CFS 2025: novas leis do setor encerraram os debates
Os dois últimos painéis do “Conexão Futuro Seguro 2025” (CFS) tiveram como tema central as duas legislações recentes do setor de seguros: Lei Complementar 213/2025, que regulamenta a proteção patrimonial mutualista, e Lei nº 15.040/2024, que estabelece o novo marco legal dos contratos de seguros no Brasil.
Ambos os debates foram mediados pelo gerente de Produtos da Escola de Negócios e Seguros (ENS), Ronny Martins, e contaram com especialistas de áreas técnica, jurídica e regulatória.
Fotos: Douglas Asarian
Mutualismo regulado gera crescimento
O painel que tratou da nova regulamentação da proteção patrimonial mutualista reuniu o diretor de Supervisão Prudencial e de Resseguros da Susep, Carlos Queiroz, o diretor técnico e de Estudos da CNseg, Alexandre Leal, e o consultor de Projetos Especiais da ENS, Augusto Cardoso.
Em sua intervenção, Cardoso destacou o grande potencial de crescimento desse segmento, que pode quintuplicar nos próximos anos. Para ele, a nova lei representa uma oportunidade estratégica para os corretores de seguros. “Esses profissionais poderão incluir a proteção mutualista no seu portfólio, ampliando a oferta de soluções ao cliente”, afirmou.
Carlos Queiroz explicou que, com a nova legislação, associações de proteção veicular e cooperativas de seguros passam a ser supervisionadas pela Susep, o que as insere no mercado regulado. “O corretor agora conta com mais opções, como a proteção mutualista no ramo de automóveis, o que gera novas oportunidades de negócios”, avaliou.
Por sua vez, Alexandre Leal ressaltou a importância de uma regulamentação proporcional aos riscos dessas operações. “O setor enxerga com bons olhos essa integração ao escopo da Susep e do CNSP. Esperamos que os normativos sigam o princípio da proporcionalidade, garantindo segurança sem comprometer a viabilidade das operações”, frisou.
Marco Legal dos Contratos de Seguro
No último painel do CFS, especialistas abordaram os impactos da Lei 15.040/24, conhecida como “Marco Legal dos Contratos de Seguro”. Participaram do debate a diretora de Organização de Mercado e Regulação de Conduta da Susep, Jessica Bastos; a diretora Jurídica da CNseg, Glauce Carvalhal; e o presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Seguro (IBDS), Ernesto Tzirulnik.
Principal autor da primeira Lei do Contrato de Seguro do Brasil, Tzirulnik disse que a legislação aproxima os contratos de seguro da realidade prática do consumidor. “Quando os contratos se distanciam da vida real os conflitos aumentam e, com eles, as dificuldades para o corretor. A lei busca reduzir esses atritos, oferecendo mais equilíbrio e transparência”, explicou.
Para Glauce Carvalhal, o maior desafio é a adaptação do setor às novas diretrizes, que buscam unificar, em um único instrumento legal, os direitos e deveres de segurados e seguradoras. “É uma lei densa e complexa, mas resultado de anos de debates e construção coletiva entre os diversos atores do mercado”.
Jessica Bastos enalteceu o caráter modernizador da norma, que incorpora entendimentos já contemplados pela jurisprudência. “Ela vai além de consolidar normas existentes, traz avanços importantes ao considerar aspectos da boa-fé nas relações contratuais e contribui para a uniformização das decisões judiciais, ampliando a segurança jurídica do setor”, completou.
O painel reforçou que a Nova Lei do Contrato de Seguro representa um divisor de águas para o mercado, exigindo dos corretores não apenas atualização técnica e jurídica, mas uma nova postura frente às mudanças. “Preparados, esses profissionais poderão exercer com ainda mais relevância seu papel consultivo na jornada do cliente segurado”, concluiu Tzirulnik.
Com informações da Fenacor
CFS 2025: 5ª edição do estudo das mulheres foi destaque
A atuação feminina no setor foi tema do terceiro painel do “Conexão Futuro Seguro 2025” (CFS), com a apresentação da 5ª edição do estudo “Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil”, lançado pela Escola de Negócios e Seguros (ENS), no dia anterior, 10 de junho, em evento dedicado.
Mediado pela diretora de Ensino da ENS, Maria Helena Monteiro, autora da pesquisa ao lado do economista Francisco Galiza, o painel contou com a participação da presidente da Sou Segura, Liliana Caldeira, e da corretora de seguros e fundadora da Facsi Corretora de Seguros, Simone Fávaro. A conversa trouxe dados atualizados, reflexões e experiências pessoais sobre os desafios e avanços da presença feminina no seguro.
Liliana Caldeira, Maria Helena Monteiro e Simone Fávaro / Fotos: Fernando Gonçalves (Comunicação ENS)
Maioria numérica, salários mais baixos
O estudo revelou que as mulheres continuam sendo maioria na força de trabalho do setor, ocupando 56% dos cargos, número que contrasta com o de postos de liderança. “Apenas 29% dos cargos C-level são ocupados por mulheres”, anunciou a diretora da ENS.
O novo recorte, que contou com um total de 635 participantes, também explorou a desigualdade salarial. “Em 2024, a remuneração média feminina foi de R$ 6,8 mil, contra R$ 9,7 mil dos homens. Isso representa cerca de 70% da remuneração masculina”, complementou.
Outro ponto analisado foi o retorno ao mercado de trabalho após a maternidade. A pesquisa mostrou que, das 530 mulheres respondentes, 86% voltaram à empresa após a licença-maternidade. No entanto, esse número cai para 65% após um ano, o que evidencia as dificuldades de conciliação entre maternidade e carreira.
Ainda segundo o levantamento, 74% dentro de um universo de 19 seguradoras consultadas possuem políticas de igualdade de gênero. A presença feminina em funções de coordenação e supervisão dessas companhias (49%) aponta um movimento ascendente. “Desde que não encontrem teto de vidro, essas mulheres poderão transformar o setor”, ressaltou Monteiro.
A autora do estudo também frisou que a formação acadêmica não é um entrave para as mulheres ascenderem na carreira, já que as respostas revelaram níveis semelhantes de qualificação entre elas e os homens. “A disparidade, portanto, está ligada a fatores estruturais, culturais e de gestão, o que reforça a importância de dados como os do estudo para fomentar mudanças efetivas”.
Experiências que inspiram
Em seu depoimento, Liliana Caldeira destacou a colaboração da Sou Segura na pesquisa qualitativa, que ouviu diversas profissionais sobre suas percepções e experiências. Ela também elogiou o crescimento de iniciativas de diversidade e equidade nas seguradoras. “As empresas estão investindo mais em programas voltados à equidade de gênero, e isso é um sinal positivo para o futuro do setor”, comentou.
As três debatedoras do painel
Por último, Simone Fávaro, que também é 1ª vice-presidente do Sincor-SP, compartilhou sua trajetória de 29 anos como mulher em um ambiente predominantemente masculino. “Comecei do zero, sem clientes, sem sucessão familiar. Construí minha corretora sozinha e hoje me orgulho de poder dizer que 90% do quadro de profissionais é composto por mulheres, com muitas delas em posições de liderança. Tenho muito orgulho de dizer que a mulher corretora transforma o setor”, afirmou.
Evento de lançamento do estudo
A 5ª edição do estudo “Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil” foi lançada oficialmente pela ENS, no dia 10 de junho, em evento presencial na Unidade São Paulo (SP) da Instituição. De autoria da diretora de Ensino da Escola, Maria Helena Monteiro, a pesquisa também tem como autor o economista e consultor, Francisco Galiza.
A diretora-geral da ENS, Paola Casado (à esquerda), e Liliana Caldeira (à direita) com os autores do estudo, Maria Helena Monteiro e Francisco Galiza (ao centro), no evento de lançamento, véspera do Conexão Futuro Seguro 2025
O evento de lançamento está disponível no canal da Escola no YouTube, confira abaixo. Clique nos links acima e baixe gratuitamente o estudo.
CFS 2025: painel abordou atuação moderna do corretor
O segundo painel do Conexão Futuro Seguro 2025 reuniu três professores da Escola de Negócios e Seguros (ENS): Samy Hazan, Ildebrando Neres e Ricardo Villaça. Os docentes exploraram, sob mediação do presidente da ENS, Lucas Vergilio, o tema “Corretor como Protagonista em Soluções e Inovações”.
Da esq. p/ dir.: Ricardo Villaça, Ildebrando Neres, Lucas Vergilio e Samy Hazan / Fotos: Douglas Asarian
Sinergia com finanças
Ao abrir as atividades, Lucas Vergilio questionou a possibilidade de atuação dos corretores de seguros também no setor de investimentos. Para Ildebrando Neres, que é corretor e assessor de investimentos, o planejamento financeiro integra a rotina desses dois profissionais, o que reforça a sinergia entre as atividades.
Segundo Neres, a capacitação é o caminho para ampliar o escopo de atuação, fortalecer o know-how e conquistar a confiança do cliente. “Dominar produtos como Tesouro Direto, fundos de investimento, PGBL e VGBL permite ao corretor agregar valor à sua oferta e se destacar no mercado”, explicou.
O docente ressaltou que certificações específicas, como a de assessor de investimentos da ENS, abrem portas para atuar com produtos regulados pela CVM. “Trata-se de reforçar a estratégia do negócio, blindar a carteira de clientes e desenvolver um networking de alto nível”, concluiu.
Ildebrando Neres
IA como aliada
Outro tema debatido foi o uso da inteligência artificial no dia a dia dos corretores de seguros. De acordo com Ricardo Villaça, no Brasil, o uso da IA ainda é tímido e, muitas vezes, mal direcionado.
“A IA é uma ferramenta, não um fim. Nenhuma tecnologia conhece o cliente como o corretor conhece. O diferencial está na forma como ela é utilizada para potencializar a entrega de valor, oferecendo experiências hiper personalizadas, com as melhores coberturas e indenizações”, explicou.
Para Villaça, é fundamental que corretores e empresas incorporem a IA à estratégia do negócio como aliada para ampliar vendas e qualificar o atendimento.
Ricardo Villaça
Inovação aberta a serviço do cliente
O painel foi concluído com a análise do conceito de inovação aberta e desdobramentos na atuação dos corretores. Especialista no assunto, Samy Hazan defendeu que os corretores precisam acompanhar as transformações tecnológicas e os novos comportamentos de consumo.
Hazan citou a teoria da evolução de Darwin como metáfora para o atual momento do setor. “Não sobrevive o mais forte, mas quem melhor se adapta”. O professor destacou a importância da atuação omnicanal, da presença digital integrada e da busca constante por qualificação. “O corretor deve estar inserido nessa lógica digital, mas sem abrir mão do papel consultivo, ajudando o cliente a prevenir e mitigar riscos com soluções personalizadas”.
Samy Hazan
Ao encerrar, Lucas Vergilio reforçou que a ENS está preparada para apoiar os profissionais nesse processo de transformação. “O corretor que conciliar sua atividade com o uso de tecnologias terá mais tempo e mais recursos para fortalecer o relacionamento com o cliente. Esse é o corretor dos novos tempos, moderno e protagonista”.
Lucas Vergilio
Fonte: ENS, em 16.06.2025.