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Tecnologia, ética e homenagens marcam abertura do 3º Congresso de Medicina do Cremesp

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               cremesp 040625

A interação entre a ética e a prática médica foi o tema central do 3º Congresso de Medicina do Cremesp, iniciado em 29 de maio, no Hotel InterContinental, em São Paulo. O evento, totalmente presencial, reuniu milhares de médicos de diversas especialidades em torno de uma programação científica que propõe a discussão de casos reais recebidos pelo Conselho, com objetivo de orientar e prevenir infrações éticas na atuação profissional.

A programação do primeiro dia foi aberta com a palestra do engenheiro Augusto Salomon, assessor em Inteligência Artificial do Cremesp, mestre pela Ohio University e formado pela Harvard Business School, que abordou os impactos e as possibilidades do uso de IA na Medicina. O especialista trouxe um panorama das transformações tecnológicas em curso e alertou para a necessidade de atualização por parte dos profissionais, colocando o Cremesp à disposição para auxiliar os médicos do estado nesse novo cenário.

“Todas as profissões serão afetadas, e a Medicina não ficará de fora. A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa de análise, previsão, automação e apoio ao diagnóstico. Mas ela precisa ser bem compreendida e utilizada com critério. O médico não será substituído pela IA, mas por quem souber usá-la com eficiência”, afirmou.

Durante a apresentação, Salomon exibiu exemplos reais de aplicações da IA na prática clínica. Ele também destacou ferramentas que contribuem com a educação médica, oferecendo simulações clínicas e geração de imagens para estudo e diagnóstico.

Ao final da apresentação, o palestrante deu uma valiosa dica aos médicos presentes: “Não esperem que o governo ou as instituições ditem o ritmo. Estudem inteligência artificial. Façam parte dessa transformação. No final das contas, a clínica é soberana, mas é injusto fazer um diagnóstico sem considerar as ferramentas que podem ajudar a salvar vidas.”, demonstrando que o Cremesp é o primeiro Conselho Regional do país a ter essa inovação à disposição do médico que necessite de atendimento.

Sessão solene de abertura e a presença de autoridades

A abertura oficial do 3º Congresso de Medicina do Cremesp foi marcada por discursos firmes em defesa das boas práticas médicas, do exame de proficiência, na valorização das prerrogativas e defesa do ato médico. Com a presença de conselheiros, autoridades públicas e representantes do CFM, a sessão solene deu o tom do evento, que propõe uma reflexão profunda sobre os desafios enfrentados pela Medicina brasileira.

O presidente do Cremesp, Angelo Vattimo, relembrou a origem do congresso como resposta à necessidade de diálogo e proximidade direta com os médicos e à superação da imagem meramente punitiva atribuída à autarquia. Em sua fala, ele defendeu o caráter educativo do evento, construído para expor a realidade da prática médica e propor soluções. “Estamos em campo lado a lado com os médicos. Estamos abrindo a caixa-preta da formação médica e convidando os colegas a enxergarem essa realidade como avaliadores, não julgadores”, declarou, ao reafirmar o compromisso do Conselho com a ética.

Joaquim Francisco de Almeida Claro, coordenador jurídico do Cremesp, emocionou-se ao falar do crescimento do evento, lembrando as dificuldades enfrentadas na primeira edição e celebrando a consolidação da proposta. “Esse congresso é dos médicos de São Paulo, é o congresso chegando em campo, e deve ser um norte para todos nós. Aprendi mais ouvindo os homenageados conversarem do que em anos de estudo”, disse, ao agradecer a presença dos convidados.

O cuidado com a construção das mesas temáticas, voltadas à realidade da prática médica e à ética, foi destacado pela vice-presidente do Conselho, Maria Alice Scardoelli. Em relação às homenagens, afirmou: “Todos os médicos podem se sentir representados nas homenagens desta noite”.

Representando o Conselho Federal de Medicina, o conselheiro Francisco Eduardo Cardoso parabenizou o Cremesp pelo protagonismo nacional. “O Conselho de São Paulo deixou de ser um órgão burocrático para assumir papel formador, educacional e defensor da boa Medicina.” Em tom crítico, alertou para a expansão descontrolada de escolas médicas sem critérios de qualidade e defendeu a implantação do Exame de Proficiência.

“Medicina é mais do que inteligência artificial. A relação humana nunca poderá ser substituída”, disse Irene Abramovich, 1ª secretária do Cremesp, em ressalva ao avanço da tecnologia.

O secretário municipal da Saúde, Luiz Carlos Zamarco, ressaltou os avanços obtidos na capital paulista graças à valorização das equipes técnicas e à escuta dos profissionais da linha de frente. Para ele, discutir ética no atual cenário é essencial. “Hoje, muitos querem opinar sobre Medicina sem conhecê-la. Ética e prática médica precisam caminhar juntas para garantir respeito e qualidade no atendimento”, declarou.

Já o secretário estadual da Saúde, Eleuses Vieira de Paiva, fez um apelo à classe médica para resistir aos retrocessos impostos à profissão. Em tom contundente, criticou a abertura desenfreada de faculdades de Medicina: “Estamos vivendo um dos piores momentos da nossa profissão. Precisamos apontar responsabilidades. Não podemos aceitar a formação de médicos sem preparo, sem estrutura, sem compromisso com a ética”.

Homenagens encerram primeiro dia do Congresso com emoção e reconhecimento

A noite do primeiro dia do 3º Congresso de Medicina do Cremesp terminou com uma cerimônia de homenagens a nomes que representam diferentes frentes da Medicina no Estado de São Paulo. Foram reconhecidos: Albertina Duarte Takiuti, Carlos Roberto de Carvalho, Ênio Buffolo, Fabiana Ajjar, João Renato Rebello Pinho e Ricardo Nitrini.

A ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria Estadual da Saúde, chefe do ambulatório de ginecologia da adolescência da FMUSP, mestre e doutora pela USP, indicada ao Nobel da Paz coletivo em 2005 pela ONG 1000 Mulheres, afirmou que o prêmio “não é meu, é de todas as pessoas que sonharam comigo por uma mudança na saúde deste país”. Ao lembrar da trajetória no SUS e da luta contra as desigualdades, reforçou: “Enquanto houver injustiças na saúde, eu estarei aqui”.

O pneumologista Carlos Roberto de Carvalho, professor titular da disciplina de pneumologia da Faculdade de Medicina da USP, diretor da Divisão de Pneumologia do InCor e diretor de Saúde Digital do HCFMUSP, destacou a tecnologia como aliada da equidade. “A saúde digital vai transformar o acesso no SUS, levando qualidade e integração a todos os níveis”, disse, ao agradecer o reconhecimento do Cremesp.

Para o cirurgião cardiovascular Ênio Buffolo, professor emérito da Escola Paulista de Medicina, chefe da equipe de cirurgia cardiovascular do Hospital do Coração e presidente da Academia Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, “já fui homenageado em diversos países, mas nenhuma homenagem me tocou tanto quanto essa. Porque esta é ao médico, àquele que serve ao outro”.

Com atuação em situações de risco extremo, como as tragédias de Brumadinho, Turquia e no Rio Grande do Sul, a médica intensivista Fabiana Ajjar, capitã médica da Polícia Militar do Estado de São Paulo e chefe da Divisão de Medicina de Aviação da PM desde 2001, representou os profissionais da linha de frente do sistema público. “Represento aqui os médicos braçais, que acreditam no SUS e atendem com ética, empatia e dedicação, independentemente de onde e a quem”, afirmou.

O pesquisador e professor João Renato Rebello Pinho, professor livre-docente da FMUSP, coordenador do setor de P&D do Departamento de Patologia Clínica do Hospital Albert Einstein e líder de laboratórios na USP e HC, com mais de 700 publicações científicas, destacou a importância da integração entre os setores público e privado na ciência. Com atuação no HC, USP e Hospital Albert Einstein, ele coordena projetos nacionais em hepatologia, AIDS e doenças tropicais. “Trabalhar com diagnóstico de qualidade para todos é o que me move. Essa homenagem simboliza isso”, declarou.

Encerrando a cerimônia, o neurologista Ricardo Nitrini, professor sênior da FMUSP, referência em neurologia cognitiva e demências, com 461 artigos indexados no PubMed e 40 livros organizados, agradeceu pela distinção e fez uma reflexão sobre a relação médico-paciente. “A Medicina é a profissão mais bonita que existe. O reconhecimento imediato do paciente é algo que nos toca. Eu sou dependente dessa troca, dessa chuva de dopamina que vem com um simples 'obrigado, doutor'”, afirmou, sob aplausos.

Com diferentes trajetórias e perfis, os homenageados simbolizaram o ideal médico que o Cremesp busca fortalecer: humano, competente, plural e comprometido com a saúde da população.

Acesse aqui as fotos do 1º dia de Congresso.

Fonte: Cremesp, em 04.06.2025
Fotos: Osmar Bustos