Buscar:

Entrevista: Oportunidades de investimentos no agronegócio

Imprimir PDF
Voltar

Por Alexandre Sammogini

Com uma longa trajetória profissional de mais de 50 anos tanto no mercado financeiro quanto no agronegócio, o consultor senior Wilson Nigri apresenta novas oportunidades de investimentos no agronegócio. Ex-executivo do Unibanco com experiência em diversas áreas da mineração e agricultura, o profissional tem mantido o foco na utilização de algas marinhas no cultivo do solo. 

Com sua consultoria, Nigri prepara uma série de apresentações para difundir a utilização das algas como adubo na agricultura em uma prática alinhada com critérios de sustentabilidade. A principal apresentação em 2025 será realizada na COP 30 em novembro em Belém do Pará. Confira abaixo a entrevista exclusiva concedida para o Blog Abrapp em Foco: 

Blog: Como será a sua participação na COP 30? Serão realizadas palestras, haverá algum estande?

Wilson Nigri: Nós vamos ter um estande na chamada AgriZone, que é uma zona a mil metros da COP. Portanto, é possível ir e voltar com facilidade. Vamos fazer demonstração em campo, em área da Embrapa. Você tem a Blue Zone, a Green Zone e agora terá a AgriZone. A AgriZone estará pertinho da Blue Zone. Então, todo mundo vai poder ver. Como há culturas de ciclo longo, médio e curto, vamos fazer, por exemplo, uma cultura de melão e outra de uva, com e sem algas. Para quem quiser ver os desenvolvimentos, é só dar um pulinho lá e observar. Estamos nos organizando com a Embrapa para, a partir de agosto, começarmos a plantar com e sem algas, para que em novembro algumas culturas estejam visivelmente desenvolvidas. Tem culturas perenes que também trabalhamos, mas há culturas de ciclo curto que demonstram resultados rapidamente.

Blog: Poderia explicar como as algas marinhas são utilizadas na agricultura? 

Nigri:  É possível utilizar os minerais e nutrientes que você tem nas algas marinhas para distribuir cálcio, magnésio, nutrientes e hormônios, através da rede hidráulica ou pelo sistema convencional de cobertura. É isso que estou focando no momento, trabalhando junto com o Roberto Rodrigues [ex-Ministro da Agricultura], dentre outros profissionais que são referências nas suas áreas, para que a COP 30 possa divulgar tudo o que o Brasil oferece de transformador e relevante para o mundo. Esse é o tema que levarei adiante junto com o Itamaraty para a COP 30. E nós estaremos instalados na COP 30 junto com a Embrapa, porque ela tem um papel importante nessa área de pesquisa, assim como as universidades.

Blog: Como as algas são utilizadas em outros países? 

Nigri: Se você olhar a costa oeste americana, Canadá, o mar do norte, a Oceania, Austrália e Nova Zelândia, a Ásia, China, Japão, as algas marinhas fazem parte do dia a dia: todo mundo conhece, todo mundo se alimenta. E aqui nós não usamos esse material, sendo que temos um crescimento das algas da mesma forma que temos no solo. Você sabe que, na economia tropical, posso fazer duas, três, às vezes quatro safras por ano, enquanto em clima temperado você tem uma.

Todo ano está embaixo de gelo, e aqui você está fazendo duas safras de milho e tendo um resultado de óleos vegetais para alimentação e para ração animal. Para óleos vegetais, você tem resultados espantosos, por conta da condição climática. A fotossíntese, num país de clima tropical, se faz com uma velocidade muito maior do que em clima temperado.

E a fotossíntese, quando feita na água ou no mar, é ainda mais acelerada. Eu digo para você que, a cada 45 ou 60 dias, você tira toneladas e toneladas de biomassa ou de matéria orgânica por hectare. Então, é muita matéria orgânica para gerar energia, para gerar alimentação e para criar as pré-condições para que, em solo, você tenha maior rendimento. Tem muito investimento que pode ser feito.

Blog: E como os investidores podem participar desses negócios?

Nigri: Os investidores podem participar através de fundos, quaisquer que sejam, fundos privados, públicos, fechados ou abertos. Tudo depende de você apresentar um plano de negócios que interesse ao investidor, que dê o retorno que ele espera no espaço de tempo que ele gostaria de receber. Podem ser estruturados fundos do tipo Fiagro, FIDCs ou Fundos de Investimentos em Participações. Todos podem ser meios de investir na flora marinha. Então, não há a menor dúvida de que este é o caminho, na hipótese de você considerar um gestor de fundos como um investidor nesse universo novo. É claro que o agronegócio marinho é um setor pouco explorado no Brasil. Nunca ninguém falou em agronegócio no mar. E o mar tem tudo o que tem no solo. E há muitas oportunidades sem dúvida.  

Blog: Quais seriam as vantagens de se investir nos projetos com utilização de algas marinhas? 

Nigri: Nós temos um programa de debates entre empresários, investidores, cientistas e pesquisadores, porque entendemos que os riscos diminuem substancialmente na medida em que você está bem informado. Então, hoje em dia, e eu não preciso dizer isso a você, a quantidade de recursos sob gestão privada é gigantesca no Brasil e no resto do mundo.

O problema não é dinheiro. O problema é como fazer uma boa gestão e atrair o interesse do investidor. E eu estou usando a minha dupla experiência. Eu trabalhei no mercado de capitais durante bastante tempo. E também no agro. Eu estou colocando esses dois elementos juntos através de um debate.

Blog: Poderia explicar um pouco mais as vantagens de utilização das algas no Brasil?

Nigri: Explorar isso comercialmente vai levar o Brasil a deixar de importar toneladas e toneladas de defensivos agrícolas que a gente importa. Então, nós estamos importando algas marinhas quando temos uma costa riquíssima. Da mesma maneira que somos eficientes no solo, somos eficientes no mar por questões climáticas, independentemente da competência do homem em transformar isso em produto. Então vamos somar as duas coisas, porque isso é bom para o país.

Blog: E como a utilização das algas constitui uma atividade sustentável?

Nigri: Isso é importante porque todos os fundos hoje têm preocupações ambientais. E atualmente há regulações que incentivam os investimentos sustentáveis. Olha, quando você fala em produtos do mar, tudo é natural, consequentemente tudo é sustentável. Então, por exemplo, toda agricultura precisa de pó de rocha porque precisa de cálcio. Você pega uma rocha, pulveriza e joga no solo porque o solo precisa de cálcio e magnésio. Até recentemente tudo era feito de rocha. Essas rochas são moídas e depois distribuídas por cobertura. Se você usa um cálcio marinho, um magnésio marinho, ato contínuo a colocar esse material no solo, você faz o plantio. O outro não, precisa dissolver, precisa percolar, leva seis, oito, nove meses, depende das condições climáticas. Se for marinho, você imediatamente semeia para soja, para milho, para qualquer cultura.

Então, a velocidade e a sustentabilidade quando você usa produtos do mar é enorme, seja no que diz respeito ao ASG, seja na gestão convencional de qualquer cultura. Eu tenho que usar cálcio, tenho que usar magnésio. Se eu uso o cálcio e o magnésio do mar, tenho resposta imediata. E cada vez que você reduz o uso de químicos — como o NPK — está melhorando as condições da sua cultura e, consequentemente, do meio ambiente. Então, é uma diferença muito marcante. O Brasil é riquíssimo em flora marinha, mas ela é pouco utilizada.

Blog: É uma prática que reduz os riscos dos investimentos?

Nigri: Por exemplo, se um está investindo em empreendimentos que utilizam algas marinhas, ele tem muito menos risco do que no sistema convencional, porque terá muito mais rendimento por unidade diária. Vou te dar outro exemplo pouco conhecido no Brasil: existem algas que alteram o processo digestivo de um ruminante. E o ruminante emite metano em grandes volumes — 60% do metano vem da pecuária. Se você usar certos tipos de algas na ração animal, você altera o processo biológico do ruminante e ele deixa de emitir metano. Imagina o Brasil, que tem um dos maiores rebanhos do mundo, fazendo uso desse produto. Quem industrializa esse produto tem uma oportunidade extraordinária de atrair investidores, porque demanda não falta. Então, imagina você reduzir a emissão de metano e ter isso rastreado desde a cultura da ração, da soja, do milho.

Blog: Qual sua visão sobre a previdência complementar no Brasil?

Nigri: Eu tenho uma visão liberal. E o liberalismo sugere, recomenda, que não é o setor público que deve fazer a gestão dos fundos de aposentadoria, mas sim o setor privado. A previdência social tem que existir — isso ninguém questiona. Agora, a boa gestão faz diferença. E a boa gestão você encontra nos fundos abertos e fechados. A gestão pública tem muitos problemas. Basta ver os problemas do INSS. É tudo que já vivenciamos e que queremos evitar.

E a Abrapp serve como referência para mostrar resultados de fundos de aposentadoria sob gestão privada. Por isso, a previdência complementar deve assumir a maior parte da gestão das aposentadorias da população. É preciso dar visibilidade ao rendimento que se obtém na gestão privada da aposentadoria de todos os segurados.

Fonte: Abrapp em Foco, em 09.07.2025