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A carta de Trump e o setor de seguros

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Por Antonio Penteado Mendonça

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A carta de Donald Trump para o Presidente Lula já foi comentada de todas as formas, sob todos os ângulos, no Brasil e no exterior. Assim analisá-la está fora do escopo do artigo. Cabe apenas dizer que foi dos mais lamentáveis passos dados numa longa relação entre duas nações que pelo tamanho do território e população têm peso no mundo e mais ainda nas Américas.

Pretender compara o poder econômico, tecnológico e militar de Brasil e Estados Unidos é completamente sem sentido. Não há como, de um lado está a nação mais poderosa do planeta, do outro, um país emergente. De um lado o “player” mais vigoroso no jogo econômico internacional, de outro uma nação com peso nos mercados de “commodoties”, especialmente agroindústria e mineração. Qualquer tentativa de enfrentamento direto pelo Brasil seria um completo suicídio. Mas isso não significa que o país deva se curvar a vontade do presidente norte-americano e aceitar os disparates elencados por ele para justificar uma tarifa na casa de 50% para todos os produtos brasileiros.

Diz uma antiga brincadeira de adolescentes que “foi com paciência e com jeito que o Juquinha convenceu a professora”. O Brasil tem que atuar com a competência do Juquinha e encontrar os argumentos adequados para sensibilizar o presidente norte-americano, sabidamente um homem vaidoso, que gosta de elogios e salamaleques. Não foi por outra razão que o primeiro-ministro de Israel escreveu uma carta, indicando o presidente Trump para o Prêmio Nobel da Paz.

O caminho é por aí, mas enquanto as coisas ficam como estão, temos que conviver com os estragos que um absurdo como a taxação de 50% sobre as exportações brasileiras pode causar na nossa economia. É verdade que vários produtos com componentes brasileiros ficarão mais caros para os norte-americanos. Mas o peso das duas economias, uma na outra, não pode ser comparado. Nesta briga quem perde mais é o Brasil. A nosso favor, temos que os Estados Unidos são antes de tudo pragmáticos e que não tem sentido as coisas evoluírem para o pior. Por isso, como dizia Orestes Quercia, muita cautela, caldo de galinha e competência nessa hora.

O desenrolar do drama está mapeado e vários setores dão como certas perdas significativas em seus negócios. Entre as atividades que podem ser prejudicadas, o setor de seguros não é o mais comprometido, mas também deve ser afetado.

As consequências das tarifas, começando pelo risco de aumento da inflação e desvalorização do Real, afetam o desempenho do mercado. Mas as ameaças são maiores, passam pela desaceleração da economia brasileira - inclusive o agronegócio - que ficará sujeita ao aumento dos preços de insumos e equipamentos importados, essenciais para o seu funcionamento. Além disso, num quadro de esfriamento da atividade econômica, o aumento do desemprego é um fator a ser considerado. Ele tem impacto nos seguros de pessoas e planos de saúde privados. E a queda das exportações, em complemento a redução da atividade industrial, significa também a redução das operações de transporte. Ou seja, boa parte dos produtos de seguros correm o risco de não performarem de acordo com as previsões.    

Fonte: O Estado de São Paulo, em 14.07.2025.