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Entrevista: Ronnie Tavares fala sobre uso de automação na Funpresp-Jud para manter a eficiência da área de investimentos

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Por Bruna Chieco

A Funpresp-Jud iniciou, em 2018, um processo de automação na sua área de investimentos, com o desenvolvimento de rotinas baseadas em RPA (Automação de Processos Robóticos), voltadas para a execução de tarefas operacionais repetitivas. Por meio de uma combinação de ferramentas e linguagens de programação, a fundação automatiza as rotinas operacionais e aprimora a análise de dados na área.

Em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco, o Diretor de Investimentos da Funpresp-Jud, Ronnie Tavares, fala sobre o uso da tecnologia como instrumento para manter a eficiência, mesmo com uma equipe reduzida. Segundo ele, esse processo tem trazido ganhos expressivos, como a redução de erros operacionais e aumento da confiabilidade dos dados, além de maior velocidade na execução de ordens, conciliações e processos de controle.

“Com a ampliação da diversificação dos investimentos, a implantação dos perfis de risco para as alocações e o aumento das exigências regulatórias, tornou-se imprescindível adotar soluções que assegurassem agilidade, precisão, rastreabilidade e segurança nas operações”, diz o dirigente em trecho da entrevista.

Confira a seguir, na íntegra:

Blog Abrapp em Foco: Desde quando a Funpresp-Jud vem utilizando soluções de automação na área de investimentos?

Ronnie Tavares: A área de investimentos da Funpresp-Jud iniciou seu processo de automação em 2018, com o desenvolvimento das primeiras rotinas baseadas em RPA, voltadas para a execução de tarefas operacionais repetitivas. A partir de 2021, esse processo foi expandido com a criação de uma estrutura interna dedicada ao desenvolvimento de soluções próprias em Business Intelligence e automação, dentro da própria Gerência de Investimentos.

É importante destacar que, nesta fase inicial, as aplicações associadas à chamada Inteligência Artificial (IA) ainda se concentram no primeiro estágio dessa tecnologia: robôs programados para executar tarefas específicas com alto grau de eficiência, mas sem capacidade de aprendizado ou autonomia decisória. Trata-se, portanto, de uma base sólida sobre a qual novos avanços – como aprendizado de máquina e análise preditiva – poderão ser gradualmente incorporados.

Blog Abrapp em Foco: Quais são as principais soluções utilizadas?

Ronnie Tavares: A fundação utiliza uma combinação de ferramentas e linguagens de programação para automatizar rotinas operacionais e aprimorar a análise de dados na área de investimentos. Entre as soluções adotadas, destacam-se robôs desenvolvidos em Python e VBA, voltados para a execução de ordens de investimento, conciliações, marcação a mercado e controle de limites operacionais e regulatórios.

Também utilizamos banco de dados relacional em SQL, estruturado para consolidar informações sobre ativos, fundos, gestores, benchmarks, perfis de investimento e indicadores de mercado, servindo de base para análises e relatórios automatizados.

Blog Abrapp em Foco: O que motivou a fundação a investir na modernização tecnológica dessa área?

Ronnie Tavares: O principal motivador foi o foco em eficiência que orienta a atuação da Gerência de Investimentos. O crescimento acelerado do volume de ativos e da complexidade das carteiras, somado à limitação de recursos humanos, tornou essa busca por eficiência uma prioridade estratégica.

Com a ampliação da diversificação dos investimentos, a implantação dos perfis de risco para as alocações e o aumento das exigências regulatórias, tornou-se imprescindível adotar soluções que assegurassem agilidade, precisão, rastreabilidade e segurança nas operações. A automação surgiu, portanto, como um instrumento fundamental para manter a eficiência e a governança da área de investimentos, mesmo com uma equipe reduzida.

Blog Abrapp em Foco: Quais eram os principais desafios antes da automação dos processos?

Ronnie Tavares: Os principais desafios antes da automação continuam presentes mesmo após sua implementação: o volume elevado de obrigações regulatórias que caracteriza o ambiente das Entidades Fechadas de Previdência Complementar. Diante dessa realidade, torna-se necessário transformar o esforço manual exigido por tarefas rotineiras – que comprometem a agilidade, aumentam o risco de falhas operacionais e dificultam a escalabilidade – em processos automatizados de menor custo e impacto sobre a equipe. Além disso, a necessidade de rastreabilidade sistêmica exigia dedicação excessiva a controles operacionais, reduzindo o tempo disponível para análises mais qualificadas e estratégicas.

Blog Abrapp em Foco: Quais foram os principais ganhos após a automação?

Ronnie Tavares: Os ganhos têm sido expressivos em várias dimensões, como redução de erros operacionais e aumento da confiabilidade dos dados; maior velocidade na execução de ordens, conciliações e processos de controle; liberação da equipe para atuação em tarefas mais analíticas e estratégicas; e capacidade de gerar relatórios e insights em tempo real, com maior profundidade e personalização.

Blog Abrapp em Foco: A automação tem auxiliado na identificação de oportunidades ou riscos nos investimentos?

Ronnie Tavares: Sim, mas de forma indireta. Cada minuto que a equipe deixa de gastar com tarefas operacionais de baixo valor agregado, graças à automação, é redirecionado para atividades de maior relevância estratégica, como análise de risco, avaliação de gestores e estudos de alocação. Esse ganho de tempo, proporcionado por soluções automatizadas, fortalece a capacidade analítica da equipe e, consequentemente, contribui para a identificação mais qualificada de oportunidades e riscos nos investimentos.

Blog Abrapp em Foco: E quanto à redução de custos operacionais?

Ronnie Tavares: A automação viabilizou o crescimento da operação sem aumento proporcional de estrutura, gerando economia direta para os participantes já que, com o aumento da complexidade das carteiras de investimentos e do volume de operações, seria natural a necessidade de ampliar o quadro de pessoal.

Além disso, uma das aplicações desenvolvidas otimizou a comunicação entre as Gerências de Investimentos e de Tesouraria, reduzindo o tempo de antecedência necessário para o provisionamento de recursos. Isso possibilitou uma gestão mais eficiente do fluxo de caixa e, em alguns casos, permitiu que os recursos permanecessem aplicados por mais tempo em fundos com rendimento antes de serem resgatados para atender obrigações operacionais.

Blog Abrapp em Foco: Quais os próximos passos da fundação para ampliar o uso de IA?

Ronnie Tavares: Se encontra em estágio relativamente avançado a análise de todos os processos internos da fundação para que sejam determinados aqueles passíveis de automação, os quais receberão as devidas priorizações. Há um campo promissor a ser explorado, especialmente no uso de ferramentas de Business Intelligence para análise de dados, acompanhamento tempestivo das carteiras e aprimoramento da comunicação com os participantes.

Além disso, algumas soluções estão em fase de testes, como a aplicação de modelos para reduzir o tempo de elaboração e revisão da política de investimentos, com foco na geração de cenários e simulações que apoiem a tomada de decisão.

Também deverá ser criado um Núcleo de Automação e Inteligência Artificial que será responsável pelo desenvolvimento das diversas soluções para a Funpresp-Jud como um todo, algo que está previsto para ocorrer em 2026. Entretanto, é importante destacar a necessidade de se cumprir algumas outras etapas adicionais antes da criação do citado Núcleo, tais como a criação de um Plano de Implementação de Inteligência Artificial e o estabelecimento de diretrizes de ética e uso responsável de IA.

Fonte: Abrapp em Foco, em 29.07.2025.