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Riscos ASG e emergentes deverão mudar definitivamente a subscrição de riscos

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Evento da CNseg e Swiss Re aborda o avanço da integração das questões ASG à subscrição de riscos e analisa os impactos de novos riscos

O engajamento do mercado segurador aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI, na sigla em inglês) tem resultado na integração de questões Ambientais, Sociais e de Governança (ASG) ao ciclo de negócios das seguradoras. Na subscrição de riscos, por exemplo, que já conta com a adesão de 38% das empresas de seguros, que correspondem a 87% da arrecadação das empresas associadas às Federações que integram à CNseg, de acordo com o “Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros”.

O Seminário de Riscos ASG e Riscos Emergentes, realizado no dia 12 de dezembro, em São Paulo, pela CNseg com a parceria da Swiss Re, discutiu o tema sob o enfoque da subscrição de riscos. Como bem lembrou Pedro Henrique Pinheiro, gerente de Conduta de Mercado e Relações Internacionais da CNseg, a questão não é nova, pois já constava entre os quatro princípios do PSI, lançado em 2012 pela ONU. Mas, está avançando em todo o mundo e também no Brasil. “Ao tratar da integração da ASG na dimensão da subscrição de riscos, estamos adentrando no cerne da sustentabilidade das seguradoras”, disse.

Exemplo

A Swiss Re trouxe ao evento os seus principais executivos para mostrar na prática a integração de ASG em sua subscrição de riscos. Luciano Calheiros, Country Presidente do Grupo Swiss Re no Brasil e CEO da Swiss Re Corporate Solutions Brasil Seguros, relatou que a sustentabilidade tem norteado as decisões do grupo, algumas até drásticas. “Mudamos todo o portfólio de investimentos para carteiras sustentáveis, algo que envolveu mais de US$ 150 bilhões”, disse.

Segundo Calheiros, a mudança refletiu na subscrição de riscos, que passou a ser influenciada por questões ambientais. “Preferimos deixar de fechar negócio com alguns projetos que apresentavam risco ambiental inerente ou com clientes que não estivessem alinhados com as nossas práticas ambientais”, disse. O resultado sempre é positivo, segundo Luis Fabiano dos Santos, Head Business Operation para América Latina da Swiss Re Corporate Solutions. Recentemente, a empresa conquistou a classificação AAA da Morgan Stanley em sustentabilidade, comentou.

Santos também informou que a Swiss Re tem inovado no desenvolvimento de produtos com viés sustentável, como é o caso de seguros para parques eólicos, seguros paramétricos e até mesmo a primeira cobertura para barreira de corais da história, no Caribe, por meio de um trabalho conjunto com a organização The Nature Conservancy. O grupo também está bastante alinhado ao programa de sustentabilidade da ONU, que estabelece 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, a serem atingidos até 2030, incluindo boas condições de trabalho, eliminação da pobreza, combate à fome, preservação da água e dos oceanos, entre outros.

Casos

Silvio Steinberg, Head Property & Engineering da Swiss Re Corporate Solutions, explicou que a empresa não excluiu, por exemplo, as barragens dos seus negócios, mas que adotou ferramentas para identificar e reduzir riscos. “Não se questiona a necessidade da atividade de mineração para o mundo atual. Mas, como desenvolver essa atividade da maneira correta, de forma que não afete o meio ambiente? Por isso, não dizemos não de imediato. Isso ocorre de forma gradual”, disse. Essa graduação é feita com a ajuda da ferramenta Sensitive Business Risk (SBR), calibrada constantemente por especialistas globais no tema, segundo ele.

Por outro lado, algumas atividades foram excluídas na política de subscrição da empresa. Segundo Steinberg, a Swiss Re não oferece cobertura para empresas que exportem armamentos para zonas de conflito ou que utilizem energia nuclear para outra finalidade que não seja a energética. Também não terão seguro empresas que utilizem animais em testes de forma indiscriminada ou que usem carvão mineral para a geração de calor. “O lucro financeiro é importante, mas não a qualquer custo. Os fatores socioambientais devem ser pano de fundo de nossos negócios”, disse. Não por acaso a empresa mudou sua visão “Risco é o nosso negócio” para “Tornamos o mundo mais resiliente”. Steinberg explica: “Significa que não é risco a qualquer preço”.

Riscos emergentes

As mudanças climáticas, as inovações e novas tecnologias trouxeram riscos que ainda não podem ser mensurados pelo setor de seguros. Fred Knapp, CFO & CCO da Swiss Re para a América Latina, citou o exemplo do carro autônomo. “Em caso de acidente, quem será o responsável? A empresa que produziu o software ou a montadora?”. Outro exemplo são os incêndios na Califórnia, provocados pela seca, cujas perdas estimadas são de USD 13 bilhões. “Baseado em estudos iniciais, o incêndio começou na mesma região onde houve uma queda de uma linha de transmissão. Se isso se confirmar, de quem é a responsabilidade?”.

Os riscos cibernéticos, em especial o que causa vazamento de dados, também são imensuráveis pelo setor de seguros. Para Knapp, esse risco se potencializa com a proliferação de dados gerados por smartphones. “A quantidade de dados hoje é imensa, apenas no Instagram, são 400 milhões de usuários postando stories por dia. A privacidade é mínima. Então, como podemos mitigar esse risco?”, disse.

Ele também questiona os impactos de um ataque cibernético em uma empresa ou instituição financeira. “Se a empresa desligar o servidor, por exemplo, para estancar o vazamento e por causa disso paralisar a atividade por uma semana, os riscos serão ampliados. Como mensurar esses riscos?”. Para Knapp, no futuro os riscos cibernéticos poderão se assemelhar a os riscos catastróficos.

Sustentabilidade

A última parte do evento foi dedicada à apresentação do “Relatório de Sustentabilidade para o Setor de Seguros” e o lançamento do livreto “Sustentabilidade em Seguros”, ambos produzidos pela CNseg. Bernardo Graciolli Moreira Barroso, analista de Conduta de Mercado e Relações Internacionais da CNseg, perguntou para Maria Eugênia Buosi, sócia da Resultante Consultoria Estratégica, se o resultado da pesquisa que consta no relatório mostrava a evolução do setor. “Temos bons dados e cada vez mais seguradoras participando”, respondeu.

Considerando a representatividade do mercado na pesquisa (equivalente a 87% da arrecadação das empresas associadas às Federações da CNseg) e a quantidade das empresas que afirmaram aplicar ASG na subscrição de riscos (38%), Maria Eugênia acredita em mudanças. “Se essas empresas levarem isso a sério, o mercado muda”, disse. O relatório mostrou, ainda, que 93% das empresas aproveitam as opiniões internas para melhorar os processos (item que corresponde ao Princípio 2 PSI); e que 88% têm a alta liderança envolvida nos debates setoriais (Princípio 3 PSI).

“Sustentabilidade é mais do que reciclar papéis. É preciso estudar a materialidade da nossa indústria e entender como as questões de governança estão integradas ao nosso negócio”, disse Fátima Lima, diretora de Sustentabilidade da MAPFRE Seguros e presidente da Comissão de Sustentabilidade e Inovação da CNseg. Ela ressaltou que o PSI, cujos princípios são apoiados pela CNseg, são referência para o mercado traduzir o conceito de sustentabilidade para o seu modelo de negócio.

Bernardo Barroso comentou a reprodução no livro das recomendações do Financial Stability Board (FSB) para relatos financeiros relacionados ao clima. “O FSB combate os riscos sistêmicos, como os climáticos”, disse. Segundo ele, a ideia do livreto, que faz parte do Programa de Educação em Seguros da CNseg, é desmistificar a sustentabilidade e vinculá-la ao seguro. Maria Elena Bidino, superintendente de Acompanhamento de Conduta de Mercado da CNseg, destacou a linguagem simples do livreto. “Vale a pena consultar, é rápido e didático”.

Fonte: CNseg, em 18.12.2018.