No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o CVG-SP abriu espaço para a análise das seis representantes femininas da atual diretoria sobre as conquistas e desafios das mulheres no mercado de seguros. Elas falaram sobre como superaram obstáculos nas suas respectivas trajetórias profissionais, as oportunidades que o mercado oferece - ou ainda precisa oferecer - para a ascensão feminina e também sobre os desafios da dupla jornada, sobretudo na pandemia.
Liderança feminina
Fernanda Pasquarelli, integrante da Comissão Fiscal do CVG-SP e diretora de Vida e Previdência da Porto Seguro, abre a discussão respondendo por que as mulheres, apesar de serem a maioria no mercado de seguros (53,5%), ainda são minoria nos cargos de liderança.
Segundo o último levantamento da Escola de Negócios e Seguros (ENS), a proporção é de uma mulher executiva para cada três homens. “É preciso que o setor invista em ações que ampliem a presença feminina e permitam o seu crescimento profissional”, diz.
Os vários papeis que a mulher exerce, na família e no trabalho, podem comprometer a ascensão profissional, acredita Asenate Souza, titular da diretoria de Seguros do CVG-SP e coordenadora da área de Aceitação Vida e Previdência Individual da Porto Seguro. “Muitas mulheres limitam seu potencial em detrimento das demais atribuições”, diz. Mas, Lidiane Rocha, adjunta na diretoria de Seguros do CVG-SP e gestora de Vendas da filial Santana da SulAmérica, percebe que algumas companhias estão empenhadas em promover a equidade. A própria SulAmérica é exemplo, segundo ela, por ter elevado em 28% a participação feminina em cargos executivos.
Para Ana Flávia Ribeiro Ferraz, adjunta na diretoria Administrativo Financeiro do CVG-SP e profissional de Governança de Operações da Bradesco Vida e Previdência, a pequena representatividade das mulheres em cargos mais altos é uma realidade global. No Brasil, o percentual é de 4,5% contra a média mundial de 7,2%, segundo a FGV.
“O ambiente corporativo reflete o ambiente social”, diz.
Joana Barros, titular da diretoria Administrativo Financeiro do CVG-SP e gerente Geral de Produtos Vida na Alfa Seguradora, enxerga uma “resistência de quem está nos cargos mais altos em dividir o poder com mulheres”. Ela própria admite que viu muitas oportunidades passarem sem ter a chance de participar ou concorrer ao novo cargo.
“Para uma mulher, uma promoção, por exemplo, leva muito mais tempo para acontecer, mesmo que ela demonstre capacidade”, diz.
A postura conservadora do mercado de seguros é a causa da demora na ascensão das mulheres nas empresas, na visão de Alessandra Martins Monteiro, integrante da Comissão Fiscal do CVG-SP e diretora de Subscrição de Vida e Longevidade do IRB Brasil Re.
Embora nunca tenha sofrido discriminação por ser mulher, ela admite que enfrentou situações chatas, como se deparar com a surpresa de interlocutores diante de uma liderança feminina.
Lidiane revela que também já se deparou com situações em que sentiu um tratamento diferenciado. “Percebi nas entrelinhas que fui preterida em determinada escolha por uma questão sexista”, diz. Fernanda afirma que nunca deixou que as barreiras da desigualdade de gênero a detivessem. “Sempre foquei no meu autodesenvolvimento e na forte sustentação acadêmica para atingir os melhores resultados”, diz. Já Alessandra vê mudanças e está otimista. “Em pouco tempo, acredito que estaremos em posição de igualdade com os homens”, diz.
Superação
Asenate Souza discorda de quem considera a mulher sexo frágil, até porque muitas profissões tidas como masculinas já vêm sendo ocupadas pelo sexo feminino. “As mulheres empreendem esforço em dobro para demonstrarem sua capacidade e estão conquistando mais espaço de forma espetacular”, diz. Ela admite que já teve de tomar decisões para conciliar a vida profissional com a pessoal, destacando que muitas mulheres passam por isso quando precisam escolher o melhor momento para voltarem a estudar ou terem filhos ou assumirem outros cargos.
“São situações que tive de administrar”, afirma.
Com dois filhos gêmeos de dez anos, Alessandra também precisou conciliar a maternidade com a vida profissional, o que classifica como o maior desafio de sua vida. Na sua visão, as mulheres se sentem culpadas por trabalharem demais e se cobram por acharem que os filhos tiram o foco da carreira. “Com o tempo, aprendi a fazer o melhor em cada um dos papeis”, diz.
Ana Flávia considera a objetividade uma habilidade muito importante para superar desafios, mas não a única. “Empatia e colaboração são comportamentos essenciais nessa jornada tão desafiadora”, diz. Para Fernanda, as mulheres têm características que se sobressaem na área de seguros, como concentração, sensibilidade, olhar detalhista, criatividade e execução de vários afazeres ao mesmo tempo. Joana concorda e inclui as habilidades de inovação e observação, a seu ver fundamentais para o seguro.
Todas as diretoras do CVG-SP concordam que o mercado de seguros oferece oportunidades de ascensão feminina. Ana Flávia vai além ao indicar um ambiente favorável para que ambos os sexos em novas áreas de conhecimento dentro do mercado, como a economia comportamental, educação financeira e as transformações sociais e do trabalho. No entanto, diz que é preciso demonstrar capacidade de aprender e se posicionar de “modo flexível e holístico”.
Desafios da pandemia
Para Lidiane Rocha, a pandemia transformou o cotidiano de todas as famílias, trazendo muitos desafios para o equilíbrio entre saúde física, emocional e financeira das pessoas.
Ela conta que enfrentou uma situação difícil logo no início. “Tenho uma filha de 4 anos cheia de energia e houve um primeiro choque para entender o momento de a mamãe trabalhar e de fazer as atividades com ela. Levou um tempo, mas conseguimos nos ajustar”, diz.
Conciliar trabalho, crianças em aulas online e tarefas domésticas foi também um dos maiores desafios na vida de Alessandra. “Tudo isso agravado pela ansiedade de não saber o que viria pela frente”, diz. Por outro lado, ela avalia o lado positivo. “Nesse um ano tive uma convivência intensa com meus filhos como nunca”, diz.
Para Joana Barros, ajustar o ambiente familiar para dividi-lo entre a performance no trabalho e as rotinas de casa foi difícil “Sem falar que em casa, acabamos por estender o horário de trabalho até nos momentos que deveriam ser somente de lazer”, acrescenta.
Ana Flávia também se viu colocada à prova em relação à divisão das tarefas domésticas. Mas descobriu que a comunicação é uma aliada para enfrentar o descompasso. “O trabalho em conjunto supera, na maioria das vezes, a simples soma dos esforços”, analisa.
Para Fernanda, as mulheres demonstram a capacidade de se reinventar em situações adversas. No seu caso, ela passou a executar com mais frequência as atividades domésticas e, entre uma reunião e outra, orientar o filho nos deveres de escola. Mas, ela também enxerga o lado positivo. “Com o passar dos meses, percebemos que ganhamos eficiência na otimização das reuniões com assuntos priorizados e decisões mais assertivas”, diz.
Já Asenate revela que enfrentou uma grande mudança no home office ao compartilhar o espaço com duas filhas adolescentes e um cachorro. Outro desafio foi adaptar a rotina do trabalho com os afazeres domésticos. “Aprendemos a nos organizar e a dividir tarefas. O combinado é: usou, lavou”, diz. Houve, ainda, o desafio de lidar com anseios, preocupações e perdas de familiares e amigos vítimas da covid-19. Passado um ano, a situação não mudou muito, mas ela tem esperança na vacinação da população. “Estou ansiosa pelo novo normal”.
Em uma visão otimista, Lúcia Gomes, gestora do CVG-SP, diz que apesar de todas as dificuldades, é muito bom ver o avanço feminino, ainda que desproporcional, através da participação de mulheres em altos cargos de gestão no mercado segurador.
"Cabe a todas nós, comemorar cada vitória, ousar, inovar e seguir em frente, conciliando sempre a essência da mulher com os desafios do mundo corporativo!"
Fonte: CVG-SP | Texto: Márcia Alves, em 08.03.2021