Carros e motos arrastados pela enchente no RS: o seguro cobre? Como acionar?
Especialistas recomendam comunicar o incidente às seguradoras o mais rápido possível
Carros submersos em um estacionamento inundado em Porto Alegre — Foto: Carlos Fabal
As enchentes no Rio Grande do Sul deixaram centenas de veículos debaixo d’água, e as seguradoras já começaram a registrar alta nos acionamentos no estado.
Porém, nem todas as apólices têm cobertura para inundações e alagamentos. É necessário conferir as cláusulas do contrato para acionar a seguradora e pedir indenização pelas danos.
De acordo com José Varanda, professor da Escola de Negócios e Seguros (ENS), enquanto nos seguros residenciais as coberturas para esses incidentes costumam ser contratadas à parte, a maioria dos seguros de veículos já tem as chamadas convulsões da natureza incluídas nos riscos cobertos.
Há, porém, dois tipos diferentes de coberturas:
Para inundações: cobre enchentes decorrentes de transbordamentos de rios navegáveis, como o Rio São Francisco ou, no caso gaúcho, o Guaíba;
Para alagamentos: cobre enchentes motivadas por chuvas intensas e, muitas vezes, também por transbordamentos de rios.
Mas e no caso da tragédia climática no Sul do país? Em que não há como saber se o carro ou moto teve perda total por causa do transbordamento de algum rio ou do volume das chuvas enfrentadas nos últimos dias? O que vale?
Varanda explica que as seguradoras consideram a causa e não o efeito na hora de decidir se o pagamento é devido. Ou seja, como o transbordamento do Guaíba (espécie de híbrido de rio e lago) foi provocado pelas chuvas incessantes, considera-se que a causa do evento foram as precipitações.
“Se uma chuva muito forte provocou alagamento e a queda de uma barreira em cima de uma casa, por exemplo, a causa foi a chuva forte. O efeito foi a queda da barreira e o derrubamento da casa” exemplifica o professor.
Como acionar o seguro de carro?
A Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) orienta que as vítimas entrem em contato com as seguradoras assim que puderem para comunicar o sinistro. Veja o passo a passo:
- Ligar para a seguradora ou acionar a empresa por aplicativo de mensagens;
- Informar todos os dados do veículo, explicando exatamente o que ocorreu;
- Para retirar o automóvel, basta pedir o reboque pelo telefone ou aplicativo da Assistência 24 horas da seguradora, caso tenha contratado esse serviço;
- É necessário estar no local na hora da remoção do veículo. O funcionário da companhia realiza um checklist, anotando características do carro e as avarias. Esse documento deve ser assinado pelo responsável, o qual também deve apontar o destino final do veículo (oficina ou casa, por exemplo);
- Em alguns casos, a seguradora oferece transporte para o motorista, de táxi ou Uber, ao destino de sua preferência;
- Documentações extras podem ser enviadas posteriormente à companhia;
- Antes do conserto, é necessário que o segurado pague a franquia, que é uma taxa para uso do serviço. Esse valor não costuma ser cobrado quando há perda total.
Quando a seguradora pode negar o pagamento?
Um limbo contratual pode, no entanto, livrar as seguradoras da responsabilidade de arcar com os prejuízos. Caso entenda-se que a catástrofe climática foi provocada por alguma irresponsabilidade do Estado com a população local, as empresas podem se recusar a fazer os pagamentos aos clientes, orientando-os a procurar as autoridades.
Apesar disso, Varanda acredita que as seguradoras devam atender todos os sinistros e amparar os segurados.
Há ainda outra situação que pode isentar as companhias de seguro. Caso o contratante force a passagem em uma rua cheia de água e tenha seu carro danificado, a seguradora pode entender que houve “agravamento de risco”, segundo a FenSeg.
“Não haverá cobertura no caso de agravamento intencional do risco, como uma pessoa força a passagem do veículo numa região alagada, que não possibilitava transitar. Se isso ocorrer, ainda é possível que ocorra o cancelamento do contrato de seguro, conforme condições gerais da apólice de cada seguradora”, comunicou em nota.
Fenacor retoma pesquisa ESECS-PJ após 5 anos
Após um intervalo de cinco anos, a Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor) retomará a pesquisa Estudo Socioeconômico das Empresas Corretoras de Seguros (ESECS-PJ). O novo levantamento abordará temas importantes e terá seus resultados divulgados no 23º Congresso Brasileiro dos Corretores de Seguros, marcado para outubro, no Rio de Janeiro (RJ).
O ESECS-PJ, reconhecido como fonte de referência para pesquisadores, não apenas contribui para a atuação da Federação na defesa dos interesses dos Corretores de Seguros, mas também serve como base para a definição de novas estratégias pelos donos das Corretoras.
De acordo com o presidente da Fenacor, Armando Vergílio, esse estudo oferece uma valiosa contribuição aos corretores de seguros que irão participar da pesquisa, na avaliação da posição no mercado e no planejamento de futuras ações. “Isso é fundamental em um cenário em que a competição está aumentando rapidamente devido à atualização tecnológica e às crescentes expectativas dos consumidores em relação à qualidade, velocidade e eficácia dos serviços oferecidos”, frisa Vergilio.
Por isso, é imprescindível a participação das sociedades corretoras de seguros de todo o Brasil. Assim como nas edições anteriores, a Fenacor manterá as respostas em total sigilo, preservando as informações das empresas participantes. A pesquisa será coordenada pelo experiente consultor Francisco Galiza
CVG-RJ se solidariza com os irmãos do Rio de Grande do Sul
Clube abraça iniciativa articulada pelo Sindseg-RS
O Clube Vida em Grupo do Rio de Janeiro (CVG-RJ) está unindo esforços para minimizar um pouco do sofrimento por que passa a população do Rio Grande do Sul, vítima de uma tragédia climática, assolados pela enchente que atingiu todo estado.
“O Clube está aderindo ao movimento que une as entidades do mercado de seguros para auxiliar as famílias que estão desabrigadas, através de doações que estão sendo concentradas numa conta PIX única, aberta pelo Sindicato das Empresas de Seguros do RS”, fala Edson Calheiros, presidente do CVG-RJ.
Segundo texto do comunicado publicado no site do Sindseg-RS, “o mercado de seguros presta auxílio aos afetados desde o início e, agora, une forças para arrecadar fundos e auxiliar na reconstrução dos lares daqueles que perderam tudo na enchente. Vamos juntos reconstruir o Rio Grande do Sul”.
Calheiros conclama a todos que façam a sua doação. “Qualquer que seja o valor, tenha a certeza que fará a diferença”, enfatiza.
Sua doação pode ser feita através da Chave Pix disponível:
92947241/0001-60 (CNPJ Sindicato das Empresas de Seguros do RS)
Demanda por seguros sobe com as chuvas no RS, e empresas ampliam prazo dos contratos
Seguradoras avaliam estender atendimento a quem não tem cobertura de enchentes e alagamentos
Casas destruídas pelas enchentes na cidade de Roca Sales, no Rio Grande do Sul — Foto: Gustavo Ghisleni/AFP
As piores chuvas já registradas no Rio Grande do Sul deixaram mais de 330 cidades do estado praticamente irreconhecíveis. Casas, empresas, locadoras de veículos e até os estádios de Internacional e Grêmio e o Aeroporto Internacional de Porto Alegre estão debaixo d’agua. Diante da situação de calamidade pública, a demanda sobre as seguradoras está aumentando no território gaúcho, e algumas já estão adotando a flexibilização de regras para amparar a população local.
Agentes do setor e especialistas explicam que a cobertura de danos patrimoniais (de residências, veículos ou estabelecimentos comerciais) provocados por desastres naturais ou climáticas, como as chuvas no Rio Grande do Sul, depende de esse risco estar previsto nas apólices escolhidas pelos segurados.
A Confederação Nacional de Seguros (CNSeg) informou que orientou as associadas a prorrogarem os contratos de seguros com vencimentos entre 1º e 10 de maio de todos os segmentos.
A expansão do prazo também foi recomendada a boletos emitidos com vencimento neste período, sem prejuízo do atendimento da cobertura. Mapfre, Capemisa, Bradesco, Caixa Seguridade, Allianz, Unimed, Prudential, Tokio Marine, Zurich e Porto Seguro acataram, estendendo os contratos por dez dias.
Os temporais, que começaram em 27 de abril, já afetam mais de 1,3 milhão de pessoas em território gaúcho, de acordo com o último boletim da Defesa Civil. Até ontem, havia 90 mortos, 132 desaparecidos e 361 pessoas feridas nas estatísticas oficiais.
Voluntários formam corredor humano para receber barcos com pessoas resgatadas de áreas alagadas no bairro de São João, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foto: Anselmo CUNHA AFP
Vista aérea de ruas inundadas durante operações de resgate no bairro de São João, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foto: Florian PLAUCHEUR AFP
Uma mulher é transportada para um centro médico após ser resgatada no bairro Sarandi, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foto: Anselmo Cunha AFP
Para o professor de direito civil do Ibmec RJ, João Quinelato, esse evento atípico deve ter impacto significativo nos negócios das seguradoras, assim como ocorreu na pandemia.
Na época, houve uma discussão sobre se os seguros de vida deveriam atender ou não aos sinistros de Covid, já que a doença ou uma pandemia não estavam previstos nas apólices. A maior parte das seguradoras acabou concedendo as indenizações em caso de morte por Covid antes mesmo de decisões judiciais.
Agora, porém, Quinelato avalia que a insegurança jurídica é menor. Ele explica que têm direito a atendimento segurados cujos contratos incluem coberturas para enchentes e alagamentos. É comum que os corretores de seguros ofereçam essa opção no caso de seguros residenciais ou de veículos, deixando claro o alcance da cobertura.
“Na pandemia, os tribunais decidiram que a cobertura era devida porque quem contrata seguro contrata tranquilidade. Devia-se privilegiar a tutela de confiança. A discussão agora, nessa tragédia do Sul, é se todos os tipos de seguro de danos contemplam ou não a cobertura para esse tipo de evento, de calamidade pública. A princípio, deve-se confirmar na apólice se há cobertura para enchentes e alagamentos”, orienta.
Caixa Seguridade avalia exceção
De acordo com Felipe Montenegro Mattos, presidente do Caixa Seguridade, a maioria dos segurados não possui cobertura para enchentes e alagamentos. Por isso, a subsidiária de seguros da Caixa avalia abrir uma exceção para atender clientes do Rio Grande do Sul.
Enquanto um estudo de viabilidade da ampliação da cobertura é feito, a Caixa Seguridade se comprometeu a pagar indenizações de até R$ 10 mil do seu seguro residencial em até três dias úteis e priorizou os serviços de assistência na região, como cobertura provisória de telhados, chaveiro, eletricista, hidráulica, vidraceiro, desentupimento, auxílio funeral, cartão alimentação por falecimento, linha marrom, linha branca, orientações veterinárias por telefone e assistência pet para cães e gatos.
“A gente entende que, desde a Covid-19, esse é o evento de maior porte que a gente está enfrentando. Supera de longe as duas crises que tivemos no ano passado no Sul do país”, estima.
Guimarães observa que não houve ainda aumento significativo nos acionamentos porque “as pessoas estão tentando sobreviver”. “Acreditamos que o mais importante agora é acolher essa população. Estamos destinando 1% das vendas para ONGs do Rio Grande do Sul. Também estamos estudando eventuais pausas nos pagamentos e extensões nas apólices”, acrescenta.
A Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) tenta estimar a proporção do dano no Sul do país. A entidade também não tem estimativa de que parcela dos seguros na região cobrem os danos neste tipo de fenômeno climático. Só deve ser dados mais precisos na sexta-feira, já que a maioria dos acionamentos de sinistro começou a ocorrer na última segunda-feira.
A Tokio Marine informou que, até agora, já foi acionada por 545 segurados, que têm apólices para automóvel e patrimonial, em cidades do Rio Grande do Sul afetadas pelas chuvas. A seguradora pretende enviar especialistas de São Paulo ao estado para auxiliar o trabalho das equipes locais e fazer avaliações de perdas de carros e avarias em casas e estabelecimentos comerciais com seguro contratado.
Já o Icatu resolveu manter todas as coberturas desegurados das regiões afetadas por até 30 dias após a data de cancelamento, mesmo em caso de inadimplência. Também disponibilizou uma estrutura com atendimento 24 horas para acelerar os acionamentos das coberturas.
Aumento de chamados por eventos extremos
A Bradesco Seguros registrou mais de 450 chamados emergenciais e estima que os prejuízos aos clientes somem mais de R$ 100 milhões. Carlos Oliva, superintendente executivo de Operações, acredita que essa poderá ser uma das maiores operações realizadas pela companhia na região. No ano passado, foram registradas 8 operações emergenciais devido a fenômenos naturais extremos contra apenas uma em 2022.
“O crescimento foi de mais de 377% nos chamados no ano passado, com 1,3 mil avisos em 2022 e cerca de 6,2 mil em 2023. Em termos de indenizações, 2023 registrou um aumento de 435%, passando de R$ 6,7 milhões em 2022 para quase R$ 30 milhões em 2023”, conta.
A seguradora ainda reforçou o contingente interno para dar suporte ao aumento na demanda e agilizar o processo de indenização. O mesmo foi feito pela Allianz Seguros, que investiu nas suas equipes de assistência 24h, e pela Porto Seguro.
Apoio ao resgate de vítimas
A Porto também enviou sua frota de veículos especiais para ajudar nos resgates, incluindo uma moto aquática, dois Marruás, um Unimog, uma picape lança e um guincho pesado, além de 10 socorristas da PortoServiço especializados em situações graves de alagamentos.
A Zurich ativou o Fundo de Catástrofe da seguradora para apoiar ações de assistência emergencial para a população diretamente afetada, colocou os guinchos de prontidão para atendimento dos segurados e apoio no deslocamento de pessoas em situações de risco, além de ter aumentado a capacidade dos canais de atendimento para dar agilidade aos acionamentos.
A Mapfre flexibilizou algumas regras de reembolso com pagamento integral de acordo com a nota fiscal emitida, a fim de oferecer “uma solução rápida para as necessidades dos segurados”, aponta o diretor de operações Roberto de Antoni.
Em adição, a instituição sem fins lucrativos do grupo segurador destinou R$ 1,1 milhão em itens essenciais às vítimas, como mantimentos, água potável, colchões, cobertores, kits de cama, mesa e banho, e produtos de higiene pessoal.
A BB Seguros disse que prorrogou os prazos solicitados, reforçou e priorizou a esteira de assistências e sinistros, além de ter simplificado o processo de análise de abertura de sinistro. Ainda “ampliou os valores dos serviços de limpeza, cobertura de telhados e desentupimento previstos nas apólices dos seguros Residencial e Empresarial e enviou reguladores e peritos para as regiões atingidas, com possibilidade de realizar a vistoria presencial ou de forma remota”.
Fonte: ENS, em 09.05.2024.