Mais de 1,3 mil médicos participam do 1º Treinamento de IA em Medicina do Cremesp
Evento histórico de IA
Mais de 1,3 mil médicos participam do 1º Treinamento de IA em Medicina do Cremesp
Estudem pelo menos 30 minutos por dia, busquem as Inteligências Artificiais (IA’s) do seu interesse e pratiquem todos os dias. Estas foram algumas das principais mensagens fornecidas aos cerca de 1,3 mil médicos que participaram do 1º Treinamento de Inteligência Artificial em Medicina do Cremesp, evento inédito na área médica do Brasil. Realizado em 16 de agosto, na capital paulista, o encontro contou com diversos especialistas no assunto, que abordaram o tema sob vários ângulos e promoveram um treinamento interativo por meio dos respectivos celulares dos participantes, com acesso por QR Code.
Ao abrir o evento, o presidente do Cremesp, Angelo Vattimo, enfatizou que a autarquia “tem tentado modificar alguns paradigmas, aproximando-se dos médicos e de suas necessidades cotidianas”. Segundo ele, a atual gestão do Conselho tem percebido a vontade dos profissionais da área médica de melhorar sua capacidade resolutiva. “Nossa profissão não vai acabar, pois, como disse Hipócrates, ‘a vida é breve, mas a Medicina é longa’. Estamos longe de sermos dominados pelas IA’s, porém, o médico que não utilizar as tecnologias disponíveis será substituído.
Por isso, teremos de incorporá-las, como já incorporamos tantas outras que não existiam há algumas décadas, como a ressonância magnética etc. Contudo, agora estamos em um momento disruptivo, não só para a Medicina, mas para a sociedade como um todo”, assegurou Vattimo. Compondo a mesa também a Vice-Corregedora Flavia Bassanezi, uma das responsáveis pela iniciativa, comentou que “o treinamento é extremamente necessário e não será o único. Levaremos este aprendizado aos médicos de da Capital e Interior, esse é o nosso compromisso com o médico do nosso Estado”.
Medicina 4.0: desvendando a Inteligência Artificial
Citando o escritor de origem austríaca, Peter Drucker, considerado pai da administração moderna, o também professor, assessor especialista em IA do Cremesp, Augusto Salomon, começou a primeira palestra do dia – Medicina 4.0: desvendando a Inteligência Artificial – salientando que “a única habilidade que será importante no século 21 é a de aprender novas habilidades. Tudo o mais se tornará obsoleto ao longo do tempo”.
Salomon explanou em detalhes o conceito, a evolução e a revolução que as IA’s estão provocando no mundo e falou sobre as plataformas mais utilizadas, como o GPT, DeepSeek e Gemmini, e também sobre as IA’s específicas para a Medicina, como, por exemplo, a Mirai (detecta câncer de mama cinco anos antes de ele aparecer); a qER.ai (lê tomografia e colore qualquer mancha de sangramento); óculos de realidade aumentada; ShockMatrix (para decisão hemostática); XGBoost (prevê a necessidade de transfusão maciça); e o SRT-H (robô que executa cirurgias autonomamente).
Além disso, informou que a melhor forma de fazer perguntas (prompts) às IA’s inclui quatro passos: definir o ator (o papel que a IA deve assumir – por exemplo, um médico), fornecer o contexto (situação ou cenário relevante), fazer o pedido (o que se deseja obter) e solicitar que a IA faça perguntas esclarecedoras para entender o assunto antes de responder. Abordou, ainda, inúmeras outras possibilidades proporcionadas pelas diferentes plataformas de IA.
Regulamentação da IA na Medicina – modelo europeu
O tema Regulamentação da IA na Medicina – modelo europeu foi apresentado por videoconferência pela professora e chefe de Saúde Digital Global e Assuntos Internacionais dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), de Portugal, Cátia Sousa Pinto. Após comentar os impactos da IA na sociedade, deu uma visão geral sobre as políticas de integração da IA na saúde pública que estão sendo adotadas pelos países europeus.
Outro ponto importante foi a apresentação da estratégia europeia para a governança de dados, considerada a mais abrangente e profunda do mundo, cujos principais pilares são: facilitação de troca de dados, desenvolvimento de espaços comuns de dados, controle sobre os próprios dados e inovação e competição. Segundo a professora, o regulamento da IA (AI Act) europeu traz uma abordagem baseada em quatro tipos de risco: inaceitável, elevado, limitado e mínimo. Sousa Pinto esclareceu ainda inúmeros outros subtemas a respeito do assunto.
IA aplicada à saúde: desafios, possibilidades e soluções
A palestra e aula prática IA aplicada à saúde: desafios, possibilidades e soluções foi apresentada por Aydamari Faria Júnior, biomédico, doutor em Fisiologia e professor da Universidade Fluminense de Volta Redonda (RJ), que atuou como pesquisador nas áreas de Neurociência Cognitiva e Psicofisiologia. Ele explanou os conceitos de origem da IA, sua arquitetura e etapas de evolução, que resultaram nos modelos atuais. As etapas de produção das IAs compreendem três fases: 1) pré-treinamento, alimentado por bilhões de dados e parâmetros; 2) treinamento e pós-treinamento, que representam o ajuste do modelo de base; e 3) especialização para tarefas.
O professor falou sobre a diferença e desafios da IAs, comparados com o Google. “O Google não falava com pacientes, ele apontava para sites, que eventualmente traziam informação”, lembrou. “Agora é um outro tipo de desafio, o GPT fala com o paciente”, completou. Ele também explicou as funções de alguns modelos de IA especializados em dados e atividades médicas disponíveis atualmente.
A experiência do Inlab em projetos de IA
professor doutor Marcio Biczyk do Amaral, diretor técnico do Inlab – Laboratório de Inteligência Artificial do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-Fmusp) fez uma apresentação sobre o centro de pesquisa que dirige.
O Inlab foi inspirado em um projeto homônimo da Universidade de Stanford, que conta com cerca de 50 projetos desenvolvidos ou em andamento desde sua criação há cinco anos. “A IA é mais uma tecnologia e a Medicina está muito acostumada com tecnologias, como o estetoscópio, o ultrassom, o raio X e o computador”, destacou o professor. De acordo com ele a IA já tem mais de 70 anos e que suas ferramentas já são utilizadas em Medicina há tempos.
O professor falou sobre as áreas de atuação do Inlab, elencou os projetos desenvolvidos, apontando os parceiros da iniciativa privada que incluem empresas de tecnologia como Google e Amazon, entre outras. Dentre os projetos do Inlab, citou softwares para diagnósticos e uma espécie de chat GPT próprio, específico para área de saúde.
Uso da IA na Gestão de Pessoas
O farmacêutico bioquímico, sócio proprietário do Laboratório Fleming Saúde de Jundiaí (SP), Marcelo Menino, fez uma apresentação sobre a utilização de ferramentas de IA para a gestão de pessoas, que desenvolveu para sua empresa, baseada em análise de características e comportamentos individuais.
Momento IA Todo Dia
O tenente-coronel do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, criador e apresentador do podcast IA Todo Dia, Diego Sommer, fez três intervenções curtas ao longo do evento, abordando a utilização de IA no cotidiano, com dicas e recomendações. Segundo ele, os usuários que performam pior tratam a IA como uma ferramenta passiva, enquanto os que performam melhor tratam a IA como um colega de equipe ativo.
Acrescentou – citando pesquisa da Universidade Stanford – que, embora a IA aumente a velocidade do trabalho em 25%, a produtividade em 12% e a qualidade em 40%, menos de 10% dos profissionais estão realmente colhendo ganhos significativos com a colaboração dessa tecnologia, o que demonstra a necessidade de estudar o tema para usar as plataformas da melhor forma.
Encerramento
No encerramento do evento, o presidente do Cremesp, Angelo Vattimo, agradeceu a grande participação dos médicos e reafirmou o compromisso de aproximar o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo das médicas e médicos do Estado, e que num evento de IA apoteótico em aprendizado como este, o real beneficiado foram os médicos presentes, suas equipes e seus pacientes, e informou que, dado o sucesso do treinamento de IA em Medicina, o Cremesp irá desenvolver o próximo evento sobre o tema ainda em 2025 no interior de São Paulo.
Foto: Osmar Bustos e Marina Bustos
Documento reforça autonomia profissional e impedimentos para interferência no exercício da Medicina por não médicos
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) publicou, no mês de agosto, a Circular nº 3/2025, com diretrizes referentes à autonomia do médico e à impossibilidade de interferência no exercício da profissão por não médicos. A autonomia é um princípio fundamental que rege a prática médica, garantida em leis, normativas deontológicas e pelo Código de Ética Médica (CEM) em seu item VII, do Capítulo I, de Princípios Fundamentais: “o médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente”.
O documento destaca que “a lógica subjacente ao conceito de autonomia profissional é a de que o médico não deve ser constrangido ou influenciado por pressões alheias à ciência, à ética e ao bem-estar do paciente”, sejam de ordem econômica, administrativa, mercadológica ou institucional.
A essência da autonomia médica está em permitir que o profissional, baseado na sua formação, experiência e conhecimento científico, possa indicar o que considera mais adequado ao caso. Qualquer interferência externa configura violação da liberdade de julgamento profissional. O artigo 2° do Capítulo II do CEM, que trata da Responsabilidade Profissional, veda ao médico “delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivas da profissão médica”, reiterando que a prescrição e função do profissional devem ser respeitada.
Médico Chefiado por Não Médico
A nova circular reitera que a autonomia do médico deve ser preservada, mesmo em estruturas hierárquicas. Todo estabelecimento de atenção médica, público ou privado, está obrigado legalmente a contar com um diretor técnico habilitado para o exercício da Medicina. Cargos ou funções de chefia de serviços médicos somente podem ser exercidos por médicos habilitados. O médico, enquanto profissional autônomo e responsável pela assistência clínica, não pode ser subordinado a profissionais não médicos na sua atividade de prescrição e decisão clínica. Qualquer orientação ou determinação administrativa emitida por gestores não médicos não pode interferir, condicionar ou limitar a conduta médica tecnicamente adequada e respaldada pelas boas práticas médicas. A preservação dessa autonomia contribui diretamente para a qualidade da assistência prestada, a segurança dos pacientes e a harmonia institucional.
A autonomia do médico é um direito inalienável que deve ser respeitado tanto por outros profissionais da saúde quanto por gestores de instituições. A prescrição médica é um ato técnico que deve ser realizado com base no conhecimento e na responsabilidade do médico, assegurando a qualidade do atendimento prestado e a CDPM tem um grupo sistêmico que envolve diversas seções profissionais do Cremesp que, unidas atuam para que as atividades e respostas ao médico jurisdicionado sejam em menos de 24 horas.
Acesse aqui a integra do documento
O presidente do Cremesp, Angelo Vattimo, coordenador da Comissão de Defesa das Prerrogativas Médicas – CDPM reafirmou o compromisso de o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo atuar verdadeiramente em campo, com resultados que excedem as divulgações, especialmente em relação às indivisíveis prerrogativas das médicas e médicos do Estado.
Fonte: Cremesp, em 19.08.2025