Por Alexandre Serpa (*)
Finalizado o fantástico 3º Congresso Internacional de Compliance & Regulatory Summit, evento conjunto da LEC e da Thomson Reuters, do qual tive a honra de participar como ouvinte e palestrante, gostaria de deixar aqui registradas minhas extremamente positivas impressões pessoais.
No evento todos tivemos a oportunidade de escutar palestrantes de um conhecimento técnico invejável, com experiência prática nas diversas facetas dos programas de compliance e integridade, discorrendo sobre a “realidade” do momento pelo qual nosso país e instituições, públicas e privadas, passa no que tange ao tema da ética e da integridade.
Como comentado por mais de uma pessoa no palco do evento, pudemos testemunhar uma bela evolução dos programas de compliance e das discussões em torno dos mesmos. E tivemos a felicidade de ouvir diversos representantes de instituições públicas repercutirem as ideologias, problemas, desejos, frustrações e perseverança que vivemos em nossas instituições privadas. Ao mesmo tempo ouvimos um pouco de dúvida sobre o futuro. Dúvidas essas bastante focadas na falta de ‘aplicação’ de nossa ‘nova’ Lei 12.846/2013.
Mas o que mais me deixou animado foi o fato de que pudemos todos perceber que há bastante “perseverança” em todos. E gostaria de fazer alguns comentários acerca disso.
Muitos reconhecem que o Brasileiro tem muito “fogo de palha”, aquele fogo que se aviva rapidamente, mas que morre tão ou mais rapidamente. Temos muita “iniciativa” e pouca “acabativa”. Nos frustramos muito rapidamente e não perseveramos…
Já ouvi que parte da culpa por isso é a falta de um inverno de verdade, nos moldes das grandes latitudes. Por nos faltar o frio do inverno rigoroso, e todas as agruras que o mesmo traz, também nos falta algo intrínseco aos que vivem nesse clima. Nos falta “planejamento”, e sem planejamento talvez nos falte a capacidade de entender que há prazos, e se há prazos há paciência, e que no final de tudo há “solução”. Poderíamos também incluir aqui a nossa mania de dar jeitinho pra tudo – mania essa que é motivo de orgulho para muitos, mas que, em minha opinião, é o berço dos problemas que temos hoje – mas não o farei por total desnecessidade.
Pois bem, não discutamos o problema mas sim a solução – Foco no Futuro.
Nenhum de nós, profissionais responsáveis por programas de compliance, deveria ter a ilusão de que os problemas – muitos, complexos e arraigados – relacionados à ética e à integridade; tanto pessoal, quanto profissional e corporativa; serão resolvidos em um curto espaço de tempo. Nenhum de nós deveria achar que ainda estaremos vivos e trabalhando quando esses problemas forem resolvidos. Em contrapartida, todos nós devemos continuar a abrir os caminhos para aqueles que nos sucederão nessa árdua batalha. Todos nós devemos sim olhar para o objetivo maior e planejar a caminhada até lá – mesmo que os pés que lá cheguem não sejam os nossos.
Em uma apresentação da Controladoria Geral do Município nos foi mostrado que apenas 31% dos processos contra servidores por improbidade administrativa são finalizados. Não me tomem por um otimista ou por uma “Poliana” (quem me conhece sabe que sou o oposto), mas não há motivo para ficarmos focando nos 69%. Temos já um histórico de sucesso para quase um terço dos casos. Então há sim pessoas sérias, instituições sérias, em nosso país. Há sim esperança de um futuro melhor. “É apenas um fogo de palha, uma brasa na floresta,” podem comentar alguns, mas se há uma brasa, basta que a alimentemos para que consigamos um incêndio. Então vamos todos nos unir e soprar essa brasa, vamos todos carregar lenha para alimentar essa chama. Vamos continuar a dar esses pequenos e iniciais, mas firmes, passos em direção a um futuro melhor. E se alguém por aí, que se intitula um “profissional de compliance” está nessa apenas para ganhar dinheiro, que deixe a trilha livre para aqueles que querem sim pavimentar o caminho.
(*) Alexandre Serpa é Diretor de Compliance - CVS Caremark (Drogaria Onofre). Há cinco anos atuando em Compliance é um profissional com 17 anos de experiência nas áreas de governança corporativa (Compliance, Auditoria, Gestão de Riscos e Controles Internos) em empresas de Consultoria, Indústria Farmacêutica (Brasil e Suiça) e Varejo Farmacêutico. Graduado em Ciências da Computação pela UNESP e pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV. Certificado em Investigação de Fraudes (CFE – Certified Fraud Examiner) e em Compliance e Ética (CCEP – Certified Compliance and Ethics Professional).
Fonte: LEC, em 26.06.2015.