Por Sérgio Luiz Bernardelli Junior (*)
Poucos meses adentro do novo mandato de Donald Trump, o mundo inteiro foi pego de surpresa com as especulações sobre o aumento dramático das tarifas de importação. É o chamado “tarifaço”. Convicções ou especulações políticas colocadas de lado, essas medidas possuem enormes consequências comerciais, com forte possibilidade de impactar o ramo securitário.
O efeito cascata atingirá os custos do setor segurador, especialmente no resseguro. O Brasil ainda depende significativamente da capacidade de resseguro internacional – em 2024, por exemplo, foram contratados R$ 22,3 bilhões em resseguros até outubro, segundo o Boletim IRB+Mercado[1]. Grande parte desse montante foi negociado com resseguradoras do exterior, sediadas em países como Alemanha, Suíça, França e Espanha.
Tensões comerciais globais (como as provocadas pelo tarifaço) interferem diretamente na precificação das resseguradoras, que passam a incorporar esse risco geopolítico em seus cálculos. Isso pode se traduzir em contratos de resseguro mais caros ou menos vantajosos para seguradoras brasileiras, pressionando o pricing das apólices e elevando os prêmios cobrados dos segurados.
Especulações imediatas às medidas de Trump sugerem uma primeira desvalorização do real frente ao dólar. Resultando no aumento de preços numa série de produtos, que também pode impactar o mercado securitário, especialmente nos “seguros de automóvel”, dependentes de peças importadas, cujos custos são impactados pela desvalorização do real frente ao dólar e às principais moedas europeias.
Além disso, o encarecimento generalizado de bens importados – que também passa por máquinas industriais e equipamentos médicos – afeta diretamente os custos de “indenização”. Como esses itens compõem o valor segurado ou os custos de reparo e substituição em caso de sinistros, o aumento de seus preços pode elevar o custo médio da taxa de sinistralidade e impactar a rentabilidade das carteiras.
A recente tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos (Donald Trump) atingirá em cheio a produção de suco de laranja do Brasil e, inevitavelmente, o preço do seu seguro de transporte, porquanto eleva o custo final do produto, incluindo o desse seguro, que é um componente essencial da cadeia logística.
Saindo de um ano de crescimento e expansão, mesmo com o grande impacto das tragédias naturais que ocorreram no Brasil, o segmento securitário não pode deixar de estar atento a essas movimentações externas, pois embora ainda seja cedo para mensurar com precisão os efeitos dessas tarifas, não devemos ignorá-lo e confiar apenas na resiliência do mercado.
[1] Fonte: https://www.irbre.com/seguradoras-contrataram-r-223-bilhoes-em-resseguros-ate-outubro-de-2024/
(*) Sérgio Luiz Bernardelli Junior é advogado do escritório Ernesto Borges Advogados com ênfase em Direito Securitário. Formado em Administração de Empresas pela UFMS, Mestrando em Direito pelo IDP Brasília e Pós-graduado em Direito Constitucional.
Fonte: FG, em 14.07.2025