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O desempenho dos fundos multimercados no primeiro semestre de 2020

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Por Sara Marques (*)

Dizer que o primeiro semestre de 2020 estava previsto em alguma projeção de cenário seria absurdo. Começamos o ano com Ibovespa voando e qualquer discussão sobre a COVID-19 concluía que investimentos seriam feitos para contenção do vírus na Ásia, com a doença sendo controlada ainda em fevereiro. O Carnaval foi marcado pela folia costumeira, mas tivemos uma surpresa bem amarga na volta do feriado prolongado. A bolsa de valores começou a mostrar sinais de preocupação, iniciando uma trajetória de queda. A desvalorização do índice, que parecia ser um susto passageiro, tornou-se apenas a ponta do iceberg. Logo em seguida, sucessivos circuit breaks mostraram que a COVID-19 já tinha partido da Ásia e se espalhava tão rapidamente pelo mundo que não tinha bolsa, investidor ou empresa que estavam preparados para tamanha oscilação.

As ações despencaram, o dólar disparou e a clareza de que a pandemia não passaria tão rápido, obviamente, afetou os fundos de renda variável. Os investidores, que até então estavam surfando nos mais de 100 mil pontos do Ibovespa, sabiam que a queda para os temerosos 65 mil pontos traria um desafio para os retornos de 2020.

A realidade da pandemia, que trouxe a quarentena e lockdowns ao longo de todo o globo, não afetou apenas as bolsas de valores e os fundos de renda variável. Comprometeu também o desempenho dos fundos de investimentos de renda fixa, o que foi uma grande surpresa para aqueles investidores menos familiarizados com termos como volatilidade.

E os fundos multimercados? O que aconteceu com eles? Considerando que os multimercados não são focados apenas em uma estratégia ou outra, as carteiras podem ser compostas por diferentes papéis, incluindo investimentos no exterior, renda fixa e ações. Se, nos fundos de ações, as carteiras tiveram desempenho muito semelhantes, entre os fundos multimercados, as diferenças são enormes. Tudo depende da estratégia do gestor. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, encontramos fundos que rentabilizaram acima de 20% e outros caíram mais de 15%.

Os fundos que apresentaram melhor performances nos seis primeiros meses deste ano são os multimercados que tiveram alguma exposição no exterior. Em um levantamento realizado com base na classificação LUZ, notamos que os fundos classificados como Multimercado Alpha Global encerraram o semestre com retorno médio de 2,32%, superando a variação do CDI no período (1,78%). Nesta mesma categoria, alguns fundos conseguiram acumular no semestre alta de 7,46%. Os fundos Multimercados Alpha Indexados registraram rentabilidade média de 3,31%.

Já fundos multimercados com estratégia de aplicação em mercados emergentes ou que buscavam ganhos em um único país, como os chamados Alpha Locais, tiveram as piores rentabilidades ao longo de 2020, no segmento. No primeiro caso, a perda média chegou a 2,68% e, entre os Alpha Locais, a queda média foi de 0,20%.

Os fundos multimercados possuem sempre uma carteira mais diversificada e a flexibilidade para trabalhar nos diferentes mercados. Porém, assim como os fundos de renda fixa e os de ações, a composição das carteiras segue políticas de investimentos previamente definidas e sempre tem um foco maior em algum tipo de papel. Com a crise - e o que pode vir ainda pós-pandemia -, a estratégia ficou mais evidente. E o investidor, certamente, passará a olhar com mais cuidado para ela.

(*) Sócia e diretora da Previdência da LUZ Soluções Financeiras.

Fonte: Abrapp em Foco, em 28.07.2020