Por Gloria Faria (*)
A importância de a voz feminina chegar aos ouvidos do alto escalão empresarial é indiscutível e, é vital que seja valorizada. A transformação, os caminhos da mudança para a equidade de gênero, passam por um árduo e contínuo trabalho de sensibilização que permita alterar o cenário de apenas mulheres rotuladas “fora da curva” galgarem postos de liderança e salários compatíveis com suas funções.
As dificuldades para mulheres alcançarem lugares de liderança tanto no mundo empresarial, como no político vão de muito grandes a enormes. “Se para a mulher branca é difícil, para a negra é muito mais”, declara DILMA CAMPOS[1] . Os números confirmam o cenário no mundo empresarial brasileiro. Os homens brancos são a maioria, 60,8% nos cargos de decisão, enquanto as mulheres brancas são 23,5%. Os homens negros ocupam 10% das posições e as mulheres negras 3,4%.
Os caminhos para o podium do sucesso profissional são vários, cheios de barreiras e obstáculos maiores ou menores, entretanto, sempre enormes para as mulheres. A graduação das dificuldades está ligada a alguns fatores, como etnia, deficiências físicas, idade, LGBTQIAs... Sim, porque, indiscutivelmente, o universo feminino é composto de grupos de mulheres diversas e resistências encontradas diferentes.
Ainda assim, embora em um ritmo bem mais lento que o desejado, um aumento em posições de liderança ocupadas por mulheres e uma tímida diminuição do abismo entre as remunerações femininas e masculinas estão acontecendo. Vale ressaltar que, comum a todas elas, está sempre presente o desafio de equilibrar a vida pessoal com a profissional. E ainda, dentro do posicionamento na carreira, a escolha do comportamento mais ou menos ativo, combativo e reivindicador, como arma ou escudo de defesa.
Agora voltando a meu pai e a laranja. Ao fim do almoço ele usava a faca para cortar cada laranja em quatro partes. Descascava as partes com os dedos, e então cortava em pedaços menores que eram passados para meu irmão e eu. Era um carinhoso ritual que me vem a memória cada vez que como uma laranja, quando eu repito a forma que ele usava para descascar a fruta. Hoje, no café da manhã, descascando minha laranja, me apercebi que o método que meu pai me ensinou, era uma metáfora perfeita para as laranjas e abacaxis que tive que descascar na minha trajetória profissional.
Assim sendo, aqui vai a receita: escolha a fruta de seu gosto e segure-a firmemente, NÃO deixe escorregar da mão, use a faca quando necessário e com cuidado para não se cortar, a delicadeza o cuidado “de dedos” se faz necessário para certas etapas mais delicadas e para não ferir a polpa. Finaliza-se cortando em pedaços pequenos ou gomos, para não se engasgar ou fazer feio de boca cheia.
P.S.: Minha fruta escolhida foi a advocacia! Aproveitei todas as oportunidades de estudar, crescer, conhecer novos ângulos da profissão e de outras. Usei pouco a faca e muito de persistência, trabalho árduo, paciência e dedicação. Tive o privilégio de nascer em uma família que me abriu um pomar de boas escolas e livros, um pai amoroso e uma mãe que acreditava que eu seria a primeira mulher Ministro do STF se me esforçasse e que, definitivamente, fecundou minha alta autoestima! Me sinto privilegiada e, ainda assim, o caminho não foi nada fácil!
P.S. do P.S: Recentemente fui mentora de uma jovem profissional brilhante a quem eu espero ter passado um pouco dos meus acertos...
[1] CEO da Nossa Praia – Agência de Marketing e Eventos e head de ESG do grupo B&Partners – Entrevista ao Valor de 20.11.24.Pag. F7.
(*) Gloria Faria é advogada e sócia do escritório Motta & Faria Advocacia.
(20.11.2024)