Por Antonio Penteado Mendonça
O mês de maio foi escolhido para ser um momento de reflexão sobre o que se vê no trânsito brasileiro. A campanha “Maio Amarelo” tem como objetivo chamar a atenção da população e dos motoristas em particular sobre a dura realidade das ruas e estradas nacionais, com quase 40 mil mortos e perto de 400 mil inválidos por ano.
São números apavorantes e que seguem subindo. Por exemplo, o primeiro trimestre deste ano foi o mais letal dos últimos dez anos, no Estado de São Paulo. No período o Estado contabilizou 1416 mortes no trânsito, sendo que 208 aconteceram na Capital.
O primeiro lugar nessa competição trágica cabe aos acidentes envolvendo motocicletas. O dado não é uma surpresa, bom número dos motociclistas dirige suas máquinas sem qualquer preocupação mais séria com a própria segurança ou com a segurança de terceiros. A diferença entre uma motocicleta e um automóvel é que enquanto o segundo tem um para-choque, na primeira o para-choque, invariavelmente, é o corpo do próprio motociclista.
Mas se a situação é triste nos Estados do Sul e do Sudeste, ela atinge patamares trágicos nos estados do Nordeste. Lá é comum uma única motocicleta transportar quatro ou mais passageiros, empoleirados de qualquer jeito em cima dela. É comum também, além dos passageiros, um deles ainda por cima levar um cachorrinho no colo. Em outras palavras, as chances de um acidente são exponencialmente mais altas do que em locais onde uma motocicleta leva uma, no máximo duas, pessoas.
Infelizmente, São Paulo está passando por um momento delicado, em função do alto número de pedestres atropelados, inclusive em cima da faixa de pedestres, ou andando na calçada. Invariavelmente os acidentes, causados no mais das vezes por motoristas embriagados, acabam com a morte do pedestre e a fuga sem prestar socorro do motorista causador do acidente.
É verdade, a justiça tem endurecido e os motoristas responsáveis têm sido presos preventivamente. Mas não é a prisão de algumas dezenas de motoristas irresponsáveis que vai resolver o problema. Este só terá solução quando os motoristas de alto risco tiverem consciência de que por uma besteira podem destruir a vida de uma família e a sua própria. Não tem cabimento o quadro seguir na toada em que vai.
Enquanto as campanhas de educação e conscientização não forem feitas de forma a realmente impactar a população, os acidentes continuarão acontecendo e matando dezenas de milhares de pessoas todos os anos.
Sem a participação do Estado em todos os seus níveis para implementar as ações destinadas a minimizar o quadro, não há o que fazer. A primeira é uma fiscalização permanente e eficiente que identifique e puna os maus motoristas. A segunda é um exame de habilitação mais rigoroso. A terceira, aumentar o valor das multas. A quarta, melhorar a sinalização. A quinta, retirar das ruas os carros sem manutenção. E por último, construir ruas e estradas seguras.
Se a campanha “Maio Amarelo” conseguir sensibilizar ainda que minimamente a sociedade e mostrar que um trânsito seguro é muito melhor para todos, com certeza as autoridades acabarão fazendo a sua parte.
Fonte: O Estado de São Paulo, em 12.05.2025.