Médico Paulo Muzy orienta profissionais a atuarem nas redes sociais
Após a mesa de abertura do V Fórum de Medicina do Esporte do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizado pelo presidente da autarquia, José Hiran Gallo, e pela 2ª vice-presidente, Rosylane Rocha, o médico Paulo Muzy, que tem quase oito milhões de seguidores no Instagram, falou sobre a experiência com redes sociais e deu dicas para os profissionais de saúde atuarem com ética, responsabilidade, efetividade e clareza para o público.
Ele chamou a atenção para a quantidade de informação falsa que circula atualmente no mundo, ressaltando que 40% do conteúdo publicado no TikTok está errado. “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma parte expressiva dos jovens busca nas redes informações de saúde. Logo, o médico presente nas redes é mais do que um comunicador – ele é um contrapeso à desinformação. Sua voz é escutada com um peso ético diferente. Isso é poder. E todo poder traz responsabilidade”, afirmou.
Muzy orientou os médicos a evitarem, por exemplo, lives com venda de produtos (mesmo que indiretamente), uso de jaleco em fotos externas ao ambiente médico e story reclamando de paciente (mesmo sem identificação). O recomendado, segundo o especialista, é manter a fronteira clara entre pessoal e profissional, com o uso de jaleco apenas em contexto clínico ou institucional.
“Por séculos, o conhecimento médico era restrito a poucos. Hoje, a ciência precisa circular – com responsabilidade. Então, use postagens educativas que conectem o passado com o presente. Isso humaniza e dá profundidade à sua presença. Seja um modelo, uma liderança pelo exemplo: sua experiência profissional serve de modelo; sua presença online inspira outros médicos e orienta o público. Você não está apenas representando a si mesmo, mas toda a classe médica. Isso inclui a forma como você interage, debate e se posiciona”, declarou.
O médico explicou em sua palestra que qualquer um se sente mais seguro nas redes sociais ao saber com quem está falando. “A confiança começa com a identidade. Em um ambiente digital anônimo, sua identificação completa (Nome, CRM, RQE) não é burocracia, é seu primeiro ato de transparência e respeito. Isso está previsto no Art. 8° do Código de Ética Médica (Identificação Profissional)”, observou.
O médico, que também é atleta e professor, ainda falou sobre o papel do médico como uma voz de autoridade na sociedade ao conceder entrevistas e publicar artigos. Para um checklist final de toda postagem, ele orienta os médicos a se perguntarem: essa informação tem base científica? Evita promover um serviço ou resultado específico? Está clara e acessível ao público leigo? Evita expor pessoas, instituições ou gerar sensacionalismo? Reflete minha postura profissional fora das redes?
“A carreira de um jovem médico hoje será, inevitavelmente, híbrida. A excelência técnica no consultório e no centro cirúrgico deve ser acompanhada pela excelência ética na arena digital. O objetivo final não é ter milhões de seguidores, mas ser a referência de confiança para a sua comunidade, seja ela grande ou pequena. O sucesso não é o seu nome em evidência, mas o impacto anônimo e positivo que seu conhecimento gerou na vida das pessoas”, resumiu.
Em sua mensagem final, Muzy sublinhou que o médico nas redes sociais não deve ser um produto embalado para consumo, mas um guia confiável no meio da incerteza. “O maior valor que um médico pode oferecer ao público digital não é carisma, nem estética; mas clareza, segurança e verdade científica. Como ensinava o economista Kenneth J. Arrow, prêmio Nobel de economia: onde há incerteza, o que sustenta a medicina é a confiança”, finalizou.
CFM AO VIVO: V Fórum de Medicina do Esporte do CFM (tarde)
CFM abre Fórum destacando papel estratégico da especialidade
O Conselho Federal de Medicina (CFM) abriu, nesta terça-feira (2), em Brasília, o V Fórum de Medicina do Esporte, que tem como tema central os Essentials da especialidade. A mesa de abertura reuniu o presidente da autarquia, José Hiran da Silva Gallo, e a 2ª vice-presidente do CFM e coordenadora da Câmara Técnica de Medicina do Esporte, Rosylane Nascimento das Mercês Rocha, dando início a um dia de debates sobre os desafios e as perspectivas dessa especialidade estratégica para a saúde da população.
Ao dar as boas-vindas, o presidente Hiran Gallo destacou que a medicina do esporte ocupa espaço de relevância no CFM, com uma Câmara Técnica dedicada ao tema, e ressaltou que o Fórum reflete a preparação da medicina brasileira para o futuro, a partir da integração de ciência, tecnologia e inovação. “Dessa forma, nós nos preparamos para a medicina do futuro, com diálogo, reflexões e muito estudo”, afirmou.
O presidente do CFM também reforçou a urgência da aprovação do Exame Nacional de Proficiência em Medicina, em discussão no Congresso Nacional, defendeu o combate ao exercício ilegal da medicina e lembrou que a ética médica deve ser o pilar central da profissão. “Os avanços tecnológicos e científicos ampliam horizontes, mas jamais substituirão o essencial: o elemento humano, o médico e a médica preparados, éticos e comprometidos com o bem-estar do paciente”, defendeu.
Em sua fala, a 2ª vice-presidente do CFM, Rosylane Rocha, ressaltou a amplitude da medicina do esporte, que vai muito além da performance atlética. “Além de promover a saúde e o bem-estar da população em geral, desde a infância até a terceira idade, apoiando a prevenção de lesões e doenças crônicas ou degenerativas, a medicina do esporte contribui efetivamente com a formulação de políticas públicas”, destacou. A coordenadora da Câmara Técnica de Medicina do Esporte também enfatizou o caráter plural do Fórum, que abordará desde o uso de tecnologias como inteligência artificial até questões como doping, uso de anabolizantes e gestão das redes sociais na prática médica.
Segundo a conselheira, o encontro reflete o esforço coletivo da Câmara Técnica de Medicina do Esporte e do CFM em oferecer conteúdos práticos e atualizados para os profissionais da área. “Vejo neste Fórum um importante momento para o trabalho de nossa Câmara Técnica. Juntos, poderemos lançar um olhar em perspectiva sobre as temáticas e avançar em nosso trabalho, trazendo ganhos para a especialidade, para os pacientes e para toda a sociedade”, concluiu.
Com uma programação extensa e diversificada, o evento prossegue ao longo do dia com palestras e debates voltados à atualização dos médicos e à valorização da medicina do esporte como campo essencial para a saúde da população.
Resolução do CFM busca frear a violência contra médicos
As unidades de saúde devem ter controle de acesso, videomonitoramento em áreas comuns e protocolos de resposta imediata a situações de violência. Essas medidas de segurança estão previstas na Resolução CFM nº 2.444/25 (ACESSE AQUI), publicada no Diário Oficial da União nesta terça-feira (2), que também obriga o diretor técnico a notificar agressões sofridas por médicos ao Conselho Regional de Medicina (CRM), à autoridade policial e ao Ministério Público.
Para o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran Gallo, a Resolução CFM nº 2.444/25 demonstra a preocupação da autarquia com os casos de violência contra médicos e demais profissionais de saúde. “De acordo com levantamento feito pelo CFM, 12 médicos são agredidos diariamente em seus postos de trabalho. Essa situação precisa mudar. Não é justo que quem cuida da população trabalhe sem proteção”, argumenta.
Segurança – A Resolução CFM nº 2.444/25 estabelece que é direito do médico exercer o seu ofício em local seguro, sendo de responsabilidade do diretor técnico a segurança dos médicos nas unidades de saúde. “É direito do médico exercer sua atividade profissional em ambiente que assegure sua integridade física e mental, incumbindo aos gestores e responsáveis técnicos a adoção de medidas necessárias”, estabelece o artigo 2º da Resolução.
Além do videomonitoramento, dos protolocos de segurança e das notificações, a Resolução nº 2.444/25 também estabelece que a unidade de saúde deve dar suporte psicológico e jurídico ao médico agredido e a possibilidade de o profissional solicitar transferência de setor. Também deverá notificar ao CRM os casos de violência contra médicos ocorridos em suas dependências, orientar os profissionais sobre as providências cabíveis após a agressão e prestar apoio administrativo, inclusive para registro policial, assistência psicológica, social e médica.
As unidades de saúde também deverão ter estacionamentos seguros e devidamente sinalizados para médicos, acessos independentes para entrada de profissionais, repouso médico com controle de acesso por biometria, rotas de fuga e espaços de refúgio e protocolos de resposta rápida, com códigos internos e botão de pânico. Locais que desobedeçam as normas de segurança previstas em resoluções do CFM poderão sofrer interdição ética.
Salas seguras – Nos estabelecimentos localizados em áreas de risco, o diretor técnico também deve implementar medidas adicionais de segurança, como salas seguras e protocolos de paralisação de atividades em casos de confrontos armados nas proximidades da unidade de saúde. Em relação a esses locais, a norma estabelece que os CRMs deverão mapear as unidades com alta incidência de violência contra médicos para subsidiar políticas públicas e propostas legislativas nos âmbitos municipal, estadual e federal.
O texto também prevê que o médico poderá solicitar a disponibilização de profissional do mesmo gênero do paciente, com vínculo institucional e obrigação de sigilo, para acompanhar atos médicos que envolvam contato físico direto ou de potencial situação de vulnerabilidade. “A legislação assegura o direito do paciente à presença de acompanhante, mas não havia, até o momento, norma protetiva para o médico, especialmente no tocante a sua integridade física e mental. Com esta Resolução, oferecemos uma camada de proteção ao médico”, argumenta o relator da Resolução, conselheiro federal Raphael Câmara Medeiros Parente.
Nos casos de invasões a estabelecimentos de saúde, a Resolução estabelece que “é dever do diretor técnico impedir o acesso de terceiros não autorizados a áreas restritas da unidade, tais como centro cirúrgico, emergências, pronto-atendimentos, enfermarias, quartos, UTI, consultórios e área de repouso médico ou preparo profissional”. Caso haja o acesso não autorizado, o fato deve ser denunciado ao CRM e às autoridades policiais, devendo ser solicitado reforço policial.
Raphael Câmara argumenta que a dignidade do exercício do médico deve ser resguardada como de interesse público. “É inadmissível que profissionais dedicados à preservação da saúde e da vida humana atuem sob ameaça constante, sem qualquer garantia de proteção ou amparo institucional. A Resolução CFM nº 2.444/25 é um marco ético e normativo necessário, com o foco de restaurar o mínimo de segurança e respeito à missão medica”, conclui Raphael Câmara na exposição de motivo que acompanhou a norma do CFM.
CFM AO VIVO: V Fórum de Medicina do Esporte (manhã)
Fonte: Portal CFM, em 02.09.2025.