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Demografia traz oportunidades

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Independentemente da análise que cada brasileiro faz do comportamento atual da economia e de suas perspectivas, há um fenômeno em marcha que sem qualquer favor se poderia definir como estrutural, isto é, veio para ficar, gostemos ou não dele. É o chamado “bônus demográfico” e tem tudo a ver com os fundos de pensão, tanto na ponta do passivo quanto dos ativos.

O quadro que define o “bônus demográfico” decorre da ocorrência simultânea de queda na taxa de natalidade, elevação da expectativa de vida e crescimento da população economicamente ativa, uma vez que por um certo tempo essa faixa intermediária da pirâmide etária brasileira contará com uma proporção maior de pessoas com idade para frequentar o mercado de trabalho.

 “Isso criará condições que mexerão com os investimentos”, resume Marcelo Mello, Vice-presidente de Investimentos da SulAmérica Investimentos, conectando os fundos de pensão ao assunto. No mesmo sentido, Aquiles Mosca, Superintendente-executivo da Santander Asset Management, nota que as novas circunstâncias precisarão ser bem exploradas pelos fundos de pensão em seus investimentos, na direção de um incremento dos rendimentos, já que será necessário enfrentar um passivo cada vez mais afetado pela maior longevidade.

Nos 25 anos decorridos entre 1981 e 2006 o número médio de filhos por mulher passou no Brasil de quatro para dois. Hoje, é de 1,8, mostram os números do IBGE. No outro lado da régua, no mesmo período a expectativa de vida ao nascer aumentou nada menos que 10 anos. Deverá chegar a 80 anos, em 2041, e a 81,2 anos, em 2060. As projeções oficiais indicam que a população brasileira chegará a 201 milhões de habitantes em 2014 e continuará crescendo até 2042, quando provavelmente chegará a 228,4 milhões de pessoas. A partir do ano seguinte, passará a cair gradualmente para cerca de 218,2 milhões, em 2060. Os analistas são unânimes em apontar um aspecto extraordinário nessa experiência que o Brasil está vivendo, no sentido de que os brasileiros estão vivenciando em um tempo relativamente curto o que os europeus viveram em uma centena de anos.

Para Marcelo Mello, da SulAmérica, o Brasil, e dentro dele os seus fundos de pensão, têm até 2050 para extrair as maiores vantagens dos benefícios trazidos pelos “bônus demográfico”. Mas esse tempo na verdade é um pouco menor: “o pico do bônus, os melhores momentos, não deverão se estender além de 2030”, prevê.

É fácil perceber as vantagens que o “bônus demográfico” traz consigo. Lembra Marcelo que, com mais gente no mercado de trabalho, a renda tenderá a crescer, ainda que os salários possam não se ampliar na mesma proporção. Mas, esse não crescimento na mesma amplitude da massa salarial trará um benefício, de vez que contribuirá para tornar a economia brasileira mais competitiva.

Poupança e consumo - Renda maior, prossegue Marcelo, deverá fazer a poupança crescer. “Pessoas entre 16 e 64 tendem a poupar mais, enquanto os muito jovens e os aposentados naturalmente aparecem como consumidores das reservas”, observa.

 “Trilharemos nas próximas décadas um ambiente semelhante àquele que sociedades rotuladas como desenvolvidas já passaram e que é propenso ao aumento da geração de riqueza, superávit na relação renda e consumo (agregado), aumento do estoque de capital e ganhos na produtividade. Pelo menos estes foram os efeitos no passados observados nos Estados Unidos, Europa e Ásia”, acrescenta Marcelo.

Análise de países que já passaram ou estão na fase final da transição demográfica mostra aumento dos investimentos, estoque de capital por trabalhador, produtividade, competitividade e taxa de crescimento do PIB ao longo do “bônus demográfico”.

Essa renda adicional, é possível prever, deverá se converter em aquecimento da economia, ao qual as empresas, por sua vez, precisarão responder. É nesse ponto que entram os fundos de pensão enquanto grandes investidores institucionais e capazes de surfar momentos como esses.

Para dar essa resposta, as empresas precisarão buscar no mercado de capitais os recursos para fazer crescer a oferta de produtos e serviços e, claro, os fundos de pensão tenderão a aparecer como protagonistas nessa hora, ajudando a capitalizar os emissores tanto de papéis de dívida quanto de renda variável.

Para Aquiles Mosca, o momento do bônus precisa ser aproveitado também como uma oportunidade para o crescimento do sistema de fundos de pensão. Ninguém ignora isso, o fato de os atuais 2,6 milhões de participantes de planos representarem menos de 5% da População Economicamente Ativa, mas o bônus torna o fomento possível e, diante do que se seguirá, o envelhecimento mais rápido da população e a extensão da vida, algo ainda mais imprescindível.

 “Participa hoje dos planos menos de 1% da população brasileira e isso precisa mudar”, conclui Aquiles.

É a preocupação mais que justificada com o dia seguinte ao bônus. Afinal, a transformação demográfica também traz consigo desafios associados ao envelhecimento da população. O fim do “bônus demográfico” é prenúncio de maiores despesas com saúde, previdência e benefícios sociais, aumento dos custos do trabalho e maiores constrangimentos para se poupar e investir. A chave para se vencer esse jogo é explorar à exaustão os potenciais benefícios do bônus demográfico, para que o país chegue na fase populacional seguinte com nível de renda mais elevado e em condições de enfrentar os desafios do envelhecimento.

Fonte: ABRAPP, em 25.09.2014.