Seguradoras apresentam maior eficiência operacional, o que favorece consumo
No período de 11 anos, a eficiência operacional das seguradoras (calculada com a divisão entre despesas administrativas e arrecadação menos prêmio ganho) teve um avanço consistente, principalmente nos últimos três anos. As despesas administrativas, que representavam 15,2% da arrecadação em 2012, recuaram para o menor patamar no ano passado, situando-se em 11,9%. Em 2020, ano da pandemia, as despesas administrativas representaram 14,8% da arrecadação.
Esse desempenho operacional abre folga no caixa das seguradoras, resultado de investimentos em diversas tecnologias, e se torna uma contribuição importante para reduzir os valores dos prêmios. A perspectiva é de que a melhoria da eficiência operacional mantenha tração nos próximos anos.
A eficiência operacional foi um dos temas destacados pelo presidente do Conselho Diretor da CNseg, Roberto Santos, ao participar de um dos painéis do 23º Congresso dos Corretores de Seguros da Fenacor, encerrado no sábado, no Rio.
“Quando se vende um seguro, um fator preponderante para sua penetração é preço. E um dos componentes da formação dos preços são as despesas administrativas e operacionais. As seguradoras, como resultado dos investimentos na digitalização e uso de outros recursos tecnológicos, têm apresentado uma queda nas despesas, notadamente nos últimos três anos, a ponto de já haver empresas que rodam com despesas abaixo de 10% (incluindo despesas administrativas e operacionais). Esse número vai continuar caindo bastante, ajudando as cias a reduzir os prêmios e a haver mais adesões aos seguros”, assinalou Santos
Além de maior eficiência operacional, as tecnologias usadas pelas seguradoras são importantes para materializar o mercado potencial de seguros, lembrou ele. Hoje, a carteira de Automóvel, a de maior taxa de penetração, oferece proteção a perto de 30% da frota nacional. No residencial, apenas 17% dos domicílios são alcançados. Menos de 15% da População Economicamente Ativa (POA) conta com planos de previdência. Há um quarto da população amparada por planos de saúde e, no agro, apenas 10% da área cultivada no país é segurada.
Ou seja, o mercado segurador pode crescer significativamente em todas as suas linhas de negócios. Nesse sentido, lembrou as diretrizes do Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros (PDMS), criado pela CNseg e apoiado por outras entidades do mercado de seguros. Em síntese, o PDMS planeja ampliar em 20% a parcela da população atendida pelo setor; elevar as indenizações para 6,5% do PIB em 2030- R$ 731,5 bilhões, em números atuais- e a arrecadação para 10% do PIB em termos de participação do setor em 2030- algo próxima de R$ 1,13 trilhão a valor presente.
Há desafios e oportunidades nessa marcha de expansão do mercado segurador. Entre as oportunidades, consta a criação de instrumento de amparo financeiro para vítimas de desastres naturais – o chamado Seguro catástrofes; a utilização de IA Generativa para redesenho de processos operacionais; precificação e subscrição de riscos; a redução do tíquete médio de prêmio como consequência da adoção de metodologia digital para construção de jornadas, produtos inovadores e transformação da comunicação com a sociedade, simplificando-a com a extinção do "segurês".
Entre os desafios, enumera ele, mais de 8 milhões de brasileiros vivem em regiões de risco, sendo que 2,5 milhões estão instalados em áreas de alto risco e vulnerabilidade. Acrescenta que, nos últimos 10 anos, 93% dos municípios brasileiros foram atingidos por eventos climáticos, registrando estado de emergência ou calamidade pública, o que reclama uma mudança do mindset do mercado em relação à emergência climática, saindo de uma postura “reativa para proativa”. Por fim, a regulamentação das APV´s preocupa no sentido de que as regras sejam equivalentes às das seguradoras. O papel do regulador será fundamental para garantir a simetria entre as operações.
Impactos do furacão Milton: estimativas de perdas e implicações para o mercado de seguros
O furacão Milton, que no início de outubro atingiu a Flórida, EUA, com categoria 3 antes de atravessar a região central e se afastar como uma tempestade de categoria 1, terá impactos profundos no setor de seguros. Mesmo com a resiliência das seguradoras, as perdas causadas por Milton podem influenciar as taxas de seguro e o mercado de resseguros nos próximos anos
- As seguradoras americanas podem enfrentar perdas seguradas entre US$ 30 bilhões e US$ 50 bilhões, de acordo com as estimativas da Fitch Ratings Inc.
- As consequências do furacão Milton podem também frear a tendência de queda nas taxas de seguros de catástrofes imobiliárias previstas para 2025
Milton: comparação com furacões anteriores
Se as projeções se confirmarem, Milton poderá se tornar o segundo furacão mais caro em termos de perdas seguradas desde o Furacão Ian, que causou prejuízos de US$ 60 bilhões em 2022.
Com a adição dos danos causados por Milton, o total de perdas seguradas por catástrofes nos Estados Unidos ultrapassará a marca de US$ 100 bilhões pelo quinto ano consecutivo
O furacão Milton e o efeito nas taxas de seguro
A Fitch Ratings alertou que o elevado nível de perdas catastróficas provavelmente limitará qualquer potencial de queda nas taxas de seguros de catástrofes imobiliárias em 2025, uma vez que as seguradoras e resseguradoras devem manter a disciplina de subscrição para enfrentar os riscos. Dependendo dos valores finais das perdas provocadas pelo Milton, os preços das coberturas de seguros para catástrofes podem aumentar. No entanto, é improvável que os aumentos de 2023 sejam repetidos, já que o ambiente de preços atuais está mais equilibrado.
Impacto do furacão Milton na Flórida e nas seguradoras
Antes da temporada de furacões, o mercado de seguros patrimoniais na Flórida havia registrado uma queda nas taxas de até 10% nas renovações de resseguro de junho/julho de 2024. No entanto, com o impacto do Milton, essa tendência pode ser revertida.
Apesar dos prejuízos, as principais seguradoras e resseguradoras com exposição na Flórida não deverão enfrentar rebaixamentos em seus ratings de crédito, segundo a Fitch. Isso se deve aos fortes níveis de capital das empresas nas linhas de propriedades e casualty, bem como das resseguradoras globais. Além disso, o repasse de riscos para resseguradoras poderá reduzir as perdas diretas das seguradoras, especialmente para aquelas especializadas com retenções mais baixas.
Inflação e prejuízos adicionais causados pelo furacão Milton
As perdas finais das seguradoras e resseguradoras também dependerão da demanda dos consumidores por reparações e reconstrução após o furacão. A Fitch destacou que os custos de mão de obra, agravados pela inflação, podem aumentar os prejuízos das seguradoras em até 20%.
Fonte: CNseg, em 14.10.2024