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Gerenciamento e transferência de riscos são melhores práticas contra perdas e prejuízos

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Por Sérgio Caron*

O Painel de Transportes, Logística e Gerenciamento de Riscos, discutido na ABGR (Associação Brasileira de Gerência de Riscos) em novembro do passado, trouxe dados e informações interessantes sobre o setor. Um panorama com análise bastante ampla sobre os números e desempenho do mercado de seguros, desde 2020, passando por uma variedade de temas e cenários: reflexos da pandemia; evolução e comportamento dos riscos de embarcadores e transportadores/operadores logísticos; sinistralidade; gerenciamento de riscos; tecnologias; investimentos e projetos (e a relevância do seguro de DSU -- “Delay in Start up”); energia renovável; manifestações grevistas; crise Rússia-Ucrânia; resseguro e mercado internacional, entre outras questões pertinentes.

Sobre a análise de alguns números da Carteira de Transportes, destacou-se o marcante crescimento dos prêmios de seguros do mercado brasileiro, conforme dados públicos da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que atua no controle e fiscalização dos setores de seguros, capitalização e previdência privada. Em 2020, devido à Pandemia/Covid-19, o mercado brasileiro sofreu uma retração de 8.6%, alcançando uma base total de prêmios na ordem de R$ 3.3 bilhões. Em 2021, com a crescente retomada de vários setores da economia, esta mesma base de prêmios atingiu o patamar de R$ 4.4 bilhões, com um crescimento superior a 35%. Quando comparamos o período acumulado de janeiro a agosto de 2021 contra 2022, o crescimento foi de quase 26%.

Entre os vários aspectos que explicam o aumento dessa arrecadação, temos o dado positivo da retomada dos negócios, em vários setores da economia. Agronegócio, inclusive, tem participação marcante nesse contexto. Entretanto, a sinistralidade também apresentou severo crescimento, o que é um dado alarmante. Se focarmos o período de JAN a AGO de 2021 x 2022, a sinistralidade do mercado brasileiro saltou de 46.4% para mais de 55%, o que certamente provocou elevação das taxas de seguro para aqueles “riscos” (de empresas) que têm capacidade menor de investimento no gerenciamento dos mesmos (como regra geral). No período analisado, os seguros dos Embarcadores tiveram 47.8% de sinistralidade, contra 62.2% dos seguros dos Transportadores (notadamente os transportadores rodoviários).

O aumento do preço do seguro nos mercados internacionais também impacta os preços locais. Isto se deve ao fato das seguradoras precisarem comprar resseguro, para dar automaticidade em seus negócios. Assim, um emaranhado de elementos interage, provocando uma curva de crescimento nos prêmios e, principalmente, nas taxas dos seguros.

Prevenir ainda é o melhor “remédio” -- que se traduz, aqui, em investir em gerenciamento de riscos. Tanto embarcadores como transportadores, que apresentam melhores resultados (em decorrência de tais investimentos) são, em contrapartida, compensados com manutenção ou mesmo redução em suas taxas de risco/programas de seguro.

Ainda nesse contexto, é importante lembrar que o Brasil ainda é muito dependente do modal rodoviário, representando mais de 60% de toda a movimentação de cargas no país. Isto, aliado ao baixo investimento em melhorias da infraestrutura, nos recentes anos, verba para manutenções da frota em geral etc., resultam no crescente número de acidentes com os veículos transportadores, causando prejuízos às cargas. Afora o nível elevado de acidentes, o Brasil também tem destaque negativo no número de eventos de roubos de carga (roubos, furtos, extravios, apropriação indébita, estelionato e outros crimes similares). Mesmo com a constante elevação das tecnologias para contenção das perdas, a combinação do gerenciamento de riscos com a transferência de riscos para as seguradoras tem se mostrado como as melhores práticas.

*Sérgio Caron
Diretor da Especialidade de Marine & Cargo da consultoria
de riscos e corretora Marsh Brasil

20.01.2023