acompanhar um pouco mais de perto o extraordinário crescimento observado globalmente. Ajuda nisso a forte chegada de investidores institucionais ao mercado cripto observada no exterior desde a segunda metade de 2021. “Isso ajuda a aproximar na cabeça das pessoas os mercados cripto dos tradicionais”, observou, chamando a atenção não apenas para o potencial mas também para o lastro oferecido pela tecnologia blockchain.

“Os institucionais ajudam o mercado a operar com preços mais fechados e justos, tornando-o mais capaz de oferecer respostas técnicas e assertivas”, comentou. E isso é algo bem vindo porque “o mercado cripto muda muito rapidamente, até porque é descentralizado com players novos entrando a todo momento”.

Em resumo, com os celulares e a web 3.0 “o poder está nas mãos das pessoas”. E daí nasce, claro, o mundo novo das NFTs, tokens únicos (não fungíveis) de propriedade de quem investiu neles, podendo ser a figura, por exemplo, do “macaquinho” que seduziu o jogador Neymar semanas atrás.

Maior tranquilidade – Em um ambiente desses é preciso trazer argumentos que acalmem o mais possível o investidor institucional. No Brasil, se tenta fazer isso oferecendo transações a partir de mesas assemelhadas às que servem nos bancos ao mercado tradicional. Sabe-se também que a existência de um balcão somaria pontos nesse sentido.

“Precisamos oferecer aos institucionais os mesmos cuidados, trazendo curadoria e um material técnico cuidadoso”, nota Guto, chamando a atenção também para o fato de que a tokenização já permite que se registre separadamente frações de ativos, desse modo afastando o receio de iliquidez por parte dos institucionais.

Com o reforço desses cuidados, relatou Guto, os Family offices brasileiros já abriram espaço de 2 a 5% de seus recursos para alocação em criptoativos. E as tesourarias corporativas já beiram os 2%, para desse modo poderem fazer liquidação de operações diretamente de suas reservas de criptomoedas.

E um comentário tranquilizador adicional veio do jornalista que atuou como moderador das apresentações, Rafael Gregório, segundo quem o universo dos criptoativos oferece inúmeras possibilidades para quem deseja fugir da extrema volatilidade, um pouco repetindo a dualidade renda variável versus fixa.

Annalisa Blando, segunda expositora, começou lembrando entender bem os cuidados dos gestores das EFPC, na medida em que é planejadora financeira e acompanha de perto a trajetória da previdência complementar. E o seu testemunho foi na mesma direção, frisando ter o mercado de criptoativos um segmento mais volátil, mas também possui outro próximo da estabilidade. Um token de precatório, segundo ela, pode oferecer taxas atraentes, assim como outras ferramentas permitem que se opere com horizontes de tempo mais longos, a partir de uma gestão tanto passiva quanto ativa.

Da volatilidade nem sempre se consegue fugir por inteiro, mas da alavancagem sim. “E isso com certeza traz mais conforto aos investidores”, sentencia.

E sem esquecer que, se por um lado a volatilidade pode ser um importante limitador, por outro traz um grande potencial de ganhos. Algo a ser lembrado tanto quanto a certeza, segundo Annalisa, de que é difícil um prejuízo no longo prazo, que é afinal o período de tempo estratégico dentro do qual operam os fundos de pensão. “É simples: em um horizonte mais distante o que se perde eventualmente em uma ponta, é perfeitamente possível ganhar-se na outra”, resume.

De tudo isso só não é possível, segundo Guto, escapar da certeza da inevitabilidade do crescimento dos criptoativos. “Uma geração totalmente gameficada e o metaverso mostram isso”, concluiu.

É verdade que o avanço das criptomoedas no mundo é inegável e parece irreversível. O ativo chegou a movimentar US$ 3 trilhões (por volta de R$ 15,3 trilhões) em novembro do ano passado, sendo que tal fluxo provoca uma grande discussão em todos os países: como regular esse mercado, prevenindo riscos que as moedas digitais trazem – como a facilidade maior para a lavagem de dinheiro –, mas sem perder as oportunidades que elas oferecem. Atualmente, poucas nações contam com legislações abrangentes sobre o tema e de fato cada país acaba adotando uma estratégia para manter esse mercado sob controle. Conclui-se que as regras variam bastante.

E nessa ausência de regras pode se esconder um problema. No caso das criptomoedas, o cidadão não conta com respaldo de um órgão oficial que diga em quem confiar. Cada empresa do setor tem que tentar construir sua reputação por conta própria. E as que são sérias muitas vezes terminam não conseguindo se diferenciar das demais.

Por fim, uma tentativa de explicar a razão pela qual atualmente se usa bem mais a expressão criptoativos do que criptomoedas. É que a primeira se adequa melhor ao uso dos bitcoins e outras moedas do tipo mais como tradução do valor de um ativo do que como meio de transação financeira.

(Jorge Wahl)

Fonte: Abrapp em Foco, em 21.02.2022.