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Seguros D&O avançam sob leis mais rígidas

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Compliance e transparência deixaram de ser ideais perseguidos pela sociedade moderna para imprimir com o seu rigor, de forma crescente e irreversível, as leis e regras que regem as relações dos governos e do mundo corporativo. Nesse fenômeno, a também responsabilização dos indivíduos é um dos efeitos mais notados. No Brasil não tem sido diferente, com o advento da Lei Anticorrupção , em vigência há um ano, e o endurecimento de regras que regem órgãos como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Antes mesmo disso, entretanto, a demanda por apólices D&O (Directors and Officers Liability Insurance) já apresentava um crescimento significativo. Na entrevista abaixo, Gustavo Galrão, presidente da Comissão de Linhas Financeiras da FENSEG, trata do potencial desse mercado.

Notícias SindsegSP: Um ano após o início de vigência da Lei Anticorrupção, como você analisa o seu impacto sobre o mercado de seguros D&O?

Gustavo Galrão: O mundo está mudando muito rapidamente. Há uma demanda maior da sociedade por compliance e transparência, o que está tornando a legislação mais rigorosa em muitos países. Como as responsabilidades estão sendo cada vez mais atribuídas a indivíduos em posições-chave no mercado, a cobertura de seguro D&O ganha mais importância. Mesmo antes da Lei Anticorrupção, a demanda por apólices de D&O já estava crescendo rapidamente. Entre 2009 e 2013, os prêmios diretos (emitidos) cresceram 107,8%, passando de R$ 95 milhões para R$ 197 milhões. Cumpre destacar que o seguro de D&O não cobre atos dolosos. Portanto, o impacto da nova legislação sobre o crescimento deste produto pode ser explicado da seguinte forma: a Lei estabelece que um administrador pode ser responsável por atos praticados por outros administradores; quando for conivente com eles; quando for negligente na apuração dos fatos trazidos à tona; ou se, uma vez ciente, não fizer nada para cessar a corrupção.

NS: Quais foram os resultados deste produto em 2014? Você pode destacar, em números, o que é a influência da legislação anticorrupção sobre o desempenho deste produto?

Gustavo Galrão: De acordo com números publicados em 2015 pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), o mercado de Linhas Financeiras cresceu 8% em 2014, chegando a R$ 452 milhões. Os seguros de D&O totalizaram R$ 228 milhões, o que representa 52% do mercado, enquanto Erros e Omissões (E&O) alcançaram R$ 219 milhões, respectivamente, para 2014. Muitas companhias de seguros viram a sua taxa de sinistralidade superior a 100%. Isso significa que elas estão pagando ou reservando mais dinheiro do que aquilo que estão obtendo em prêmios dos segurados. O índice de sinistralidade em linhas financeiras atingiu 51% em 2014, em comparação com 39% em 2013. Este aumento foi impulsionado, principalmente, pela evolução do mercado de D&O. Enquanto o índice total de sinistralidade em E&O manteve-se em 48% em 2014, D&O saltou de 32% para 54%, representando a maior proporção na história do mercado brasileiro de D&O. É difícil dizer exatamente qual foi a influência da legislação anticorrupção sobre o crescimento do mercado, mas é muito provável que tenha contribuído para o aumento das reclamações de D&O. Daqui para frente, as seguradoras tendem a ficar mais conscientes de suas exposições. É possível que se tornem mais conservadoras em matéria de gestão de capacidade, seleção de riscos e precificação.

NS: Quais são suas expectativas para 2015 em relação ao seguro de D&O? Existem novos fatos que podem influenciar o mercado no futuro?

Gustavo Galrão: Estamos muito otimistas sobre este mercado. A globalização, a legislação e, até mesmo, a desaceleração da economia são drivers relevantes para manter esse mercado crescendo. Mas é importante ter em mente que, embora comecemos a ter uma cultura de risco, nosso mercado não é tão maduro quanto outros. Existem muitas empresas que ainda não possuem apólices de D&O o que não tem coberturas adequadas. O crescimento da economia brasileira e sua maior exposição a outros mercados e legislações, provocada por um maior nível de globalização da economia brasileira, são indicadores relevantes de que o Brasil está passando por uma evolução no entendimento de riscos.

Fonte: Notícias SindSegSP, ano 9, número 54, março a maio de 2015, página 3.