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Mercado segurador em Angola e Moçambique: desafios, oportunidades e aprendizados no ANSP Café

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Com baixa penetração e desafios regulatórios, mercados seguradores africanos buscam na inclusão, na formação técnica e na modernização institucional os pilares para um novo ciclo de expansão

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O setor segurador africano, especialmente nos mercados de Angola e Moçambique, foi o centro do debate da última edição do ANSP Café, evento realizado pela Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP) na última quinta-feira (23/07). Com foco nos desafios da baixa penetração, estrutura regulatória recente e necessidade urgente de capacitação técnica, o encontro reuniu especialistas brasileiros e africanos para discutir estratégias de desenvolvimento, troca de experiências e cooperação internacional.

A abertura foi conduzida pelo Acadêmico Rogério Vergara, Presidente da ANSP, sócio na RIVER Consultores Associados e na Geco Serviços. A contextualização ficou a cargo do Acadêmico Prof. Dr. Sergio Hoeflich, Coordenador da Cátedra de Educação em Seguros da ANSP. Os debates contaram com a participação do Sr. Gabriel Cangueza, Diretor da ASFP – Angola, trazendo as perspectivas do segmento acadêmico angolano; da Acadêmica Joceli Pereira, Coordenadora da Cátedra de Inovação da ANSP, que destacou as perspectivas de promoção acadêmica do Brasil; do Dr. Encarnação Casaca, Secretário para Assuntos Acadêmicos da CAPSA – Câmara dos Profissionais de Seguros e Fundos de Pensões de Angola, apresentando a visão sobre o mercado angolano; e do Dr. Israel Muchena, representante da HOLLARD Seguros Moçambique, que compartilhou a visão sobre o mercado moçambicano.

Segundo Israel Muchena, especialista com atuação em mercados africanos e formação pelo Chartered Insurance Institute de Londres, Moçambique e Angola possuem mais de 50 anos de mercado pós-independência, mas o avanço ainda é limitado, com penetração abaixo de 2% do PIB, muito aquém de países como África do Sul e Namíbia, que superam 10%. Ele ressaltou ainda a importância da introdução de resseguradoras e de incentivos regulatórios, citando o Brasil como referência. “Temos muito a aprender com o modelo brasileiro de resseguro, que prevê mecanismos como resseguradora admitida e ocasional para dinamizar o mercado”, destacou.

Muchena também chamou atenção para a urgência na adoção das normas internacionais de relato financeiro (IFRS) nos países africanos de língua portuguesa, especialmente a IFRS 17. Para ele, a gestão de risco e a contabilidade são pilares para a solidez e transparência do setor, alinhados às práticas ESG, que se tornam mandatórias globalmente.

Representando a ASFP – Angola, Gabriel Cangueza reforçou a necessidade de capacitação técnica e fortalecimento institucional. “Nosso maior gargalo é a formação de quadros técnicos. Precisamos formar atuários, especialistas em contabilidade de seguros e gestores de risco. Sem isso, nenhuma estrutura regulatória se sustenta”, salientou. Cangueza também vê o Brasil como parceiro estratégico. O país tem um histórico recente, mas já consolidado, de abertura do mercado e desenvolvimento técnico. “Podemos acelerar nosso crescimento aprendendo com suas experiências, especialmente em microseguros, que são vitais para ampliar o acesso em Angola”, indicou.

O Dr. Encarnação Casaca destacou o momento de virada regulatória em Angola, com a nova Lei da Atividade Seguradora, aprovada em 2022, tratando de temas como governança, compliance, prevenção ao branqueamento de capitais e defesa do consumidor. Em sua visão, isso coloca Angola em outro patamar de maturidade institucional. Ele também chamou atenção para o papel da inclusão: “Ainda temos menos de 1% de penetração no PIB. Precisamos educar a população sobre seguros, aumentar a literacia financeira e atrair investimentos externos. O mercado está aberto, agora precisamos torná-lo funcional e inclusivo”, avaliou.

A diversidade de gênero também foi pauta do encontro. A Acadêmica Joceli Pereira fez um reiterou o convite pela maior presença feminina no setor. Para ela, é preciso ampliar a participação das mulheres, pois o setor de seguros precisa desse olhar mais humano e sensível para avançar. Joceli defendeu que o equilíbrio de gênero traz não apenas equidade, mas também qualidade técnica e empatia na prestação de serviços.

O presidente da ANSP, Rogério Vergara, reforçou o compromisso da entidade com a integração lusófona e o fortalecimento do setor. “A cooperação internacional é a chave para o crescimento sustentável dos mercados seguradores. Estamos prontos para apoiar a formação técnica e construir pontes acadêmicas entre Brasil, Angola, Moçambique e demais países de língua portuguesa”, enfatizou.

O evento reafirmou que o setor segurador africano, apesar dos desafios estruturais, possui enorme potencial para crescimento sustentável, especialmente se forem implementadas ações conjuntas que envolvam regulação eficaz, inclusão social e inovação técnica. A iniciativa do ANSP Café demonstra o compromisso da entidade em fomentar o desenvolvimento do setor, consolidando pontes para uma cooperação técnica integrada e contínua entre Brasil e África lusófona.

A coordenação do evento foi realizada pelo Vice-Presidente Executivo da ANSP, Acadêmico Edmur de Almeida, pelo Acadêmico Prof. Dr. Sergio Hoeflich, coordenador da Cátedra de Educação em Seguros da ANSP, e pelo Acadêmico Sergio Nobre, diretor da ANSP e vice-coordenador da mesma cátedra.

Assista ao ANSP Café, na íntegra, no canal da ANSP no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=QY_1JcXy7FU

Fonte: Oficina do Texto, em 31.07.2025