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Conexão sem limite de idade

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Foi-se o tempo que a tecnologia e as redes sociais eram exclusividades dos jovens. Diariamente um verdadeiro exército de pessoas com mais de 60 anos se conecta com o mundo pelos computadores e celulares, ocupando de vez o seu lugar na era digital

O uso da internet e das redes sociais pela faixa etária acima dos 60 anos de idade é uma das maiores demonstrações das mudanças geradas pela longevidade e as transformações vividas pelos idosos ativos. Estudo do Instituto de Pesquisa Locomotiva mostra que o número de internautas acima da terceira idade cresceu 940% de 2008 a 2016, ultrapassando 5,2 milhões de novos usuários da internet nesta faixa etária no Brasil. Assim, pelo computador, eles estão se relacionando mais com a família ou amigos de infância, conseguem saber das novidades e aprender, compartilham suas histórias, vivências e experiências.

Os impactos do Facebook na vida dos idosos é um dos destaques do projeto de pesquisa desenvolvido pela gerontóloga Tássia Monique Chiarelli, na dissertação de mestrado na Pós-Graduação em Gerontologia, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo (EACH – USP). Intitulado como “Relações sociais na velhice via Facebook: um exame da extensão da teoria da seletividade sócio-emocional”, o trabalho relata que, para a terceira idade, o Facebook é um recurso mais relacionado à manutenção de contatos sociais do que à criação de novas amizades. “Dentre as motivações para o uso, destaca-se o resgate de amizades antigas, uma vez que fatores de ordem geográfica, por exemplo, impediam ou dificultavam o relacionamento. O Facebook, então, pode ser compreendido como uma ferramenta que minimiza fatores externos e internos que dificultam o relacionamento, potencializando trocas já existentes constituídas em alguma fase da vida”.

Contudo, apesar da rede social do idoso não se expandir, ele faz uso do seu círculo social não apenas para garantir retorno emocional, como também para motivações ligadas à ordem informativa e de conhecimento de mundo. “Ou seja, os idosos utilizam da sua rede para obter e trocar saberes. Pela fácil interação e acesso a novas informações, a tecnologia pode ampliar as suas metas, já que para isso, eles não precisam dispender tanta energia como em um contexto offline”.

A autora lembra ainda que o idoso atual tem passado por um fenômeno de inclusão digital que muito provavelmente as próximas gerações não viverão ou passarão de forma mais tênue. “As Redes Sociais Digitais, por serem intuitivas e de fácil aprendizagem, tornam-se ferramentas poderosas no processo do saber. Isso faz com que o Facebook não seja espaço apenas de entretenimento, mas fonte de novos conhecimentos, desenvolvimento de potencialidades, encontro de amigos e familiares e de reconhecimento de seu próprio ser”.

Hábitos tecnológicos

A empresa AVG Technologies se debruçou sobre o assunto do uso da tecnologia pelos idosos e encontrou respostas ainda mais esmiuçadas para avaliar as mudanças de comportamento do público dessa faixa etária. A pesquisa ouviu pessoas com mais de 50 anos em diversos países, dentre eles o Brasil, sobre seus hábitos tecnológicos e opiniões a respeito das novas tendências desse mercado. Confira alguns dos principais resultados do estudo no país:

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Inclusão Social

Outra importante análise sobre o uso das redes sociais pelos idosos foi feita no livro “Comunicação Pública – Idosos e representações sociais”, compilação da tese de doutorado da professora universitária Denise Regina Stacheski, doutora e mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, com estágio doutoral na Universidade Nova de Lisboa (Portugal), graduada em Comunicação Social/Relações Públicas e especialista em Gestão de Recursos Humanos. De acordo com a autora, estudos demonstram que as práticas de comunicação e interconexões digitais possibilitadas pelo Facebook alteram positivamente a rotina dos idosos em busca de uma melhor qualidade de vida. Essas práticas combatem, muitas vezes, aspectos existentes na terceira idade (e também em outras fases da vida), como a solidão, a depressão e o isolamento. “Existe uma ressignificação do ‘eu’ idoso no Facebook, por um grupo de sujeitos, através da autorrepresentação positiva do envelhecimento entre atores individuais”.

Nas suas pesquisas, ela ressalta que se compreende o efeito da inclusão social experimentado por idosos, nas novas mídias, pelo fato de que as plataformas digitais multiplicam suas oportunidades de se integrarem à sociedade, se apropriarem dos códigos, dos meios e da linguagem da sociedade atual. “A população idosa, portanto, pode se beneficiar pela potencialização dialógica da internet, estimulando suas atividades mentais e para obter informações e serviços que são solicitados e apreendidos sem a exigência de locomoção física ou de um alto custo financeiro. Nesse caso, a comunicação pública pode experienciar as redes sociais para incentivar o diálogo, a participação cidadã e a discussão de problemas da coletividade”.

Fonte: Quanta Previdência, em 10.10.2019