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Especialistas discutem as premissas do crescimento

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Economista Marcos Lisboa aponta comércio exterior como efetivo para recuperar emprego, renda e combater pobreza

Olhar para o passado e identificar alguns dos grandes erros cometidos na política econômica pode ser um critério para aqueles que querem o progresso do País. Por três vezes, por exemplo, já se tentou fomentar a indústria naval sem sucesso efetivo depois de alguns anos; via BNDES, apoiaram-se com juros subsidiados setores que não tiveram grande desempenho; os bancos públicos, a certa altura, passaram a liderar as concessões de crédito para evitar a desaceleração que anunciava, sem considerar a qualidade do tomador e de seu projeto.

Nada obedeceu ao script, reconhece o economista Marcos Lisboa, atual diretor do Insper. O mercado de crédito recuou ainda assim nos anos subsequentes a 2010, o BNDES carrega no seu portfólio investimentos que não serão pagos e o projeto nacionalista rascunhado a partir de 2008 aprofundou a crise brasileira de quase três anos e exigirá remédios ainda amargos para evitar o agravamento do déficit fiscal de estados e da União, concorda. Aliás, enfrentar a questão fiscal será prioritário para recuperar a economia, assegurando um crescimento duradouro. Não será, porém, uma discussão fácil, porque significa que parte da elite terá de abrir mão de privilégios. Apenas na parte da União, representa um ajuste de R$ 250 bilhões em busca do equilíbrio.

Grosso modo, nas eleições de outubro, o Brasil terá de escolher se vai preferir continuar a caminho da pobreza, ao manter recursos públicos dedicados a setores ineficientes, protegendo-os da competição; se vai optar por uma abertura abrupta, como aquela feita pela Inglaterra nos anos 80, e capaz de afetar setores e segmentos da população mais vulneráveis; ou, por fim, combinar processos de abertura econômica com políticas sociais efetivas para preservar a parte vulnerável da população, o que significa também fazer as elites brasileiras pagarem mais impostos.

Os desafios são enormes, não há dúvida, e haverá mortos e feridos. Justamente para discutir os desafios da agenda econômica, o primeiro painel do segundo dia do 7º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, evento que reúne mais de 700 participantes na cidade do Rio nesta quarta-feira, convocou não só o economista Marcos Lisboa, atual diretor do Insper, Andrea Keenan, senior managing diretor da A.M.Best, tendo como coordenador dos debates Antonio Trindade, CEO da Chubb.

O economista mostrou que o Brasil tem uma longa jornada para melhorar os seus indicadores sociais e econômicos, assinalando que as ações de longo prazo, e menos o comportamento de curto prazo dos juros e da inflação, que serão decisivos para que o País ocupe um lugar de mais destaque no pódio mundial dentro de uma década. O comércio exterior deve ter um tratamento privilegiado, porque ainda é o caminho mais assertivo para transformar a realidade e tornar um país mais rico. O economista aponta o comércio mundial como o principal responsável por reduzir a pobreza global a partir de 2000.

A intensificação do comércio global foi proeminente para nações asiáticas, cujo PIB por pessoa empregada subiu 128% nos anos seguintes, ao passo que a taxa cresceu 48,1% nos EUA, 35,4% nos países da OCDE, 12,1% na América Latina, porque o Brasil, com seus 18,6% da alta, contribuiu pouco para o resultado. A pobreza teve queda, portanto, mais pela dinâmica de empregos puxados pelo comércio mundial do que pelas políticas sociais, como o Bolsa Família, assinalou ele. "O comércio exterior foi o grande responsável pela queda das desigualdades no mundo e pouco aproveitada no País", declarou o economista.

Além de salários menores- os brasileiros recebem 25% dos trabalhadores americanos, na média, a produtividade brasileira tropeça nos últimos 30 anos. Muitas medidas podem contribuir para mudar o cenário de renda de trabalhadores, produtividade e barateamento de crédito, enfim o ambiente de negócios. Mas dependerá de um diálogo maduro e sincero entre os pares da sociedade. Não será fácil, mas não repetir erros do passado já é um primeiro passo importante, lembrou o economista.

Andrea Keenan detalhou o funcionamento da A.M.Best, seu acompanhamento de rating de empresas instaladas em 120 países e os desafios de avaliar economias do porte da brasileira. Ela destacou a importância do Brasil para a América Latina, reconhecendo que suas dimensões continentais façam as ações econômicas terem um ritmo mais lento do que no casp de economias menores, como o caso do Chile. A seu ver, mesmo que a recuperação econômica ocorra mais lentamente, a independência do Judiciário, para vigiar e punir malfeitos, e o crescimento do mercado de seguros para ampliar a proteção e encorajar a gestão de riscos são alguns dos motivos que colaboram para que "se tenha muita esperança sobre o futuro do Brasil".

No encerramento, o coordenador Antonio Trindade destacou que há um dever de casa a ser feito na busca do crescimento e acrescentou que “o seguro é fundamental para promover o desenvolvimento do País".

Fonte: CNseg, em 11.04.2018.