Longevidade, saúde e pets

Por Gloria Faria (*)

A expectativa de vida mais que dobrou nos últimos cem anos. Hoje, vivemos muito mais. O acentuado aumento da expectativa de vida ocorreu apenas com relação a nós humanos os indivíduos, mas também se verifica nos animais domésticos, sobretudo cães e gatos, que hoje, também vivem mais.

Alterações nos modelos familiares e mudanças no comportamento social, sobretudo nas metrópoles, levaram a uma proliferação dos lares unicelulares e um aumento de cães e gatos partilhando esses espaços. O fato desses animais terem passado a ocupar um papel importante na vida das pessoas e receberem mais cuidados foi determinante para que passassem a viver mais. Essa convivência, afirmam alguns estudos científicos [1], tem um efeito psicológico importante [2] que gera um maior bem-estar e reduz a depressão que usualmente acompanha o processo do envelhecimento.

Se os avanços da medicina e da veterinária contribuíram para o prolongamento da vida, os resultados quanto a solução para os agravamentos da saúde na velhice, permanecem em patamar bem inferior.

A espiral de custos da assistência médica se reproduz na assistência veterinária e o espectro de doenças crônicas também. Pet shops e clínicas veterinárias particulares, em um primeiro momento, criaram produtos de pagamento mensal ou “pacotes” direcionados aos cuidados do dia a dia, como tosa e banho.

A dificuldade de arcar com as despesas veterinárias de cães e gatos, ao longo de uma vida mais longa criaram uma demanda de atendimento continuado que hoje é atendida por planos de saúde para cães e gatos. Com um modelo bastante similar aos Planos de Assistência à Saúde comercializados pelas operadoras e regulados pela Agência Nacional de Saúde, ANS, são produtos facilmente contratáveis pela internet. Os planos PET, oferecem cobertura de exames laboratoriais e de imagem, internações, vacinas, colocação de microchip, cirurgia, castração e até concierge. É possível contratar até mesmo um plano PET SENIOR para animais de mais de 9 anos, com restrições quanto a atendimentos veterinários, mas com preços especiais para consultas em PET HOME.

A longevidade, conquista da evolução da medicina e de outras áreas da ciência e da tecnologia, cobra sempre seu preço. Os cuidados com a saúde são caros e seu custo muito agravado na medida em que vivemos mais. Planificação financeira para os (muitos) anos que vamos viver após o período laboral estão na ordem do dia com a discussão sobre um novo modelo previdenciário. Produtos desenvolvidos por seguradoras e previdência privada já são, há muito, ofertados.

A Saúde Suplementar Privada se propôs a atender um contingente que demandava assistência médica melhor e mais eficiente que o Sistema Único de Saúde SUS podia (e pode) oferecer, sempre prejudicado pelo financiamento deficitário e outros problemas. A crise econômica que vem se estendendo desde o final da última década e que já expulsou grande contingente de trabalhadores do mercado de trabalho também os alijou dos planos coletivos garantidos ou partilhados com o empregador.

Soluções para garantir os cuidados e a assistência à saúde com preços acessíveis a um maior número de usuários permanecem em debate e são cobradas tanto do governo como das empresas privadas. A aposta nas novas tecnologias, até o momento não passa de aposta visto que a popularização que leva a um menor preço não se dá de forma imediata.

Alguns modelos novos como é o caso do Dr. Consulta, que oferece consultas médicas e exames laboratoriais de qualidade por preços bem inferiores aos cobrados nos consultórios particulares, tem dificuldade para serem desenvolvidos. A regulação do setor, com todos os seus fatores positivos inegáveis, engessa alterações e novos modelos de atendimento que não atendam ipsis litteris a Lei 9.656/98.

As necessidades, que uma vida mais longa impõe a todos nós, exigem reformulações nas formas de assistência à saúde, nas áreas pública e privada. Soluções antigas, envelheceram. Tecnologia de última geração, Bigdata e Inteligência Artificial esbarram em limites até agora não dominados. Muitos dos desafios são também antigos e ao que parece, ignorando a ação do tempo, seguem cada vez mais robustos.

[1] Clínica Médico-Psiquiátrica da Ordem, na cidade do Porto, em Portugal, e publicado na revista científica Journal of Psychiatric Research.

[2] Universidade de Liverpool, no Reino Unido, publicado no periódico BMC Psychiatry.
Veja mais em https://vivabem.uol.com.br/noticias/redacao/2018/03/09/caes-e-gatos-dao-suporte-emocional-aos-donos-ou-e-coisa-da-nossa-cabeca.htm?cmpid=copiaecola.

(*) Gloria Faria é Advogada, sócia de MOTTA, SOITO & SOUSA Advocacia Empresarial.

(21.05.2019)