O tarifaço e o seguro

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Por Antonio Penteado Mendonça

Digam o que quiserem, o tarifaço vai impactar a economia brasileira de forma dura e cruel. O governo pode alardear que está abrindo novos mercados, que as exportações para os Estados Unidos podem ser substituídas, que não é tanto dinheiro assim, etc. Tanto faz o que o governo diga, o fato é que se alguém perguntar ao pessoal que trabalha com exportação de Assaí o que eles estão achando do tarifaço, a resposta será que o negócio está inviabilizado, que o desemprego é uma certeza e que não tem muito para onde fugir. E a mesma resposta será dada pelos fabricantes de móveis e outros empresários que exportam madeira. As portas para os Estados Unidos estão fechadas, com todas as consequências negativas que a queda brutal das exportações representa para seus negócios.

Estes são apenas dois exemplos óbvios, há muito mais em jogo. A queda das exportações vai desarranjar cadeias produtivas responsáveis por bilhões reais. Os custos deste desmonte serão sentidos rapidamente e não há certeza de que a substituição das exportações aconteça e, se acontecer, que será suficiente para minimizar os prejuízos.

Entrar em novos mercados não é simplesmente chegar lá e começar a vender. Há um longo caminho que começa com a identificação de novos parceiros, a obtenção das licenças oficiais, a divulgação dos produtos e das marcas, acertar os fretes, e, acima de tudo, a capacidade concorrencial necessária para sobrepujar os fornecedores já instalados.

Em outras palavras, o tarifaço bate dentro e bate fora. Haverá uma queda na velocidade da economia e na capacidade brasileira de colocar seus produtos no exterior. É bom não esquecer que além dos impactos diretos da aplicação das novas tarifas, o país passa por uma crise de competitividade, com nossas empresas, tirando as exceções de sempre, tendo pouca capacidade de produção para concorrer com um mundo cada vez mais rápido e tecnologico.

Não há como este cenário não afetar o setor de seguros. Começando pelo seguro de transporte, com a redução das exportações haverá queda na contratação do seguro. Além disso, com a aplicação das novas tarifas, haverá o aumento do preço. E a mesma verdade vale para o seguro de crédito à exportação.

Mas não são apenas os seguros diretamente ligados a exportação que serão afetados. Os seguros patrimoniais sentirão os efeitos do tarifaço, em primeiro lugar na queda produção, em segundo no aumento dos preços, e daí pra frente nos impactos do fechamento de plantas industriais e unidades de logística, além dos custos sociais decorrentes do desemprego, das férias coletivas, da redução das jornadas de trabalho, de forma geral e, especificamente, nos setores mais atingidos, que afetarão os seguros de pessoas e os planos de saúde privados.

Não há muito que possa ser feito para evitar o que vem pela frente. Os Estados Unidos não vão baixar a bola. Eles são a maior potência do mundo e encontraram no Brasil uma vítima fácil, sem a menor condição de entrar numa briga pra valer e despreparado para fazer frente ao novo cenário internacional. Entre secos e molhados, vai doer na gente.

Fonte: SindSeg SP, em 29.08.2025.