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Notícias Anbima, em 16.08.2023

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ANBIMA Summit: Mercado de capitais vive momento de virada com queda da Selic e se prepara para dobrar número de CPFs na bolsa

Mais de 1.400 pessoas acompanharam a abertura do evento na manhã desta quarta-feira, dia 16

O otimismo parece ir voltando aos poucos ao mercado financeiro, especialmente diante da expectativa de novos cortes na taxa básica de juros. Pelo menos esse foi o clima transmitido durante as palestras promovidas na abertura do ANBIMA Summit, nesta quarta-feira (16), em São Paulo, que contou com mais de 1.150 pessoas presencialmente, além de outros 260 participantes conectados na transmissão simultânea pelo site do evento.

Carlos André (foto), nosso presidente e vice-presidente executivo de Wealth Management do Santander, conversou com a jornalista Thais Herédia sobre o atual contexto da indústria de investimentos e ressaltou que perspectivas melhores estão no radar dos agentes do mercado.

Segundo ele, a alta dos juros e da inflação, além da mudança de governo, estiveram entre os responsáveis pela volatilidade experimentada pelo mercado financeiro nos últimos meses. Esse ambiente resultou, também, numa concentração de recursos na renda fixa, que pode mudar daqui para a frente.

"A boa notícia é que estamos exatamente nesse momento de reversão", disse Carlos André. O principal indutor para essa mudança, afirmou, é o atual movimento de ajuste da política monetária.

Nosso presidente aproveitou também para ressaltar a resiliência do mercado de capitais brasileiro, assombrado ainda nos primeiros dias de 2023 pela crise de crédito que contaminou o humor dos investidores.

"Conseguimos passar pelo momento de turbulência de forma madura, foi uma prova de fogo em que o mercado reagiu muito bem", afirmou, enfatizando um aprendizado essencial para toda a indústria.

Com os olhos no futuro, Carlos André ainda comentou as mudanças tecnológicas que afetam o mercado financeiro, assim como os avanços na distribuição de produtos e na educação financeira.

"Superamos a centralidade do cliente e hoje olhamos para a centralidade da experiência de vida do cliente, porque investimento não é produto, é serviço e solução”, concluiu.

Transformação na indústria de investimentos

O mundo dos investimentos está passando por uma revolução. Enquanto o novo marco regulatório das ofertas públicas deve simplificar processos e aumentar a agilidade na emissão de papéis, os fundos de investimento estão prestes a viver uma virada estrutural, que será provocada pela entrada em vigor da Resolução CVM 175 em outubro. Junto com este cenário estão os desafios trazidos pelas novas tecnologias, players e modelos de negócios, assim como a urgência da pauta ESG (que considera aspectos ambientais, sociais e de governança) no mercado.

“A indústria experimenta uma série de desafios que se apresentam dia após dia com o uso blockchain, tokenização e inteligência artificial. Isso tudo têm potencial para transformar a nosso mercado totalmente”, disse Zeca Doherty (foto), nosso diretor-executivo, na abertura do evento. “Temas como sustentabilidade e ativos verdes também estão na nossa agenda. Quem acha que não precisa olhar para isso corre o risco de perder o bonde da história”, complementou.

Potencial de 10 milhões de investidores

Hoje, a bolsa brasileira conta com aproximadamente 5 milhões de pessoas físicas cadastradas em seu sistema, uma meta atingida no início deste ano. Mas, de acordo com João Pedro Nascimento, presidente da CVM, esse número pode dobrar e chegar a 10 milhões de investidores.

"O Brasil tem capacidade para ter pelo menos 5% da população no mercado de capitais", disse, durante o ANBIMA Summit.

Uma das iniciativas da autarquia para que esse número seja atingido é o lançamento do Open Capital Markets, que Nascimento classifica como "a continuidade do open banking", com uma evolução para o open finance.

O objetivo da novidade é simplificar a jornada dos investidores, permitindo, por exemplo, a maior portabilidade de investimentos. Tal ferramenta busca democratizar o acesso ao mercado, principalmente no varejo, em um movimento de vanguarda.

"Isso torna o mercado ainda mais atraente", defende o dirigente da CVM, que classificou a inovação como um futuro "Pix do mercado financeiro".

Faria Lima não é vilã

A doutora em Planejamento Energético Izabella Teixeira (foto), que foi ministra do Meio Ambiente entre 2010 e 2016, arrancou aplausos da plateia ao defender o protagonismo das entidades do mercado financeiro na defesa do meio ambiente.

"Seria interessante lançar a Faria Lima de baixo carbono, sair do imaginário de que a Faria Lima é um vilão, deixar isso para trás", afirmou.

Para a ex-ministra, a agenda ambiental não compete e não é de interesse somente de ambientalistas ou formuladores de políticas públicas, e cobrou maior participação geral no debate.

Teixeira atentou para o fato de que as mudanças climáticas já se colocam como um desafio hoje, e não como um risco apenas para um futuro distante. Citou, ainda, as questões envolvendo a transição energética no Brasil, um país que desfruta da rara capacidade de não ter a geração de energia como um grande problema.

"Não há recursos disponíveis no mundo para financiar a questão climática se você não sabe o que quer. O Brasil é um país com singularidades e falar sobre o futuro energético é pensar como queremos estar melhor no futuro", defendeu.

Entre as preocupações de Izabella estão a transição industrial, uma mineração mais competitiva e uma agricultura sem desmatamento, pontos tidos como fundamentais na discussão das novas economias verdes.

A pesquisadora ainda brincou com o termo "greenwashing" — a prática de mentir ou omitir informações sobre os impactos verdadeiros das práticas de uma organização no meio ambiente — para fazer um alerta: "não há greenwishing", uma alusão ao costume de desejarmos grandes mudanças que visam preservar o meio ambiente, mas com pouca ou nenhuma ação de curto prazo para que isso aconteça.

Sobre o ANBIMA Summit

Maior encontro dos mercados financeiro e de capitais do Brasil, o ANBIMA Summit 2023 evento que acontece nos dias 16 e 17 de agosto na Oca do Ibirapuera, em São Paulo. A conferência reúne discussões sobre o futuro da indústria de investimentos, as transformações trazidas pela inteligência artificial, o avanço da tokenização, as mudanças no comportamento do investidor e muito outros assuntos. Acompanhe a programação em tempo real no site anbimasummit.com.br.


ANBIMA Summit: Inteligência artificial deve apoiar o mercado financeiro, mas não substitui a decisão humana

Especialistas apontam possibilidades de uso, riscos e a necessidade de regulamentação para adoção da IA

A indústria financeira passa por um momento crucial de definição sobre o modelo de uso das novas ferramentas de IA (inteligência artificial) no mercado financeiro, o que coloca algumas perguntas a empresas e profissionais do setor: a IA vai substituir os gestores de recursos? Quais riscos trazem para o sistema financeiro? Para os especialistas do ANBIMA Summit nesta quarta-feira, dia 16, é preciso ser cuidadoso e fazer avaliações criteriosas antes de tomar qualquer decisão que envolva essa tecnologia.

"Há várias empresas que vendem sistemas com esse tipo de autonomia de investimentos, o que eu sempre sugiro é testar", disse Clara Durodié, estrategista de tecnologia especializada em governança de inteligência artificial, fintechs e transformação digital.

Segundo ela, pesquisadores ainda não conseguiram atestar se esses sistemas de fato funcionam, mas indicam que, para isso, precisam de dois pré-requisitos: primeiro, ter muitos dados e de qualidade para evitar vieses; segundo, ter um humano para avaliar essas decisões. "Minha experiência de muitos anos diz que a inteligência artificial não vai substituir o gestor, não acho que vamos chegar nesse nível de autonomia", afirmou.

Dados, por si só, não são suficientes para tomar decisões, porque eles não entendem nada sobre valores, emoções e objetivos, defendeu Gerd Leonhard, palestrante, autor best-seller e futurista focado em pessoas, planeta, propósito e prosperidade. "É perigoso porque a máquina tem uma versão muito simplificada da realidade. Mas é muito boa para coisas mais práticas. Para transformar informações em conteúdo, é uma ferramenta poderosa", avaliou. Ele defende que a inteligência artificial seja usada como ferramenta, mas não seja a responsável pela decisão final nos negócios.

Riscos

Sobre os riscos que a inteligência artificial pode representar para o sistema financeiro, Durodié citou um caso que aconteceu há três meses nos Estados Unidos. Uma imagem do Pentágono em chamas foi criada por um sistema de IA e postada no Twitter. Usuários da rede circularam a imagem gerando pânico, como se o prédio estivesse sendo bombardeado e fazendo relação com os ataques terroristas de 11 de setembro. Algoritmos, que avaliam dados de redes sociais para tomar decisões de compra e venda no mercado financeiro, captaram o sentimento negativo e dispararam ordens de vendas de ações.

"Isso foi grave, alguém ganhou muito dinheiro com isso, não sabemos quem. A forma como algoritmos de IA generativa batalham com algoritmos de trading é manipulação de mercado, é ilegal em todos os países que conheço", explicou Durodié.

Ana Teresa Contier, pesquisadora na área de neurociência cognitiva e afetiva, avalia que não se pode deixar que o medo e a insegurança sobre as possibilidades da IA nos paralisem. "Tem muito mito, cenário distópico. IA tem que servir como uma mão a mais nas atividades humanas", afirmou.

Ela defende um sistema que chamou de CDE para lidar com a inteligência artificial. “C” de conhecimento, como base fundamental para eliminar o medo. "Só a partir do conhecimento é possível entender IA e seus vieses", disse Contier. “D” de diversidade de pessoas, dados e empresas que criam a IA. Por fim, “E” de ética, como forma de escolher quais sistemas de IA apoiar ou não.

Regulamentação

Neste cenário, uma pergunta comum é: a inteligência artificial é mocinha ou vilã da indústria de investimentos? O que os especialistas indicam é que a regulamentação de seu uso será decisiva para responder a essa pergunta.

"Se não houver regulamentação, teremos problemas, vai ser um salve-se quem puder. A boa notícia é que os governos entenderam que precisamos disso para o uso seguro", disse a estrategista de tecnologia. Ela citou o exemplo do Reino Unido, que está muito preocupado na regulamentação de IA, mas ainda assim tem leis que permitem o acesso livre e desregulado à mineração de dados. "Isso diz muito sobre a direção que estamos tomando do ponto de vista regulatório", afirmou.

Sobre o ANBIMA Summit

Maior encontro dos mercados financeiro e de capitais do Brasil, o ANBIMA Summit 2023 evento que acontece nos dias 16 e 17 de agosto na Oca do Ibirapuera, em São Paulo. A conferência reúne discussões sobre o futuro da indústria de investimentos, as transformações trazidas pela inteligência artificial, o avanço da tokenização, as mudanças no comportamento do investidor e muito outros assuntos. Acompanhe a programação em tempo real no site anbimasummit.com.br.

Fonte: Anbima, em 16.08.2023.