Por Antonio Penteado Mendonça
A insanidade que se abateu sobre o planeta tem enorme potencial para causar danos de todas as ordens, sociais, políticos e econômicos. Todos de alguma forma afetam as operações de seguros. A consequência é que os seguros em breve estarão mais caros. Nem poderia ser diferente. Na medida que o que vai acontecendo aumenta o número de sinistros cobertos e o total das indenizações, além de colocar a frente, no futuro próximo, um cenário com maior risco, não há como o seguro não subir de preço.
Seguro deve ser a atividade econômica mais globalizada de todas. Seguro e resseguro se espalham pelo mundo, com riscos no Brasil sendo ressegurados no Japão ou na Alemanha, riscos alemães sendo ressegurados no Brasil, todos com cessões para companhias asiáticas e por aí a fora. Isto faz com que riscos distantes tenham impacto nos custos dos seguros locais. Afinal, as resseguradoras pagam indenizações para seguradoras instaladas nos mais variados países, cujas realidades afetam de maneiras diferentes os vários contratos de resseguros, impactando positiva ou negativamente os resultados das resseguradoras.
Neste momento, o mundo assiste a três movimentos militares. Dois estão precificados e não têm impacto no que pode acontecer. A guerra da Ucrânia, pela sua longa duração, não vai modificar a sinistralidade das resseguradoras, além disso, depois da invasão russa, não é crível que as seguradoras sigam aceitando riscos de guerra no país. A questão palestina também não interfere diretamente no resultado das resseguradoras e a razão é que lá há pouco seguro contratado.
Mas a questão iraniana é bem mais complexa. Ainda é cedo para se dimensionar exatamente as consequências dos ataques israelenses e norte-americanos. De qualquer forma, eles não gerarão diretamente os prejuízos capazes de interferir no balanço do mercado segurador. É bom não esquecer que os riscos de guerra costumam ser excluídos das apólices, além disso, pelo segredo envolvido e pelas sanções que o Irã vinha sofrendo, não é de se esperar que suas instalações nucleares estivessem seguradas.
Mas há toda uma gama de situações colaterais que podem acontecer ou não em função dos conflitos na região, sendo a primeira delas o fechamento do estreito de Ormuz, que pode levar ao aumento do preço do petróleo e desestabilizar a economia mundial. Além disso, uma resseguradora não pode desprezar a ameaça da expansão do conflito para outros países do Oriente Médio. Com sorte, não vai acontecer, mas sorte é jogo e uma resseguradora não joga, ela toma todas as medidas possíveis para equacionar seus riscos dentro de parâmetros pré-definidos.
Ninguém tem dúvida de que os danos as instalações nucleares iranianas foram menos sérios do que o apregoado pelo Presidente Trump. Também, ninguém tem dúvida de que trégua entre o Irã e Israel é muito mais fraca do que seria o ideal. E o fato dos israelenses terem o domínio do espaço aéreo iraniano não significa que o Irã não tem como retaliar.
Neste cenário, há duas alternativas: sair do mercado e não fazer seguros ou aumentar os preços para readequar as contas da companhia. Face aos riscos segurados por elas, inclusive em outras partes do mundobb indiretamente afetadas pela crise, não há muito como as seguradoras e resseguradoras saírem do mercado, logo a consequência lógica é o aumento do preço das apólices.
Fonte: SindSeg SP, em 27.06.2025.