“O trauma é a principal causa de morte e incapacidade no mundo”, Dra. Bárbara Estevam, do HC FMUSP
A mesa redonda de Medicina de Emergência reuniu especialistas para discutir temas cruciais no atendimento de urgência e trauma. A programação contou com três palestras que abordaram o papel do emergencista no atendimento inicial ao politraumatizado, os princípios de gestão na emergência para não gestores e as inovações no atendimento pré-hospitalar.
O evento ofereceu uma visão abrangente e atualizada dos desafios e avanços do setor, com o objetivo de aprimorar a capacitação dos profissionais da área.
O painel foi coordenado pela Dra. Maria Camila Lunardi, Assistente do Departamento de Emergência do Hospital das Clínicas da FMUSP, Assistente da UTIDMED do HSP e Docente de Medicina de Emergência da FASM. Ao seu lado na coordenação esteve Expedido Barbosa, da Comissão Nacional do Médico Jovem (CNMJ) da AMB.
Papel do emergencista no atendimento inicial ao politraumatizado
“O emergencista é o médico que atende a quem precisa de ajuda nos momentos mais difíceis. O trauma é a principal causa de morte e incapacidade no mundo e afeta principalmente homens jovens em áreas periféricas, gerando diversos impactos sociais e danos emocionais irreversíveis para suas famílias e comunidades”, afirmou a Dra. Bárbara Estevam, Médica Emergencista e Preceptora da Gestão Assistencial Corporativa do Hospital das Clínicas da FMUSP, ao iniciar sua aula.
A especialista ressaltou que o trabalho dela e de seus colegas de especialidade é um desafio multissistêmico, que pode resultar em morte ou incapacidade do paciente, exigindo uma abordagem holística e coordenada: “É como um relógio em que as engrenagens não estão funcionando adequadamente. É preciso saber qual engrenagem precisa de cuidado para que ele volte a funcionar corretamente.”
Ela também destacou a importância do protocolo “XABCDE”, que segue uma sequência de tratamento de emergência: controle de hemorragia (X), via aérea e estabilização cervical (A), respiração (B), circulação (C), avaliação de disfunções neurológicas (D) e exposição (E). “Não seguir essa ordem é como encher um balde furado, você não vai conseguir resolver o problema”, comparou.
Gestão na emergência para não gestores
O responsável por falar sobre os princípios da gestão na emergência para não gestores foi o Dr. Rodrigo Matheus Santos Alves, Médico Assistente do Time de Resposta Rápida do HC FMUSP e Médico Coordenador (Grupo Humanitar) do Pronto-Socorro Adulto do Hospital Santa Helena – Santo André da Amil.
“Muitas vezes, quando falamos em gestão, falamos sobre custos, e este é o primeiro princípio que trago a vocês, garantindo que todas essas diretrizes focam na segurança dos pacientes e não em economia”, alertou o especialista ao iniciar sua apresentação, que abordou três pilares fundamentais para a qualidade e percepção de valor em um departamento de emergência: treinamento, eficiência e a combinação de trabalho em equipe e liderança.
Princípios e inovações no pré-hospitalar
Lucas Certain de Andrade, Professor no curso de Medicina da Universidade São Francisco e Médico Intervencionista do SAMU 192 das bases de Atibaia e Bragança (SP), destacou, como protagonista de sua aula, a valorização da importância da inovação e da tecnologia no atendimento pré-hospitalar. Exemplificou com alguns cases internacionais com soluções que ainda não são realidade no Brasil ou são vistas em poucos lugares.
CMG 2025: “Entre 2020 e 2024 houve crescimento de 30% em ações contra médicos em início de carreira”, destacou a advogada Juliana Hasse em debate sobre ‘Medicina nas Redes Sociais’
‘Medicina nas Redes Sociais’. Um tema atual, que tem preocupado instituições médicas e gerado o aumento da judicialização no segmento. Esse assunto foi discutido durante o Painel da Associação Médica Brasileira (AMB), realizado na tarde desta quinta-feira (24), no CMG 2025.
O debate foi coordenado pelo Dr. Antonio Carlos Endrigo, presidente da Comissão de Saúde Digital da AMB, e pelo Dr. Guilherme Marques, membro da Comissão Nacional de Médicos Jovens -CNMJ / AMB.
Juliana Hasse, advogada especialista em Direito Médico destacou em sua participação no painel o crescimento da judicialização na medicina, com o surgimento de 34 mil processos somente no ano de 2024 contra médicos. “Entre 2020 a 2024 houve aumento de mais de 30% nas ações contra médicos em início de carreira. No STJ, o crescimento de processos contra médicos foi de 1.600% no período de 10 anos”.
A advogada também falou sobre os principais motivadores de ações judiciais contra os profissionais da área médica, como o desgaste na relação médico paciente, expectativas distorcidas da realidade e negligência informacional, que é quando o médico deixa de prestar alguma informação necessária ou obrigatória ao seu paciente.
As especialidades que apresentam maior número de processos são: Clínica Geral, seguida de Ginecologia e Obstetrícia, e Cirurgia Plástica. “Desde 2020, o índice de condenação é de 60% dos casos. A ausência de provas é a maior fragilidade nos processos”, completa Juliana.
Durante sua apresentação, o Dr. Walter Myamoto, que hoje tem uma rede de clínicas especializada em Saúde Digestiva, falou sobre sua ascensão nas redes socias, que aconteceu de forma gradativa, por meio de cursos relacionados à comunicação e marketing, e aprimoramento da prática.
“A comunicação precisa chegar no nosso paciente. E sempre se pautem na medicina baseada em evidências. Você comunica o que você é, não o que você fala. Transparência e conhecimento são fundamentais”, pontuou Myamoto.
“Sem dados você é apenas uma pessoa com mais uma opinião”
A mesa redonda “Residência médica: como chegamos aqui” começou com uma afirmação: – “A primeira crítica é que precisamos urgentemente de dados robustos e confiáveis na residência médica”, afirma Dr. Fernando Sabia Tallo em sua apresentação sobre “A situação da residência médica no Brasil. Onde estamos? Para onde iremos?”.
Segundo ele, até 2031 teremos 50 mil concluintes de residência médica. Dos 37 mil egressos, há 19.500 concluintes no Brasil. Há 464 UPAS no Brasil, ou seja, são poucas vagas para os recém-formados que, muitas vezes, precisam pagar os cursos que foram financiados.
Outra questão é que uma vez aprovado, você já se torna especialista sem precisar fazer prova. Ele ainda diz: – “o que faremos com tantos médicos generalistas? Há uma saturação do mercado, é preciso uma reconstrução com planejamento e qualidade”.
Já a Professora Dra. Ana Maria Zuccaro ao abordar “Novos Tempos e Desafios da Medicina do Brasil” mostrou a realidade em que há diagnósticos graves, como infarto, sendo tratados como problema gástrico por um médico generalista.
“Casos neurocirúrgicos: o segundo trauma muitas vezes é negligenciado”
Na mesa redonda de Neurocirurgia, Dr. Rodolfo Casimiro Reis apresentou a hidrocefalia, uma doença descoberta em Bogotá em 1957 e publicada em 1964, que tem 15% dos pacientes apresentando fluxo normal sanguíneo, o que a torna como fisiopatologia complexa e multifatorial. “Muitas vezes neurologistas e neuropediatras não observam diminuição do ventrículo”, explica.
“As investigações precisam ser com ressonâncias”, diz. “Há também a retirada de líquor com avaliações fisioterápicas e neuropsicológicas antes e depois dos testes”, diz o médico, mas há casos onde há dúvidas diagnósticas quando o tap test dá negativo. Para estes casos, o indicado é repetir a avaliação em dois meses, além de outros exames.
Segundo Dr. Wellington Paiva, que apresentou “Protocolos atuais e novas tecnologias no gerenciamento do traumatismo crânio-encefálico”, sessenta e nove milhões de traumatismos cranianos por ano no mundo, sendo a grande maioria em jovens.
Para ele, há casos de quedas em esportes, quando a pessoa bate a cabeça, têm proporcionado o aumento dos testes para avaliar os fatores de risco da incidência, se há suspeita ou presença de concussão. “É preciso deixar o paciente por uma semana sem prática esportiva para acompanhar se vai haver a concussão. E este protocolo muda para homens e mulheres”, explica. “Além disso, a tomografia deve ser realizada o quanto antes”.
Conforme disse Dr. Nilton Alves Lara Jr. Em sua palestra “Dor Crônica: fisiopatologia e tratamentos que todo médico generalista deve saber” nem sempre as pessoas são capazes de verbalizar a dor. “A dor está sempre relacionada ao sofrimento”.
Diagnóstico é diferencial para a tratamento e cirurgias de mão
A Dra. Marcela Fernandes, supervisora da residência médica de Cirurgia da Mão da Unifesp, foi a primeira a palestrar na mesa-redonda que abordou a especialidade Cirurgia gira de Mão no primeiro do Congresso de Medicina Geral (CMG) da AMB . Ela destacou que a síndrome do Túnel do Carpo afeta aproximadamente 2,7% da população, sendo mais comum em mulheres, especialmente a partir dos 50 anos. Isso se deve, em parte, ao fato de o túnel do carpo ser anatomicamente mais estreito nas mulheres, o que favorece a compressão do nervo mediano, além de condições como diabetes e gravidez que também aumentam o risco de desenvolvimento da síndrome. Ainda ressaltou a importância do diagnóstico como um diferencial para a determinação da enfermidade, afinal, primeiro descartar outras possibilidades, como a fibromialgia e tratá-la, pois exames complementares, como a eletroneuromiografia, podem ser utilizados em casos específicos, mas não são obrigatórios para fechar o diagnóstico na maioria das vezes.
Abordando um tema atual, Dra. Daniele Tiemi Simão, membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão e Microcirurgia (SBCM), explicou que o Dedo em Gatilho é causado por inflamação nos tendões dos dedos, levando ao travamento do movimento. Pode ocorrer em adultos e crianças, inclusive em casos ligados à paralisia obstétrica. O uso excessivo de telas tem sido um fator de risco, especialmente entre os pequenos, que só percebem o problema quando os sintomas já estão evidentes. O tratamento pode incluir infiltração com corticoide, com boa resposta, e, em casos mais graves, cirurgia.
Já o Dr. Álvaro Baik Cho, membro titular da SBCM e da SBOT, explicou que a paralisia obstétrica do plexo braquial é uma lesão que ocorre durante o parto, afetando os nervos que controlam o movimento do braço do bebê. A recuperação pode ser espontânea em muitos casos, mas quando não há melhora nos primeiros meses, é essencial avaliar a necessidade de cirurgia. O tratamento precoce, com fisioterapia e acompanhamento especializado, é fundamental para a reabilitação.
Teng Hsiang Wei, coordenador do Núcleo de Mão e Microcirurgia do Hospital Sírio-Libanês, finalizou a mesa-redonda afirmando que a cirurgia da mão exige precisão e sensibilidade, pois trata diretamente da funcionalidade que impacta a autonomia do paciente. “Discutir esses temas em um congresso multidisciplinar como o CMG é essencial para promover um cuidado cada vez mais integral e qualificado.”
Especialistas defendem o uso de novas tecnologias e terapias na Coloproctologia
Na mesa-redonda de Coloproctologia realizada no primeiro dia da 3ª edição do Congresso de Medicina Geral da AMB, Dr. Olival de Oliveira Junior, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), abriu os trabalhos ressaltando a relevância do evento para a formação dos jovens clínicos. “Eventos como este fortalecem a base da medicina, ao aproximar especialistas e clínicos gerais, promovendo atualização, troca de experiências e o crescimento dos profissionais mais jovens.”
Dr. Marcelo Rodrigues Borba, da diretoria da SBPC, destacou que o tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) vem evoluindo significativamente, com foco na personalização do cuidado e na atuação multidisciplinar. Enfatizou a importância do diagnóstico precoce para melhores resultados clínicos e defendeu a integração entre diferentes especialidades, como gastroenterologia, coloproctologia, nutrição e psicologia, para um manejo mais eficaz da doença. Também chamou a atenção para o avanço das terapias, especialmente o uso de medicamentos biológicos e outras novas classes que oferecem alternativas mais eficazes e seguras para casos moderados a graves. Além disso, reforçou que a cirurgia ainda tem papel relevante, mas deve ser considerada com critério, geralmente quando os tratamentos clínicos não surtem o efeito desejado. “O objetivo central é alcançar a remissão sustentada e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, afirmou.
Baseado em evidências e discussões técnica, Dr. Paulo Boarini, titular da SBCP, posicionou-se sem enaltecer o uso do laser como mera inovação midiática, mas avaliando seu real benefício clínico. Para ele, o uso do laser na coloproctologia não é uma moda passageira, mas uma ferramenta com potencial real — sobretudo em procedimentos minimamente invasivos, doenças hemorroidárias e fístulas. No entanto, enfatizou a importância de usar critérios técnico-estruturados, evidência clínica robusta e aplicação da tecnologia individualizada.
Acompanhando as abordagens mais modernas no tratamento de diverticulite aguda, Dr. Arceu Scanavini Neto, coordenador da Pós-Coloproctologia do Hospital Israelita Albert Einstein, informou que as novas técnicas estão cada vez mais seguras e menos invasivas. Atualmente, muitos casos leves podem ser tratados sem antibióticos e sem internação. Já nos casos mais graves, a cirurgia continua sendo necessária, mas com técnicas atualizadas, como a laparoscopia, que facilita a recuperação. Também não é mais obrigatório fazer colonoscopia depois de uma crise leve. O foco atual é tratar de forma mais individualizada, evitando excessos e promovendo uma recuperação mais rápida e eficaz do paciente.
Reumatologia discute o uso de corticoides e novas opções de tratamentos
A Reumatologia foi uma das especialidades na manhã do primeiro dia do 3º Congresso de Medicina Geral da Associação Médica Brasileira (AMB). Na mesa-redonda, Dra. Mariana Freitas da Comissão de Vasculites da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), explicou que é preciso reconhecer precocemente as doenças sistêmicas para prevenir danos, reduzir a mortalidade e garantir o acesso oportuno ao especialista. Essas doenças, como o lúpus, costumam apresentar sintomas constitucionais, inflamação sistêmica e, por vezes, aumento de marcadores inflamatórios. Também reforçou que tanto nos casos de vasculite como de lúpus, os corticoides não são os únicos medicamentos indicados, hávárias outras classes de medicamentos importantes. O tratamento deve ser individualizado dependendo da forma da doença, dos órgãos afetados e da gravidade.
Na mesma linha, Dr. Roberto Ezequiel Heymann, membro da Comissão de Dor da SBR, abordou a fibromialgia e comentou que, além de dor, esses pacientes se queixam de outros sintomas como: fadiga, distúrbios do sono, depressão, ansiedade, síndrome do intestino irritável (SII), problemas de memória e de concentração, dormência e formigamento nas mãos e nos pés, palpitações, redução na capacidade de se exercitar e cefaleia tensional ou enxaqueca. Por isso, o tratamento requer uma abordagem multidisciplinar, combinando medicação, exercícios físicos regularesesuporte psicológico.
No caso da osteoporose, Dr. André Silva Franco, médico assistente doutor do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e membro da SBR, pontuou que cerca de 30% da população idosa sofre com a doença. Alertou que após a primeira fratura, o risco de morte aumenta em até 20% no primeiro ano. Entre os principais fatores de risco estão os históricos familiar e de fraturas, tabagismo, baixo peso, uso de corticoides, idade avançada, baixa ingestão de cálcio, alcoolismo e quedas.
Para Dr. Akira Ishida, professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP, ao prescrever corticoides para os pacientes que possuem osteoporose, é crucial orientá-los sobre a ingestão adequada de cálcio, prática de atividade física e a manutenção de níveis de vitamina D acima de 30. “A prioridade é tratar a condição que exige o corticoide, mas a prevenção da osteoporose induzida por corticoides é fundamental”, afirmou.
A Dra. Nacife Costa Araújo, Secretária Geral da SBR, concluiu que atualmente há uma diminuição do uso de corticosteroides devido aos seus efeitos colaterais. Além disso, existem mais opções terapêuticas, como imunossupressores, que permitem um tratamento mais eficaz e com menos efeitos adversos. O importante é o diagnóstico e acompanhamento reumatológico para guiar o tratamento adequado.”
“Trata-se de uma experiência única de aprendizado, com foco em conteúdos aplicáveis à rotina clínica”, destacou o presidente da AMB na cerimônia de abertura do CMG 2025
Além da agenda de palestras, na manhã do primeiro dia do 3º Congresso de Medicina Geral da AMB aconteceu a cerimônia de abertura do evento, que é o único dedicado exclusivamente à capacitação e atualização de médicos generalistas.
O Dr. Cesar Eduardo Fernandes, Presidente da AMB, deu as boas-vindas a todos os presentes que terão três dias repletos de aulas, cursos hands-on e discussões de casos clínicos em 55 especialidades médicas.
O presidente convidou as autoridades presentes para compor a mesa: André Longo, Diretor Presidente da Agência Brasileira de Apoio à Gestão do Sistema Único de Saúde (AgSUS); Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital do Governo Federal; Dr. Luiz Carlos Zamarco, Secretário Municipal de Saúde; e Hisham Mohamed Hamida, Presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS).
“Este evento representa uma oportunidade estratégica para médicos generalistas, ao promover o aprimoramento contínuo da prática médica e contribuir diretamente para um atendimento mais resolutivo e uma assistência de excelência aos pacientes. Trata-se de uma experiência única de aprendizado, com foco em conteúdos aplicáveis à rotina clínica”, destacou o presidente da AMB em seu discurso.
Além disso, lembrou que “os médicos generalistas não tinham um espaço onde pudessem se aperfeiçoar e ampliar seu conhecimento. Por isso, a AMB decidiu preencher esse espaço para que pudessem se atualizar e reunindo todas as especialidades”.
Na sequência, todas as autoridades convidadas puderam assumir por alguns instantes a fala, e todos eles destacaram a importância da medicina generalista para a saúde do país e para os bons resultados que, cada um deles, tem alcançado em seus trabalhos e projetos.
Mesa com representantes de órgãos da saúde destaca importância da residência e da redistribuição de médicos no Brasil
Ainda na manhã do primeiro dia do 3º Congresso de Medicina Geral da AMB – CMG 2025, foi realizada mesa-redonda com a participação de órgãos do segmento da saúde. O debate foi coordenado pelo presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde – CONASEMS – Hisham Hamida, que falou sobre sua preocupação com a insegurança dos médicos que vêm se formando no país ao exercer a medicina.
“A gente precisa capacitar e qualificar cada vez mais esses profissionais. O que a gente percebe é que há uma falta de confiança dos mais jovens na prática médica. Temos também alguns vetores que vêm interferindo na nossa rede de saúde, como a abertura de cursos sem o devido cuidado do campo de prática, e o número de vagas de residências. São pontos que temos de desafios, que precisamos trabalhar juntos às entidades médicas e ao Ministério da Saúde para melhorar”, disse Hisham.
O palestrante César Augusto Neves, diretor da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, destacou em sua participação no debate com os congressistas presentes sobre a abertura indiscriminada de faculdades de medicina. “Temos que ter a coragem detectar as escolas médicas que não têm condições de funcionar, e que a formação do médico tenha um olhar mais voltado para o SUS”.
Durante sua palestra, o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Dr. Felipe Proenço, apresentou dados sobre os principais desafios na área médica hoje no país, além das principais ações do Ministério da Saúde em prol da melhoria da qualidade da saúde para a população brasileira.
“O Ministério da Saúde segue com olhar atento para a essa abertura de novas escolas médicas. É importante seguirmos discutindo esse tema para melhorarmos a qualidade da medicina. Falar em qualidade da formação, é estimular que os profissionais façam as provas de títulos da AMB através das sociedades de especialidades médicas”, explicou o secretário.
Proenço também explanou sobre o desafio da interiorização e expansão da residência médica para melhorar a qualidade do atendimento à população. “Já investimos nos anos de 2023 e 2024 na saúde, e vamos seguir expandindo os investimentos em residências médicas até o final da nossa gestão. Além disso, estamos trabalhando na valorização dos médicos especialistas para que possamos cuidar bem do povo brasileiro, que é o nosso principal objetivo”.
Avanços e decisões estratégicas no tratamento da doença coronariana
Em mais uma jornada de aprofundamento clínico e atualização científica, especialistas renomados se reuniram para discutir os principais desafios práticos no manejo da síndrome coronariana aguda. A programação contemplou temas centrais para o dia a dia da cardiologia, como a escolha entre trombólise e intervenção coronária percutânea, o uso racional de antiplaquetários e a indicação da revascularização cirúrgica.
A mesa foi coordenada pelo Dr. José Rufino Costa dos Santos, presidente da Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará; Dr. Paulo Ricardo Avancini Caramori, presidente do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia; e Dr. Sérgio Tavares Montenegro, chefe da Unidade de Doença Coronária do PROCAPE da Universidade de Pernambuco.
Dr. Rui Fernando Ramos, cardiologista formado pela Universidade de São Paulo, abriu a sessão com uma aula sobre a tomada de decisão entre a trombólise e a intervenção coronária percutânea (ICP), esta última com uma taxa de sucesso superior a 90%. O especialista também abordou os cuidados pós-intervenção, enfatizando a importância da conduta clínica nos momentos que sucedem o procedimento.
Utilização de antiplaquetários com e sem intervenção percutânea
“Quanto maior a atividade plaquetária, maior a mortalidade do paciente”, alertou Dr. Marcelo José de Carvalho Cantarelli, cardiologista intervencionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Rede Américas de Hospitais e Hospital Santa Catarina, ao iniciar sua apresentação sobre o uso de antiplaquetários em diferentes contextos clínicos.
O especialista destacou os benefícios da aspirina e de outros fármacos anti-isquêmicos, como ticagrelor, clopidogrel e prasugrel, analisando suas indicações conforme o risco de sangramento e a presença ou não de intervenção percutânea.
Como suporte à aula, o palestrante apresentou uma tabela comparativa com diferentes cenários clínicos, as combinações terapêuticas mais indicadas, o tempo recomendado de uso dos antiplaquetários e alternativas possíveis. A apresentação reuniu dados atualizados de estudos clínicos para apoiar a prática baseada em evidências.
Intervenção percutânea e cirurgia de revascularização
Dr. Ricardo Pavanello, membro do Conselho Administrativo e de Relações Internacionais da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), fez um panorama histórico da evolução das técnicas de revascularização miocárdica, tanto cirúrgicas quanto percutâneas.
A seguir, discutiu os critérios de escolha entre os dois métodos, reforçando a importância da avaliação clínica, funcional e fisiológica, bem como a utilização de escores de risco internacionalmente validados.
“O entendimento anatômico do vaso e a magnitude da doença são fundamentais para indicar o melhor procedimento. Cada caso precisa ser individualizado com base em uma investigação detalhada”, enfatizou o especialista.
Finalizou sua aula com uma reflexão prática: apesar das muitas recomendações e diretrizes internacionais, todas estão facilmente acessíveis online, uma forma de incentivar os profissionais a se manterem atualizados com base nas melhores evidências disponíveis.
Manejo de via aérea e avaliação pré-anestésica
As boas práticas em anestesiologia foram protagonistas em um dos encontros da manhã do primeiro dia do 3º Congresso de Medicina Geral da AMB, realizado nesta quinta-feira, 24 de julho. O ciclo de palestras abordou temas fundamentais, como a avaliação preparatória do paciente e o manejo da ventilação após a intubação, com foco em situações clínicas que exigem decisões rápidas e seguras. A mesa foi coordenada pelo Dr. João Otávio Ribas Zahdi, da Comissão Nacional do Médico Jovem (CNMJ) da AMB.
O Dr. Maurício Luiz Malito, que é professor de anestesiologia na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, abriu as aulas apresentando as informações essenciais que todo médico generalista precisa ter conhecimento para o manejo das vias aéreas. O especialista começa destacando que “antes da decisão da manobra, o foco do médico precisa ser garantir a oxigenação do paciente, ter a certeza de que o oxigênio está chegando até os órgãos vitais”.
Após o alerta, Dr. Malito apresentou os pilares do manejo das vias aéreas: ventilação, intubação traqueal, ventilação de resgate e cricotireoidostomia (acesso mais invasivo); nesta ordem. Ao detalhar cada um dos pilares, fez outro alerta citando dados da literatura médica que, as tentativas de intubação não devem ultrapassar a duas vezes, sendo o mas adequado partir para outra técnica imediatamente. E encerra sua participação destacando que “parece difícil, mas a prática mostra que com treinamento são alcançados excelentes resultados e, se sair do controle, peça ajuda”.
Ventilação após a intubação
Assume a fala o Dr. Antonio Carlos Aguiar Brandão, Diretor-Presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA). Ele dá continuidade ao exposto na aula anterior ao expor sobre como ventilar um paciente intubado. “O objetivo da ventilação mecânica é garantir a troca gasosa, reduzir o trabalho respiratório (como nos casos de insuficiência respiratória aguda) e permitir estratégias adequadas de proteção pulmonar para reduzir ao máximo as lesões induzidas pelo ventilador”.
Trouxe para sua exposição o funcionamento da ventilação mecânica que funciona com pressão positiva, ou seja, expiração passiva pela pressão pulmonar. “Encher o pulmão de ar vencendo a força resistiva das vias aéreas, lembrando que se essa resistência estiver aumentada por algum problema ela fica mais difícil; e a complacência que, também, em algumas doenças restritivas pode impor alguma dificuldade”.
Avaliação pré-operatória para médicos generalistas
Apresentar a importância da chamada reabilitação pré-operatória ou pré-reabilitação, foi a colaboração da Dra. Lígia Andrade da Silva Telles Mathias, Professora Titular pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
“Pré-condicionar o sistema cardiorrespiratório e musculoesquelético para suportar da melhor forma o estresse de uma cirurgia é um cuidado de toda uma equipe que deve ser multiprofissional e multidisciplinar e não só do cirurgião”, alerta a médica anestesista.
Encerrou sua aula colocando os holofotes sobre a anemia pré-operatória, utilizando o exemplo para trazer ao debate um dos fatores de risco mais comuns.
Descobertas clínicas e avanços das neurociências
O avanço das neurociências e o impacto direto das descobertas clínicas na prática médica estiveram no centro das discussões de mais uma jornada científica voltada à atualização de profissionais da saúde. Reunindo especialistas de renome, a programação abordou temas de alta relevância para o dia a dia dos atendimentos neurológicos.
As palestras ofereceram uma visão crítica e atualizada das possibilidades terapêuticas e dos desafios que ainda permeiam condições neurológicas altamente prevalentes. O painel foi coordenado por Dr. Florival Meinão, Secretário-Geral da AMB e membro da Academia de Medicina de São Paulo.
Expansão da janela terapêutica no Acidente Vascular Isquêmico
Dr. João Brainer Clares de Andrade, professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo e pesquisador clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, abriu a programação com uma análise técnica sobre o Acidente Vascular Isquêmico (AVCI), uma das principais causas de morte no Brasil, responsável por 300 óbitos por dia e com crescimento alarmante entre pessoas com menos de 40 anos.
O especialista destacou que a janela de tratamento, que antes se limitava a três horas, hoje pode chegar a 24 horas, com possibilidade de recuperação significativa. “A expansão do tempo é um conceito relativizado. Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maior será o benefício para o paciente”, afirmou.
Doença de Parkinson x Parkinsonismos Atípicos
Dra. Chien Hsin Fen, neurologista mestre e doutora em Ciências pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP, apresentou uma perspectiva evolutiva sobre a Doença de Parkinson, destacando marcos históricos na pesquisa e avanços no entendimento da patologia.
Em sua exposição, a especialista diferenciou a Doença de Parkinson dos chamados Parkinsonismos Atípicos, entre os quais se destacam a Atrofia de Múltiplos Sistemas e a Paralisia Supranuclear Progressiva.
A neurologista ressaltou que, por ainda ser classificado como uma doença e não uma síndrome, o Parkinson demanda uma definição biológica mais precisa. “É uma condição multifatorial, e a melhor forma de prevenção ainda é a mudança no estilo de vida”, afirmou ao encerrar sua palestra em uma sala lotada.
Tratamento da Enxaqueca
Responsável pelo Ambulatório de Cefaleia e Algias Cranianas da Universidade Federal de São Paulo, Dr. Flávio Moura Rezende Filho apresentou um panorama sobre o tratamento da enxaqueca, condição que afeta cerca de 20% da população mundial e ocupa a segunda posição entre as maiores causas de anos vividos com incapacidade.
No Brasil, a condição atinge entre 15% e 20% da população. Caracterizada por cefaleia unilateral, pulsátil e agravada por esforço físico, a enxaqueca geralmente vem acompanhada de fotofobia, fonofobia e náuseas.
O especialista alertou para as limitações dos tratamentos convencionais: início de ação demorado, baixa eficácia em casos de uso excessivo e uma lista extensa de efeitos adversos. Ele destacou os avanços terapêuticos recentes, em especial os medicamentos que atuam sobre o CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), além de outras alternativas em profilaxia. Sua análise crítica incluiu também considerações sobre a prescrição criteriosa dos novos tratamentos.
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Palestrantes da mesa de endoscopia digestiva destacam preocupação no aumento alarmante de casos de câncer colorretal em pacientes jovens
Durante a mesa-redonda de endoscopia digestiva, realizada no início da manhã do primeiro dia da 3ª edição do Congresso de Medicina Geral da Associação Médica Brasileira (AMB), que acontece nesta quinta-feira (24), no Distrito Anhembi, os palestrantes destacaram o crescimento alarmante do número de pacientes com menos de 50 anos que estão sendo diagnosticados com câncer colorretal. “Estamos operando pacientes com apenas 25 anos de idade, já em estágio avançado da doença. Isso é muito preocupante”, Dr. Jurandir Marcondes Ribas Filho.
Em sua palestra, a Dra. Eduarda Tebet, que abordou o tema ‘Rastreamento do câncer colorretal – Como fazer e qual o papel das sociedades médicas’, destacou que é necessário que toda a família desses pacientes mais jovens faça o rastreio com antecedência de 10 anos, e que os hábitos de vida, como alimentação influenciam na prevenção da enfermidade. “Dieta pobre em fibras e rica em ultraprocessados acabam influenciando para o surgimento desse tipo de câncer. Por isso a importância das pessoas cuidarem da sua alimentação”.
Dra. Eduarda ainda acrescentou sobre a importância do papel das sociedades de especialidades médicas na atuação junto ao governo brasileiro para alertar a sociedade sobre a doença. “Acredito que a gente avance na prevenção do câncer de colorretal. Na articulação de políticas públicas, orientando a sociedade civil. Existe um projeto de lei no governo federal que a gente luta para que seja implementado. As sociedades médicas precisam se unir para que consigamos poupar a população dessa enfermidade”, concluiu.
Dr. Marcelo Averbach, que apresentou o tema “Seguimento Pós-Resseções Endoscópicas de Lesões – Diretrizes”, falou sobre estudo, realizado por instituições americanas, de como os médicos devem seguir com os pacientes com uma polipectomia, procedimento médico para a retirada de pólipos, que são crescimentos anormais de tecido em órgãos como intestino e estômago. Ele também falou sobre a qualidade da colonoscopia e alertou sobre o preparo inadequado do exame.
Transtornos Mentais e Suicídios
A Associação de Medicina de Psiquiatria tem tido o cuidado de explicar como devem ser feitas as avaliações e manejos do comportamento suicida. Para abordar o tema, o Dr Quirino Cordeiro Junior conta que parte considerável dos suicidas, acabam falando e dando sinais e para tal, é preciso ficar atento a tudo que o paciente apresenta.
Sendo assim, como pode ser feita a avaliação deste paciente? Há algumas variáveis, como perfil demográfico como idade, sexo, estado civil, problemas financeiros, antecedentes familiares, casos amorosos e desemprego, além de pacientes com dores crônicas e transtornos mentais.
A importância do diagnóstico correto nos encaminhamentos dos casos oftalmológicos
Com as participações dos coordenadores Rodrigo Pascoal Azevedo, Wilma Lelis e Maria Auxiliadora Frazão, o tema Oftalmologia abordou “A rotina das urgências e emergências em oftalmologista”.
Conforme explica Pedro Antonio Nogueira Filho. Segundo o especialista, que é Médico Oftalmologista, especialista em Córnea e Doenças Oculares Externas, doutorando UNIFESP (Universidade Federal De São Paulo) / EPM (Escola Paulista De Medicina), Presidente da SOBRETO (Sociedade Brasileira de Urgências, Emergências e Trauma Ocular), há diferença na rotina nas urgências e emergências em oftalmologia, sendo que elas envolvem o atendimento rápido e eficiente de pacientes.
Sendo assim, é preciso primeiramente entender se há uma lesão para poder prescrever o diagnóstico correto. Para o encaminhamento clínico, a prevenção sempre é o melhor caminho para evitar os transtornos, ou seja, a devida higiene ocular com uma lavagem inicial adequada faz-se necessária logo nas primeiras horas.
O especialista explica que o trauma ocular pode ser aberto ou fechado e um colírio de fluoresceína é sempre o ideal para a identificação. No trauma aberto o trauma pode ser penetrante ou perfurante. Para ambos, é preciso fazer oclusão e encaminhar, nem que seja com um copo plástico. “Uma estrutura plástica não vai comprometer nenhum exame de imagem”, diz o doutor.
Já para o Dr. Kimble Teixeira Fonseca Matos, Imunologista e oftalmologista, doutor e pós doutor EPM-Unifesp, apresentou no tema “Doenças sistêmicas tratadas conjuntamente com o oftalmologista”, o olho não só pode mostrar a existência de doença sistêmica como também a sua gravidade. Segundo ele, doenças como Behçet, o Lupus, as retinoplastias, o sífilis são alguns exemplos de doenças multissistêmcias que afetam a visão. Para tal, todos os encaminhamentos devem ser feitos imediatamente – assim como outras doenças – após o diagnóstico inicial. Além disso, ele ressalta a importância das crianças em consultas pediátricas serem avaliadas se elas estão coçando muito o olho. Por fim, ele alerta ao cuidado do uso da inteligência artificial nas buscas por pacientes.
Já para a Dra Karina Eiko Yamashita com o tema “Como avaliar a visão para atestados e benefícios previdenciários”, para começar a avaliar o trabalhador, é preciso testar a Acuidade Visual – testes feitos com letras a seis metros do paciente. Outra avaliação é a do Campo Visual com o uso da Tela de Amsler para avaliar se há ele tem uma distorção da imagem. O mais utilizado, porém, é a perimetria automatizada campo visual 30.2, no caso das perícias. Já para avaliação visual em condutores de veículos condutores, há diferenças conforme as categorias. “Casos de estrabismo, por exemplo, são aceitos apenas nas categorias A e B”.
“Doenças sistêmicas podem acometer os olhos e é importante que os médicos saibam que muitos diagnósticos precisam de acompanhamentos oftalmológicos”, diz Maria Auxiliadora Frazão.
Fonte: AMB, em 24.07.2025.