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Implicações contábeis da pandemia para as seguradoras

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Por Érika Ramos (*)

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A Covid-19 tem afetado o mercado de várias maneiras. Além de impactos relacionados a clientes, colaboradores e operações, a volatilidade provoca implicações diretas nas seguradoras. O crescimento no risco de crédito de diversas entidades indica um aumento de preocupação relacionado à inadimplência. As implicações nos passivos de seguros podem variar, dependendo das coberturas fornecidas pela seguradora e das políticas contábeis aplicadas.

Em geral, o comportamento dos segurados pode mudar em função dos impactos da pandemia e medidas governamentais e regulatórias para diminuir a propagação da pandemia podem reduzir as atividades de vendas e impactar a receita de prêmio de seguro.

Medidas como postergação para pagamento dos prêmios, não cancelamento do contrato de seguro durante o período da pandemia, suspensão da cobrança de coparticipação podem impactar as premissas sobre os fluxos de recebimento dos prêmios de seguro, a frequência e a severidade dos sinistros ou a maneira como os dados históricos, por exemplo, a sinistralidade histórica, pode ser utilizada para estimar os sinistros futuros. Além disso, os desafios operacionais causados pelas medidas de distanciamento social podem afetar o processo de regulação de sinistros bem como os padrões de desenvolvimento dos sinistros.

Nesse cenário, é importante também avaliar o que divulgar. As seguradoras devem comunicar premissas e análises de sensibilidades relativas à mensuração dos passivos de seguros. Isso pode envolver a explicação do impacto dos riscos da pandemia no negócio, como os dados atuais têm sido alterados, a variação das premissas para considerar o risco da pandemia e como esses riscos são gerenciados.  

Essas divulgações também devem incluir considerações sobre concentrações de risco, tabelas de desenvolvimento de sinistros e riscos de crédito, mercado e liquidez. 

Para carteiras de investimentos, as seguradoras devem divulgar natureza e extensão dos riscos decorrentes de instrumentos financeiros e como esses riscos são gerenciados.

Finalmente, há algumas ações relevantes que devem ser executadas pela administração:

- Avaliar implicações específicas em estimativas e premissas na mensuração de passivos, sinistros e ativos.

- Confirmar que o teste de adequação de passivo seja baseado em estimativas atuais dos fluxos de caixa futuros.

- Avaliar se um declínio significativo ou prolongado no valor justo ocorreu em investimentos patrimoniais disponíveis para venda.

- Avaliar eventos que afetem fluxos de caixa futuros de investimentos em título de dívida e se perdas por redução ao valor recuperável devem ser reconhecidas.

- Considerar expandir as divulgações sobre gerenciamento de riscos, estimativas de mercado, análises de sensibilidade, fontes de incerteza, riscos de crédito e liquidez.

- Considerar divulgações de gerenciamento de capital, especialmente se houver preocupações sobre a posição em relação a requisitos regulatórios ou implicações em covenants de passivos financeiros.

(*) Érika Ramos é sócia-líder do segmento de Seguros da KPMG no Brasil.

15.07.2020