Evento do CFM destaca reflexões sobre longevidade, brevidade da vida e busca por sentido
A conferência de encerramento do IX Congresso de Humanidades Médicas, realizado na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, teve como tema “Entre a longevidade e a brevidade da vida, a luta contra a impermanência”. O encontro foi presidido pelo conselheiro federal Krikor Boyaciyan e teve como secretária a reumatologista Helena Maria Carneiro Leão, membro da Comissão de Humanidades Médicas do CFM. A conferência foi conduzida pelo padre e médico Aníbal Gil Lopes, também integrante da comissão, que trouxe reflexões sobre envelhecimento e felicidade em uma sociedade marcada por padrões impostos.
O conferencista destacou que o desejo humano pela permanência contrasta com a realidade da brevidade dos momentos vividos. Para ele, a graça da vida está justamente em não permanecermos iguais: “Eu só posso aprender no momento em que descubro que não sei. Eu só posso vir a ser o que eu não sou”. Essa percepção, afirmou, revela a grandeza daquilo que nos falta e impulsiona o crescimento humano.
Envelhecimento como valor – Lopes também ressaltou que, em uma sociedade que supervaloriza a longevidade, é necessário refletir sobre o processo de envelhecer. Embora muitas vezes seja visto como uma perda de capacidades, o envelhecimento pode ser compreendido como oportunidade de redescoberta de sentidos e valores: “É exatamente através desse processo custoso que descobrimos o verdadeiro significado daquilo que perdemos e do valor do não ter”, defendeu.
Pertencimento e busca por felicidade – O médico e padre ainda alertou para os desejos impostos pela sociedade e pela mídia, que frequentemente distanciam as pessoas de suas verdadeiras aspirações. Para ele, o sentido da vida depende do pertencimento coletivo: “Nós não somos humanos em nós próprios, só somos humanos enquanto parte da humanidade. A plenitude da vida envolve a relação contínua, esse crescimento, essa infinitude do ser”, concluiu.
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Exposição nas redes sociais é tema de debate no IX Congresso Brasileiro
Realizada na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, a Mesa 2 do XIX Congresso de Humanidades Médicas abordou o tema “O fenômeno da exposição nas mídias sociais”. A atividade foi presidida pelo conselheiro federal Domingos Sávio Matos Dantas e moderada pelo também conselheiro federal Jeancarlo Fernandes Cavalcante. Durante o debate, médicos e especialistas discutiram os impactos da tecnologia, a compulsão por selfies e os limites éticos e jurídicos da atuação médica nas plataformas digitais.
O médico e escritor José de Jesus Peixoto Camargo abriu o debate com a palestra “O desafio de ser médico na era da tecnologia”. Ele alertou que, diante da aceleração do conhecimento e da comunicação, o maior risco é a perda do humanismo na prática médica. Ressaltou que “a anamnese não é a história de uma doença, é a história de uma pessoa que adoeceu”, e que o toque humano precisa ser valorizado tanto quanto o exame físico. Para ele, o afeto e a compaixão são elementos insubstituíveis frente aos avanços da inteligência artificial: “Um paciente que recebe um diagnóstico de câncer não vai abraçar o robô”, salientou.
Na sequência, a psiquiatra Sandra Peu apresentou a palestra “Compulsão por selfies e seus riscos”. Ela destacou que a exibição constante da autoimagem pode impactar a constituição da identidade, especialmente entre jovens. Segundo Peu, a busca ilusória pela felicidade, o consumismo, a objetificação do corpo e até a exposição a riscos de violência e pedofilia estão entre as consequências desse fenômeno. “Que valor tem esse selfie? Essa imagem compartilhada? Que valor tem a identidade desse indivíduo?”, questionou, defendendo o resgate da dignidade humana frente ao uso abusivo de filtros e à exposição excessiva nas redes.
Encerrando a mesa, o médico e advogado Alessandro Timbó apresentou, por videoconferência, a palestra “Princípio da responsabilidade no uso das redes sociais”, na qual discutiu marcos jurídicos, bioéticos e normativos que devem orientar a comunicação médica nas mídias digitais. Com base em sua pesquisa de doutorado, Timbó propôs reflexões sobre os limites da liberdade de expressão dos médicos e defendeu que a comunicação deve ser fundamentada no princípio da não-maleficência, alertando para os riscos da divulgação de informações imprecisas ou da promoção de especialidades sem a devida titulação. “O médico não deve divulgar mensagens sem base científica na rede social. Se ele não é especialista, também não deve fazer orientações sobre aquela especialidade”, afirmou.
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Congresso de Humanidades Médicas debate os impactos da busca pelo “corpo perfeito” na saúde e na prática médica
Dando início à programação científica do IX Congresso de Humanidades Médicas, realizado nesta terça-feira (23), na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, especialistas refletiram sobre os dilemas contemporâneos ligados à estética, à saúde e ao papel da medicina diante da pressão social pelo corpo idealizado. A mesa “Corpo perfeito na ciência e na saúde: a diferença entre aparência idealizada e saúde real” destacou as consequências físicas e psíquicas dessa busca crescente.
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O presidente da mesa, conselheiro federal José Elêrton Secioso do Aboim, ressaltou que a autoimagem sempre acompanhou a história da humanidade, mas que os avanços tecnológicos dos últimos 50 anos ampliaram de forma inédita os procedimentos estéticos. “Vivemos um cenário em que médicos oferecem técnicas modernas e pacientes, cada vez mais ávidos por resultados estéticos, submetem-se a riscos que ultrapassam a fronteira do aceitável. Cabe-nos, como profissionais, refletir sobre esses limites com ética e responsabilidade”, afirmou.
Abrindo as palestras, Péricles Vasconcelos Brandão de Almeida, membro da Comissão de Humanidades Médicas, trouxe uma perspectiva filosófica ao relacionar Hipócrates e Platão à ideia da beleza como expressão da vida. “Conhecer-se é descobrir-se no coração da natureza. A verdadeira estética nasce do encontro com o outro e da contemplação da diversidade do mundo”, disse.
Na sequência, o conselheiro Hélio Angotti Neto, da Comissão de Bioética do CFM, destacou a noção grega de apeirokalia, a corrupção da beleza: “A sociedade atual enfrenta um processo de deformação estética, onde a busca pelo impacto e pelo grotesco muitas vezes substitui o sentido profundo da beleza. Essa perda de limites nos afasta da transcendência e contribui para adoecimentos físicos e mentais”.
O psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), chamou a atenção para o impacto direto da pressão estética sobre a saúde mental. “A indústria da beleza movimenta bilhões, mas seu preço é altíssimo: transtornos alimentares, depressão e até risco aumentado de suicídio. Em muitos casos, onde se busca saúde, encontra-se doença”, afirmou, lembrando que adolescentes e jovens são especialmente vulneráveis.
Encerrando a mesa, a conselheira federal Graziela Schmitz Bonin abordou os desafios éticos da autonomia do paciente e do médico em procedimentos estéticos. “Não podemos transformar a medicina em mera prestadora de desejos. O médico deve ser guardião da saúde, impondo limites quando os riscos superam os benefícios. A prudência deve nortear nossa prática”, reforçou.
O secretário da mesa, conselheiro federal Bruno Leandro de Souza, destacou a atualidade e relevância do tema. Segundo ele, “a medicina não pode se deixar capturar pela lógica da mercantilização da estética; é preciso resgatar seu compromisso com a vida, o cuidado e a dignidade humana”.
O debate mostrou que, mais do que um fenômeno cultural, a busca pelo corpo perfeito é um desafio médico, ético e social, que exige reflexão crítica e ação responsável da medicina brasileira.
CFM abre IX Congresso de Humanidades Médicas em Brasília
O Conselho Federal de Medicina (CFM) abriu oficialmente, nesta terça-feira (23), em sua sede em Brasília, o IX Congresso de Humanidades Médicas. O evento reúne médicos, especialistas e convidados em um espaço de reflexão sobre os fundamentos da medicina como prática essencialmente humana, em meio aos desafios contemporâneos relacionados à imagem, à autoimagem e às consequências psicossociais desse cenário.
Na cerimônia de abertura, o presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo, destacou a importância de iniciativas que promovam o diálogo sobre a dimensão humana da medicina: “Este congresso é um momento de celebração e união, em que reafirmamos nosso compromisso com a defesa da vida e com a valorização da prática médica pautada pela dignidade e pelo cuidado humano. A medicina precisa manter sua essência: ser, acima de tudo, uma prática humana”.
A coordenadora da Comissão de Humanidades Médicas, conselheira federal Maíra Pereira Dantas, agradeceu o apoio da diretoria, dos conselheiros e da equipe técnica na realização do congresso e ressaltou a relevância do tema deste ano: “Discutiremos as imagens que projetamos, a autoimagem que idealizamos e as interfaces entre saúde mental e sociedade contemporânea. Vivemos tempos em que padrões muitas vezes inalcançáveis expõem pessoas a riscos evitáveis, e este congresso nos convida a refletir sobre esse fenômeno”.
“Para representar o tema, os dilemas entre imagem e autoimagem, trazemos para a identidade visual do evento o talento extraordinário de Van Gogh. Internado em um hospício, espelhou suas experiências e sofrimentos através da arte. Em seus delírios diagnosticados como sintomas de distúrbios psiquiátricos, ele dizia que as telas iriam dizer o que ele não conseguia falar em palavras”, declarou.
“Escolhemos propositadamente o amarelo para lembrar a campanha do Setembro Amarelo pela promoção da saúde mental e prevenção do suicídio. E escolhemos o azul que simboliza tranquilidade e segurança. Inicio os trabalhos acadêmicos desse evento fazendo votos de debates profícuos, que tragam luz e soluções para a matéria, com o mesmo afã de Van Gogh em pintar estrelas e girassóis, mas com a pretensão de conquistarmos outros desfechos mais favoráveis do que o que ocorreu como artista”, arrematou.
Destaques – A coordenadora do evento evidenciou o ineditismo do concurso de fotografias “Sob o olhar compassivo dos médicos”, oportunidade em que destacou a participação ativa do conselheiro federal José Elêrton Aboim, membro da Comissão de Humanidades Médicas do CFM, na organização do evento. A seleção de imagens para exposição cumpriu o propósito de valorizar a sensibilidade dos médicos e sua capacidade de traduzir, por meio da arte, sentimentos presentes na prática cotidiana.
A programação do Congresso inclui palestras, mesas-redondas e debates sobre os dilemas humanos na prática médica, com destaque para o impacto das redes sociais na autoestima, os riscos da busca pela imagem perfeita e os desafios da medicina em preservar o olhar compassivo diante de tais questões.
O IX Congresso de Humanidades Médicas segue até o fim do dia com atividades voltadas à valorização da arte, da cultura e da ética como instrumentos de fortalecimento da prática médica.
CFM AO VIVO: IX Congresso de Humanidades Médicas
Fonte: Portal CFM, em 23.09.2025.