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Saúde suplementar será o setor mais afetado pelo envelhecimento populacional

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Por Márcia Alves

A longevidade dos brasileiros não colocará em xeque apenas o sistema previdenciário, como alertou Nilton Molina em evento do CVG-SP realizado neste mês. A saúde suplementar, principalmente, será bastante afetada pelo aumento da população de idosos e redução do número de jovens. No estudo “Atualização das projeções para a saúde suplementar de gastos com saúde: envelhecimento populacional e os desafios para o sistema de saúde brasileiro”, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) projeta que já em 2030 as despesas assistenciais do setor devem aumentar 272,8% em comparação com 2014, atingindo R$ 396,4 bilhões.

A questão é que o perfil populacional brasileiros está mudando. A população com 60 anos ou mais triplicou no país entre 1950 e 2010 e os indivíduos com 59 anos ou mais compõem a faixa etária que mais cresce no país desde 2013. Nos próximos 15 anos, essa mudança será mais sentida, segundo o estudo do IESS, na quantidade de internações (aumento de 105%); de consultas (mais de 100%); de exames (avanço de 101,9%); e de terapias (acima de 102%). Nesse período, o total de internações de beneficiários de planos de saúde médico-hospitalares deve saltar de 8,2 milhões, em 2014, para 10,7 milhões em 2030, elevando, consequentemente, o número total de internações em 30%.

O impacto da longevidade também será sentido no sistema público de saúde, diante da estimativa de redução da razão de jovens em idade ativa em relação aos idosos dependentes. De acordo com projeções do IBGE, a razão de dependência de idosos passará de 16,6% em 2010 para 51,9% em 2050. Isso significa que haverá menos pessoas contribuindo para o financiamento do setor saúde. Na saúde suplementar, o estudo do IESS também projetou uma retração no número internações de beneficiários com até 18% - de 14,6% em 2014 para 8,4% em 2030 -, em linha com a mudança demográfica esperada para o país.

Outros países também projetam aumento de despesas com saúde em razão do envelhecimento da população. O Reino Unido calcula um aumento de 7,9% do PIB para 8,5% em 2064. A Austrália prevê que entre 2012 e 2060 suas despesas com saúde cresçam de 4,1% para 7% do PIB devido ao envelhecimento. No Brasil, enquanto a proporção de idosos com 65 anos ou mais aumentou de 2,4% em 1950 para 7,4% em 2010, o gasto da saúde passou de 1% do PIB para 9% no mesmo período. Ocorre que a mudança demográfica vem acompanhada, em geral, da mudança epidemiológica, já que a prevalência de doenças crônicas aumenta com a idade.

Com o envelhecimento, as doenças crônicas (diabetes, hipertensão arterial e problemas de coluna), estão se tornado mais prevalentes do que as doenças infectocontagiosas e a sua prevalência é maior quanto maior a idade. A faixa etária de 80 anos ou mais, por exemplo, representará sozinha 16,6% do total dos gastos com saúde em 2030. Essa é a faixa etária que mais ganhou participação percentual na projeção (aumento de 6,0 pontos percentuais). Já a faixa etária de 60 anos ou mais passará de 33,6% dos gastos em 2015 para 47,2% dos gastos em 2030.

O estudo desenha um cenário que, na visão do superintendente executivo do IESS, Luiz Augusto Carneiro, obriga a sociedade brasileira a buscar mecanismos de aprimoramento da cadeia da saúde como um todo. “Estamos passando por uma mudança no perfil de utilização e serviços de saúde que vai exigir o redimensionamento da rede atendimento e todo o modelo assistencial”, afirma. Segundo ele, será preciso um esforço grande de investimentos para manter o equilíbrio assistencial. “O mercado precisa se modernizar de modo que a escalada de custos e a mudança na utilização dos serviços, também geradas pelo envelhecimento populacional, não se tornem um risco à sustentabilidade do setor”, alerta.

Fonte: CVG-SP, em 01.07.2016.