Mesa sobre formação médica destaca desafios no Brasil e experiências internacionais
Na tarde desta quarta-feira (10), dentro da programação comemorativa dos 80 anos do Conselho Federal de Medicina (CFM), foi realizada a mesa “O futuro começa na formação”, que reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros para debater os caminhos do ensino médico e os modelos de avaliação profissional em diferentes países. O painel foi moderado pelo 3º vice-presidente do CFM, Jeancarlo Cavalcante, e teve como secretário o conselheiro federal Antônio Henriques de França Neto.
Abrindo as exposições, o conselheiro federal Alcindo Cerci Neto apresentou o tema “O CFM e a evolução do Ensino Médico no Brasil: Caminhos, Desafios e Perspectivas”. Ele ressaltou que considera todos os estudantes como “médicos em formação” e destacou o papel do CFM no acompanhamento da qualidade do ensino. O conselheiro mencionou a atuação da Comissão de Ensino Médico (CEM-CFM), do Sistema de Acreditação de Escolas Médicas (SAEME-CFM), da Comissão Nacional de Residência Médica e de convênios internacionais, apontando que a autarquia tem legitimidade técnica para intervir no debate da educação médica. Em tom crítico, alertou para a proliferação desordenada de cursos de medicina, a maioria privados e sem estrutura adequada. “92% das escolas não seguem os critérios mínimos exigidos pelo MEC, e o CFM não pode ficar calado diante disso. Precisamos garantir que apenas profissionais bem formados cheguem à prática médica”, afirmou.
Na sequência, o presidente da Intealth (ECFMG/FAIMER – EUA), Eric S. Holmboe, apresentou a experiência norte-americana no tema “Avaliação para o exercício da medicina nos Estados Unidos”. Ele destacou que a preocupação com a qualidade do ensino é global e detalhou como os EUA estruturam a formação com base em competências. Holmboe explicou o modelo de Competency-Based Medical Education (CBME), que organiza a formação a partir das necessidades dos pacientes e da sociedade, em vez de se prender apenas ao tempo de graduação ou residência. “Não é o tempo que garante a proficiência, mas sim a demonstração de habilidades e competências. O desafio é preparar médicos prontos para a prática não supervisionada, sem abrir mão de padrões rigorosos de avaliação”, destacou.
Encerrando o painel, Tai Telesco, do Royal College of Physicians and Surgeons of Canada, trouxe a visão canadense no tema “Avaliação médica no Canadá: contribuições para o fortalecimento dos processos brasileiros”. Ela lembrou que exames podem ser vistos como barreiras, mas são fundamentais para assegurar segurança, justiça e confiança para pacientes e para a sociedade. Telesco descreveu o longo percurso formativo dos médicos no Canadá, que inclui quase duas décadas de estudos, treinamentos e provas. “O exame tem que ser justo, elaborado por especialistas e voltado à melhoria contínua da qualidade. Precisamos de avaliações que reflitam a realidade da prática médica e deem confiança à população”, explicou.
Com uma abordagem comparativa, a mesa ressaltou a importância da formação médica de excelência como base para o futuro da profissão. As experiências internacionais, ao lado das reflexões sobre o cenário brasileiro, reforçaram a necessidade de políticas consistentes que garantam qualidade na educação médica e segurança para a sociedade.
CFM celebra 80 anos e destaca construção de pontes interinstitucionais em defesa da boa medicina
O Conselho Federal de Medicina (CFM) realizou, nesta quarta-feira (10), um dia de programação científica para celebrar seus 80 anos. Para nortear as falas, foi definido o tema: “CFM 80 anos: História, Compromisso e Futuro da Medicina no Brasil”. No auditório da sede da autarquia, autoridades brasileiras e estrangeiras — com representantes de Portugal, Angola, Canadá e Estados Unidos, entre outros — acompanharam debates voltados ao fortalecimento da atuação institucional do Sistema Conselhos e à proteção da sociedade por meio de uma medicina segura.
Entre os destaques da agenda, a mesa “Construindo pontes: a atuação interinstitucional do CFM” reforçou uma marca da atual gestão: promover diálogo técnico, ético e colaborativo com os poderes públicos e a sociedade.
A sessão foi moderada pela conselheira federal Rosylane Rocha, 2ª vice-presidente do CFM; e secretariada pelo conselheiro federal Domingos Sávio. Os expositores foram Daiane Nogueira de Lira, conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que abordou o tema “Judicialização da medicina: a importância do entendimento médico nas decisões judiciais”; e o deputado federal Allan Garcês (PP-MA), que tratou do “papel institucional dos Conselhos de Medicina no Congresso Nacional”.
Construindo pontes – “Construir pontes é garantir medicina segura. Quando há invasão do ato médico, quem perde é o paciente. O CFM cumpre seu papel institucional de proteger a sociedade e precisa, ao lado do Parlamento, aprovar pautas de interesse público”, afirmou a conselheira federal Rosylane Rocha, ao agradecer o apoio de parlamentares na defesa da boa formação e do exercício ético da medicina. “Precisamos de mais deputados comprometidos com essa agenda”, completou.
Na sequência, Daiane Nogueira destacou o caráter colaborativo do Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde (Fonajus) — que completa 15 anos e conta com a participação permanente do CFM — e convocou os Conselhos Regionais de Medicina a fortalecerem sua presença nos comitês estaduais de saúde.
“Vamos ter que, cada vez mais, construir novas pontes. A judicialização acontece porque essa é a forma que muitas pessoas encontram para buscar o acesso à saúde que elas não têm. E o Judiciário é chamado a decidir questões complexas em saúde, área para a qual não fomos formados. Por isso, o diálogo técnico com a medicina é um dever”, disse. Ela informou ainda que 861.804 processos relacionados à saúde estão pendentes no país (dados de julho de 2025), envolvendo temas que vão de fornecimento de insumos e leitos de UTI a medicamentos e tratamentos.
Já o deputado Allan Garcês, que também é médico, ressaltou o papel do Congresso e a importância do engajamento das lideranças médicas no debate legislativo: “Sou médico e estou deputado. Sei que o CFM está sempre presente na Câmara e no Senado, levando contribuições técnicas. Defendo o Exame de Proficiência em Medicina e projetos que protejam a integridade física do médico e aprimorem o atendimento ao paciente. É fundamental fomentar lideranças médicas e dar visibilidade à bancada da saúde”.
Com essa atividade, o CFM reitera que construir pontes — entre Judiciário, Legislativo, Executivo, academia e sociedade — é diretriz estratégica da atual gestão para consolidar padrões éticos, qualidade da formação e segurança do paciente. A programação segue ao longo do dia e prossegue até o dia 11, com sessão especial no Senado Federal e solenidade com homenagens na sede do CFM.
Encontro destaca papel do CFM na construção da medicina brasileira
Roberto Luiz d´Avila proferiu a palestra por videoconferência
A trajetória do Conselho Federal de Medicina desde a sua instituição, em 1945, e a missão da autarquia na defesa da ética e de um atendimento de qualidade à população deram o tom da conferência História e legado: o papel do CFM na construção da medicina brasileira. A palestra foi proferida pelo ex-presidente do Conselho, Roberto Luiz d´Avila, que dirigiu a Autarquia de 2009 a 2014.
A apresentação foi a primeira atividade da celebração CFM 80 anos: História, Compromisso e Futuro da Medicina no Brasil. O conselheiro federal representante do estado de Santa Catarina nas gestões 1999-2004, 2004-2009 e 2009-2014 relatou um histórico dos conselhos de medicina no país, desde as origens da autarquia, em 1951, com a criação da Associação Médica Brasileira; passando pela lei 3.268/1957, que instituiu os Conselhos de Medicina, até o Decreto 44.045/1958, que tornou obrigatória a instalação dos Conselhos Regionais de Medicina nas unidades da Federação.
O palestrante iniciou a conferência com uma análise sobre a obra Ética Médica, produzida em 1974 por um grupo de conselheiros do Conselho Regional de Medicina do Estado da Guanabara (Cremeg). Em um passeio pela história, Roberto d´Avila destacou ainda os objetivos da antiga Academia Imperial de Medicina, hoje Academia Nacional de Medicina, fundada em 1835. A instituição tinha como intuito a defesa da medicina, dignidade e harmonia da classe, além da regulamentação da atividade.
Origens – Roberto Luiz d´Avila destacou ainda na conferência as origens da representação médica, iniciada na fundação do Sindicato Médico Brasileiro, passando pelas discussões sobre a criação da Ordem dos Médicos do Brasil, entre os anos de 1938 e 1940; até o IV Congresso Médico Sindicalista, em 1944, quando lideranças médicas solicitaram ao presidente Getúlio Vargas a criação dos Conselhos de Medicina O pedido resultou na assinatura do Decreto-lei 7.955/45, de 13 de setembro de 1945.
Encerrando a apresentação, após percorrer a memória dos Conselhos de Medicina, Roberto Luiz d´Avila expressou a emoção de fazer parte dessa história e com a aposta em tempos melhores para a medicina. “Precisamos estar sempre com o olhar no futuro, fazendo a melhor medicina possível e nos dedicando ao máximo, tanto ao nosso paciente como à sociedade que depende de nós”, defendeu o ex-presidente do CFM.
A apresentação foi coordenada pelo conselheiro Carlos Magno Pretti Dalapicola, 2º tesoureiro do Conselho Federal de Medicina, e secretariada pela conselheira federal Graziela Schimtz Bonin, representante de Santa Catarina no CFM na gestão 2024-2029.
Governador de Goiás defende exame de proficiência e critica proliferação de escolas médicas
Presente à solenidade de abertura da programação comemorativa dos 80 anos de fundação do Conselho Federal de Medicina (CFM), na sede da autarquia, em Brasília, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, defendeu a importância da aprovação da Lei do Ato Médico no Congresso Nacional, em 2013, a votação célere do projeto de lei que cria o Exame Nacional de Proficiência em Medicina, criticou a abertura indiscriminada de escolas médicas no País nos últimos anos e pediu aos médicos que se articulem para aumentar sua representatividade no Legislativo.
“Não podemos abrir mão dessa luta (do exame de proficiência). É a pauta mais relevante no momento. Tem que ser votada o mais rápido possível para chegarmos aos 81 anos do CFM e ver isso avançado a fim de minimizar as consequências nefastas da proliferação de médicos sem a qualificação mínima exigida para o exercício da medicina. Essa pauta enfrenta um lobby muito forte e é muito importante a participação da classe”, declarou.
Caiado disse que, com essa pulverização acelerada, ele nunca sabe ao certo quantas faculdades de medicina existem, de fato, no Brasil. “Não sei se são 400, 420, 450… eu falo mais de 400, que não erro. Acho que não tem no mundo nada igual ao Brasil em termos de quantidade. Tenho trabalhado muito junto ao Conselho do Ministério da Educação para termos regras mais rígidas para que uma faculdade possa continuar na sua atividade de formação dos médicos”, declarou.
Ele falou que é o governador mais odiado das faculdades de medicina do Brasil e explicou o porquê. Disse que, no começo do seu primeiro mandato à frente do Poder Executivo em Goiás, os empresários do setor marcavam audiência com ele para tratar de abertura de novas unidades de ensino e se frustravam.
“Eles chegavam para mim e diziam ‘olha, nós vamos instalar uma faculdade de medicina em tal lugar do estado’. Aí eu falava: tudo bem. Mas antes eu perguntava para ele qual era a planta do hospital que seria construída para fazer a formação e a qualificação dos médicos; pedia para ele me dizer quantos médicos com mestrado e doutorado teriam e qual seria realmente o número de aulas presencial, porque não aceito aulas de medicina a distância. Em cinco minutos, a audiência acabava. Essa é uma realidade. Não se pode confundir a medicina com um processo de mercantilização”, afirmou.
O governador de Goiás lamentou que muitas famílias estão vendendo o que tem e fazendo empréstimos até do que não têm para poder pagar a faculdade de medicina dos filhos. “Se a faculdade tem cursos de outras áreas, ela vale R$ 1 milhão. Se ela tem um curso de medicina, vale R$ 10 milhões. Passou a ser assunto não de ciência e não de profissão e sim uma das maneiras mais fáceis de se enriquecer ilicitamente. E o aluno ali não tem a menor capacidade de poder se queixar daquilo. E a família acha que seu filho vai se formar em medicina e se tornar médico”, contou.
CFM celebra 80 anos em solenidade marcada por presenças nacionais e internacionais
O Conselho Federal de Medicina (CFM) deu início, nesta quarta-feira (10), à programação comemorativa de seus 80 anos de fundação, em Brasília. A solenidade de abertura contou com a presença de lideranças médicas, políticas, acadêmicas e religiosas, reforçando o caráter plural do evento e a relevância da entidade na história da saúde brasileira.
Entre as autoridades presentes estava o presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo, que emocionou os presentes ao lembrar a trajetória da autarquia e a importância de defender a vida e a ética na medicina. Ele destacou a necessidade urgente de aprovação do exame de proficiência em medicina, citando pesquisas que mostram o apoio majoritário de médicos, estudantes e da população. “Não iremos abrir mão do exame de proficiência. O futuro que desejamos depende de nós, médicos, bem formados e comprometidos com a ética. 90% dos médicos aprovam o exame. 92% dos estudantes de medicina aprovam o exame. Segundo pesquisa do Datafolha, que esteve em municípios de todas as regiões brasileiras, 96% da população apoia o exame e quer uma saúde de qualidade”, afirmou.
A ministra da Saúde de Portugal, Ana Paula Martins, ressaltou a dimensão internacional da celebração, afirmando que o evento é uma homenagem não apenas à medicina brasileira, mas à medicina mundial. “Os nossos médicos continuam a ser aquelas luzes que nunca se apagam. São fé, razão e esperança para todos nós”, disse, destacando a afinidade histórica entre Brasil e Portugal na defesa do humanismo e da prática médica.
O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Ricardo Hoepers, também destacou a importância da parceria entre a fé e a ciência ao longo da história. “A medicina só alcança a sua grandeza quando está a serviço da vida humana”, declarou, reafirmando o compromisso da Igreja em apoiar os profissionais de saúde e a defesa da vida.
Na mesma linha, o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Rui Nunes, enfatizou o caráter visionário do CFM e a relevância da cooperação internacional em bioética. Ele lembrou os 18 anos de convênio entre a entidade e a universidade portuguesa, que resultaram na consolidação de projetos de referência internacional. “Bioética é a ética da vida humana. Falar de ética é falar de medicina”, afirmou.
O 2º secretário do CFM, Estevam Rivello, à frente da organização do evento, ressaltou a importância simbólica da celebração dos 80 anos. Em sua fala, lembrou o protagonismo histórico de estudantes e entidades médicas na criação do Código de Ética e destacou o papel do Conselho na consolidação de políticas públicas e na construção da democracia brasileira. “Somos parte integrante da construção da democracia. Tenho orgulho de compor essa entidade, que é hoje a maior do mundo em número de médicos inscritos”. O conselheiro mencionou, ainda, a árvore de Hipócrates, cuja muda foi plantada em frente à sede do CFM, gesto que reforça a ligação da instituição com os valores fundadores da medicina.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, o único médico atualmente à frente de um governo estadual, também prestigiou a cerimônia. Ele destacou a importância do CFM na definição de diretrizes que preservem o compromisso da medicina com a vida. “Cabe ao CFM mostrar que a medicina não deve ser mercantilizada, mas guiada pelo compromisso ético de salvar vidas”, disse.
A abertura deu o tom para uma programação extensa, que ao longo de dois dias reunirá especialistas nacionais e estrangeiros em conferências e mesas-redondas. Os temas abrangem desde o legado histórico da autarquia até os desafios contemporâneos da prática médica, como a judicialização da saúde, a avaliação da formação médica e as perspectivas éticas da regulação profissional nos próximos 80 anos.
Com esse marco, o CFM reafirma sua trajetória de oito décadas como guardião da boa prática médica e da defesa da sociedade, em sintonia com os avanços científicos e com o fortalecimento das instituições democráticas.
Fonte: Portal CFM, em 10.09.2025.