Uma das linhas de apuração é identificar se funcionários das operadoras têm envolvimento com o esquema criminoso de órteses e próteses no Distrito Federal. A polícia também quer saber se os acusados mantêm contas no exterior
As investigações sobre a Máfia das Próteses chegaram aos planos de saúde. Um dos focos será descobrir como ocorreram as irregularidades dentro das operadoras, inclusive com a suspeita de participação de funcionários das próprias empresas. Entre as que podem ter sido prejudicadas pelo superfaturamento nos procedimentos, estão a Golden Cross, a Geap e os planos corporativos de tribunais. Esses grupos podem ter pagado, por cirurgias, até três vezes mais os valores de mercado. Há suspeita de facilitação e “vista grossa” nas auditorias internas. Enquanto isso, mais de 50 vítimas do esquema procuraram as delegacias para prestar depoimento.
O adjunto da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), delegado Adriano Valente, responsável pela investigação da Mister Hyde, afirma que parte da apuração tenta identificar possíveis operadoras e funcionários envolvidos no esquema criminoso. “Essa é uma das linhas de investigação da polícia. Nesta primeira fase, nada é descartado”, afirmou. Adriano acrescentou que acompanha a movimentação financeira dos envolvidos nas fraudes de próteses e órteses a fim de averiguar se o grupo mantém dinheiro no exterior.
Organizações representativas das empresas de planos de saúde, como a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), acompanham os desdobramentos no DF. Esquemas de órteses e próteses tornaram-se comuns no Brasil (leia Memória). Estimativas da Abramge apontam que de 20% a 30% dos custos pagos nos procedimentos são propina. A associação entrou com processos contra cinco das 10 principais fabricantes de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs) nos Estados Unidos, pedindo para que não estimulem o pagamento de suborno a médicos e hospitais do Brasil.
A estimativa da Abramge é de mais de US$ 100 milhões de prejuízo no país. “Não podemos ter um modelo de distribuição de um produto alicerçado em cima de propina”, defende Pedro Ramos, diretor da entidade. Ele está nos Estados Unidos representando a Abramge nos processos. E acredita que o termo “auditorias frágeis” usado por envolvidos e revelado nas escutas da Mister Hyde pode ser indício de participação de funcionários das operadoras. “As auditorias de planos de saúde estão cada dia mais preparadas. Alguém ‘deixou’ essas cirurgias serem autorizadas”, acredita.
Danos
Brasília tem muitos planos de saúde de autogestão de funcionários públicos, como os dos tribunais. Há suspeita de que eles tenham sido lesados pela organização criminosa. O Correio entrou em contato com os planos dessas Cortes credenciados pelo Hospital Home (613 Sul), unidade usada pelos médicos suspeitos para as cirurgias. Em nota, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) no DF esclareceu que o TRE-Saúde fará auditoria para checar se houve dano ao patrimônio. “Em uma primeira análise, verificamos que apenas dois pacientes se utilizaram dos serviços investigados, mas não é possível avaliar se as próteses eram realmente necessárias”. O Superior Tribunal de Justiça não foi notificado sobre irregularidades e reiterou que as perícias do plano são rigorosas.
Fonte: Correio Braziliense, em 09.09.2016.