Da Conjuntura CNseg: crescimento, revisões e desafios nas projeções para o mercado segurador em 2024
• A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) estima que a arrecadação do setor segurador será 11% maior em 2024, de acordo com a Conjuntura nº 105, de junho deste ano, sendo 1 p.p. acima da revisão das projeções feitas nessa edição
• No entanto, a nova previsão está 0,7 p.p. abaixo do que foi divulgado em dezembro de 2023, na Conjuntura nº 97. Os seguros de Danos e Responsabilidades, particularmente os de automóvel e rural, sofreram reduções trimestrais nas estimativas, enquanto Previdência Aberta e Saúde Suplementar superaram expectativas
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Revisão das projeções macroeconômicas
Além das previsões para o setor segurador, a CNseg também revisou as estimativas macroeconômicas para 2024. De acordo com a Conjuntura nº 105, a previsão de crescimento do PIB foi ajustada para 3%, o IPCA para 4,1%, e a taxa Selic para 11,75%. O presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, destacou que "a atividade econômica se manteve aquecida ao longo do ano, em grande parte devido ao bom desempenho do mercado de trabalho, com massa salarial e renda real mais fortes, além de um mercado de consumo robusto".
Projeções de crescimento por produto
• Saúde Suplementar: o segmento de Saúde Suplementar alcançou 84,9 milhões de beneficiários dos Planos Médico-Hospitalares e Exclusivamente Odontológicos em julho de 2024, um aumento de 4% em relação a julho de 2023, segundo a ANS. O número de beneficiários dos Planos Médico-Hospitalares se manteve acima de 51 milhões por três meses consecutivos e, por 17 meses seguidos, acima de 50 milhões. Com esse desempenho e as condições econômicas favoráveis, a CNseg prevê que a arrecadação de Saúde Suplementar encerre 2024 com alta de 10%, 2 p.p. acima das estimativas feitas na Conjuntura nº 105
• Previdência Aberta: o segmento de Previdência Aberta também teve resultados expressivos, com uma expansão prevista de 15,9%, 1,8 p.p. a mais que as estimativas de junho e 7,8 p.p. acima do estimado em dezembro de 2023, na Conjuntura nº 97. A Família VGBL foi o principal fator impulsionador desse crescimento, além de outros produtos, como Habitacional, Garantia e Fiança Locatícia
• Cobertura de Pessoas: o segmento de Cobertura de Pessoas, que inclui Seguros de Vida e Prestamista, também teve um aumento significativo. A previsão de crescimento passou de 8,4% em dezembro de 2023 para 15,1% na projeção atual, puxado pela forte demanda por produtos de proteção financeira
• Riscos Financeiros: O segmento de Riscos Financeiros continua a ser um importante instrumento para mitigar riscos, especialmente com o mercado de crédito aquecido. A Conjuntura nº 105 projetou um crescimento de 21% para 2024, e dois produtos se destacam: Fiança Locatícia, que subiu de 18% para 22,1%, e Seguro Garantia, que aumentou de 24,3% para 29,1%
• Seguro Habitacional: a CNseg prevê um cenário positivo para o Seguro Habitacional, com um crescimento de 12,9% (acima dos 9,8% projetados anteriormente), graças ao aumento de 23,1% nas concessões de financiamento imobiliário no primeiro semestre de 2024, alcançando R$ 108,1 bilhões, segundo o Banco Central
Produtos com redução nas estimativas
• Seguro Rural: ao comparar com as projeções feitas em junho na Conjuntura nº 105, a CNseg reduziu a estimativa de crescimento do Seguro Rural de 7,9% para 1,0%. Isso se deve à subvenção insuficiente do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), além das adversidades climáticas, como queimadas e eventos climáticos extremos, que aumentaram os custos de produção. Dyogo Oliveira explicou que "o valor da subvenção em 2024 continua aquém do que é demandado pelos produtores, colocando a agricultura em um período de adversidade".
• Seguro Automóvel: o Seguro Automóvel também apresentou uma queda na estimativa de crescimento, passando de 7,2% para 2,7%. Segundo Dyogo Oliveira, "a redução no preço dos veículos e a estabilidade na frota segurada são os principais fatores que pressionam os prêmios para baixo", com expectativa de estabilidade na arrecadação nos próximos meses.
Desempenho do mercado segurador no primeiro semestre de 2024
No primeiro semestre de 2024, o setor segurador pagou quase R$ 247 bilhões em indenizações, resgates, benefícios, sorteios e despesas assistenciais, um aumento de 6% em comparação ao mesmo período de 2023. A arrecadação total somou R$ 361,5 bilhões, um crescimento de 14%, impulsionado por prêmios de seguros, contribuições de previdência, títulos de capitalização e contraprestações de saúde.
A Previdência Aberta foi o destaque do semestre, com contribuições avançando 23%, somando R$ 94 bilhões, o que representa 41% do total arrecadado pelo setor. O segmento de Saúde Suplementar também teve um crescimento significativo, alcançando R$ 152 bilhões em contraprestações líquidas, uma alta de 15,3% em comparação com o primeiro semestre de 2023. No mesmo período, foram pagos R$ 126,4 bilhões em eventos indenizáveis, um aumento de 8,8%.
Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, afirmou que "o desempenho do mercado segurador reforça seu papel estratégico no apoio ao planejamento financeiro das famílias e na estabilidade do mercado de crédito no Brasil".
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Blockchain e criptomoedas: novas possibilidades e desafios para o mercado de seguros
O blockchain e as criptomoedas estão redesenhando o mercado financeiro e impactando diretamente o setor de seguros. À medida que a tecnologia avança, as seguradoras têm a oportunidade de se reinventar
O que é blockchain e o que são criptomoedas
• Blockchain: é uma tecnologia que funciona como um livro-razão digital, onde todas as transações são registradas em blocos interligados em uma cadeia. Cada bloco contém um conjunto de transações verificadas e está criptograficamente ligado ao bloco anterior, garantindo a segurança e a transparência das informações. A principal característica do blockchain é que ele é descentralizado, ou seja, não depende de uma autoridade central, como um banco ou governo, para validar as transações.
• Criptomoedas: são moedas digitais baseadas em blockchain que utilizam a criptografia para garantir transações seguras e controladas. A mais famosa é o Bitcoin, mas existem muitas outras, como Ethereum, Ripple e Litecoin. Essas moedas podem ser usadas para compras, transferências de dinheiro, investimentos e, em alguns casos, para acessar serviços dentro de plataformas digitais.
Novas possibilidades surgidas com o blockchain e as criptomoedas
• Transações seguras e rápidas: com blockchain, as transações financeiras podem ser realizadas em poucos minutos, de forma transparente e segura, sem a necessidade de intermediários como bancos. Isso reduz custos e simplifica processos, especialmente em transferências internacionais.
• Descentralização: blockchain e criptomoedas permitem transações sem a interferência de bancos centrais ou governos. Isso torna possível, por exemplo, que pessoas em países com sistemas financeiros instáveis tenham acesso a um meio de troca confiável.
• Contratos inteligentes: a tecnologia blockchain possibilita a criação de contratos inteligentes (smart contracts), que são códigos que executam automaticamente ações (como transferir dinheiro) quando certas condições são atendidas. Isso pode revolucionar diversas áreas, como seguros, imóveis e logística.
• Novos modelos de investimento: com criptomoedas, surgiram novas formas de investimento, como o mercado de tokens, que inclui os NFTs (tokens não fungíveis). Os investidores agora podem diversificar suas carteiras em ativos totalmente digitais.
Desafios para o mercado de seguros com blockchain e criptomoedas
• Regulamentação e conformidade: o mercado de seguros precisa se adaptar a um ambiente em que criptomoedas e ativos digitais ainda são amplamente não regulamentados, o que traz incertezas sobre como cobrir riscos relacionados a perdas, roubos ou fraudes em transações com criptomoedas
• Avaliação de risco: criptomoedas são conhecidas por sua alta volatilidade, com preços que podem mudar drasticamente em questão de horas. Para o setor de seguros, isso cria um desafio na hora de calcular prêmios e coberturas para ativos digitais, exigindo métodos de avaliação de risco inovadores
• Segurança cibernética: as transações com criptomoedas, embora seguras pela natureza do blockchain, ainda estão sujeitas a ataques hackers, fraudes e erros de usuários, como a perda de chaves privadas. As seguradoras precisam desenvolver coberturas específicas para esse tipo de risco, incluindo proteção contra crimes cibernéticos
• Armazenamento de ativos: as seguradoras precisam garantir que criptomoedas sejam armazenadas com segurança. A criação de políticas e ferramentas para o armazenamento seguro, como carteiras digitais seguras e sistemas de autenticação, é fundamental para oferecer produtos de seguros confiáveis
• Desenvolvimento de produtos personalizados: com a chegada do blockchain e das criptomoedas, há uma necessidade crescente de criar produtos de seguros personalizados, que atendam às necessidades dos clientes no mercado digital. Estes novos produtos incluem apólices para ativos digitais, como carteiras de criptomoedas, e até mesmo seguros que utilizam contratos inteligentes para automatizar processos de sinistros.
Resseguros: crescimento contínuo, mas inflação de sinistros preocupa o setor
• As operações globais de resseguros apresentam um viés de alta com uma demanda contínua e um futuro promissor para os próximos anos
• Mas existem desafios significativos, como a inflação de sinistros em diversos segmentos e riscos de queda na atividade econômica global. Essa conclusão é parte de um levantamento da Munich Re
Thomas Blunck, membro do Conselho de Administração da resseguradora alemã, afirmou que “o ambiente de mercado para resseguradoras continua promissor e desafiador ao mesmo tempo. Após um crescimento pronunciado nos últimos anos, o mercado global de resseguros deve crescer de 2% a 3% (ajustado pela inflação) nos próximos três anos, praticamente pescoço a pescoço com o setor de seguros primários”
Crescimento de resseguros mais acelerado na Ásia-Pacífico e América Latina
O crescimento dos resseguros pode ser mais forte na Ásia-Pacífico e na América Latina, enquanto na Europa e na América do Norte espera-se um ritmo mais lento. O cenário macroeconômico, apesar de apresentar riscos geopolíticos consideráveis, mostra sinais de estabilização. A previsão é de um crescimento econômico global em torno de 2,5% nos próximos anos, menor do que nos anos pré-pandêmicos.
Inflação de sinistros: uma preocupação persistente, também para resseguros
Blunck destaca que, embora a inflação esteja em declínio nas economias avançadas, ela deve permanecer em níveis mais elevados nos próximos anos em comparação com a última década. No resseguro, a inflação de sinistros é ainda mais pronunciada devido a fatores independentes das condições macroeconômicas, como aumento de indenizações nos EUA ("inflação social"), avanços nos custos médicos, custos elevados de assistência e escassez de materiais de construção e mão de obra qualificada.
Capacidade de resseguro em expansão
Segundo o estudo, com base em dados da AM Best/Guy Carpenter, o capital global de resseguro, um indicador da capacidade do setor, aumentou para US$ 515 bilhões em 2024. O mercado de capital de risco alternativo também cresceu, mas sem causar impacto significativo no mercado de resseguro. A demanda por capacidade de resseguro permaneceu alta, contribuindo para a estabilização do setor em um patamar elevado.
Blunck concluiu que "lucros adequados são cruciais para o setor de resseguros, que não conseguiu ganhar o custo de capital em quatro dos últimos sete anos. Atingir consistentemente taxas adequadas ao risco é fundamental devido à crescente volatilidade e exposição ao risco, o que se traduz em uma necessidade de mais capital de risco".
Fonte: CNseg, em 26.09.2024