Os fundos de previdência suiços estão enfrentando o desafio de conviver com taxas de juros negativos na economia. O Banco Central da Suiça (SNB) mantém atualmente a taxa de 0,75% negativa e não tem acenado com a perspectiva de elevação. Ao contrário, Thomas Jordan, Presidente do Conselho de Administração do SNB, defendeu a política de não abolir as taxas negativas diante de uma audiência de gestores na semana passada, alertando que não seria do interesse dos próprios fundos mudarem a linha da atual política monetária, segundo matéria publicado no site Investment & Pensions Europe (IPE).
A situação pode parecer muito distante da realidade brasileira, porém, os acentuados cortes na taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e a meta de inflação para 2020, podem levar a uma situação inédita para nossa economia. Atualmente em 5% ao ano, o mercado projeta a queda da Selic até 4%, o que coincide com a meta de inflação para o próximo ano, o que levaria aos juros reais zerados no Brasil. Claro, que a situação é muito mais evidente para os fundos suiços, pois se trata de uma taxa nominal negativa.
Dirigindo-se a participantes de uma conferência organizada pela PK-Netz em Berna na última quinta, 31 de outubro, Jordan disse que a taxa de juros negativa e a disposição do SNB de intervir no mercado de câmbio ainda são essenciais para aliviar a pressão crescente sobre o franco suíço. Se houvesse elevação da taxa, levaria a um menor crescimento econômico, preços mais baixos das ações e nenhuma melhora nos ganhos dos fundos, disse ele.
O crescimento econômico mais baixo também provocaria maior desemprego, reduzindo a base de contribuição para os planos de previdência, acrescentou. O SNB tem sido frequentemente chamado a subir os juros para aliviar a pressão sobre os fundos. Jordan aplaudiu as ações dos fundos de previdência para melhorar a sustentabilidade, como aumentar as alocações em ações e imóveis e reduzir os benefícios, mas disse que as medidas ainda são insuficientes devido ao aumento da expectativa de vida. No mês passado, um grupo de fundos suíços instou os políticos a aprovarem urgentemente reformas para combater os danos causados ao sistema de previdência suíço devido a taxas de juros negativas sustentadas.
Dinamarca e Suécia - Durante a conferência, o Presidente do SNB citou a Dinamarca e a Suécia como exemplos de países que encontraram soluções viáveis para o equilíbrio das carteiras dos fundos devido à crescente expectativa de vida e baixas taxas de juros. Ele observou que os dois países nórdicos, que agora estão várias posições à frente da Suíça (no ranking Melbourne Mercer Global Pension Index), implementaram medidas de longo prazo para estabilizar e modernizar seus sistemas de previdência.
Jordan disse: “A Dinamarca vinculou a idade da aposentadoria à expectativa de vida e a Suécia está tornando o nível de pagamentos de benefícios diretamente vinculado ao desenvolvimento demográfico e econômico. Esses dois exemplos mostram que é possível, mesmo nessa área politicamente difícil, encontrar soluções viáveis”.
Os órgãos políticos da Suíça também reconheceram há algum tempo que o sistema de previdência deve levar em conta as realidades econômicas. Alguns passos iniciais já foram dados ao longo desta estrada rochosa. Mas ainda há um caminho a percorrer.
Ativos alternativos e ilíquidos - Em um tentativa de aumentar os retornos, os fundos de previdência suíços estão reduzindo as carteiras de títulos e criando alternativas para melhorar a rentabilidade. As ações ainda são a principal alternativa de risco e retorno, mas o investimento em ESG está sendo adotado cada vez mais, segundo aponta Michael Valentine, Consultor de Investimentos da Willis Towers Watson. Ele ressalta a redução constante no investimento em títulos e a um aumento correspondente no investimento ilíquido e alternativo, uma vez que os investidores ficam sem opções tradicionais para cumprir seus passivos.
Charles Morel, Chefe de Clientes Institucionais da Lombard Odier Investment Managers coincide com a tendência de alongamento de prazos e a opção por ativos com pouca liquidez. "Nos últimos 12 meses, vimos o caminho para mais iliquidez continuar e até acelerar. Investimentos alternativos, em private equity e dívida não listados na forma de empréstimos e infraestrutura, estão atingindo mais uma vez um peso de alocação - quase 10% - não visto desde a crise financeira global. O setor imobiliário está seguindo o mesmo caminho”, nota Morel.
Frank Häusler, Estrategista-Chefe da Vontobel, sugere que os mercados emergentes geralmente têm probabilidade de serem cada vez mais acessados pelos fundos suíços. "Os títulos de moeda dos mercados emergentes provaram seus méritos no recente período volátil do mercado", diz Häusler. "Eles não apenas oferecem um retorno atraente a longo prazo de acordo com nossos modelos, mas também são - de uma perspectiva tática - uma classe de ativos atraente". Ele acrescenta que a dívida nos mercados emergentes é mais diversificada do que sua contraparte nos mercados desenvolvidos.
Fonte: Acontece Abrapp, em 05.11.2019.