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Entrevista: “Continuamos otimistas com ativos de risco no cenário global”, diz Isabella Nunes do J.P. Morgan Asset Management

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Por Alexandre Sammogini

abrapp 04062021

Em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco, Isabella Nunes, da área de relacionamento com investidores do J.P. Morgan Asset Management, aborda a importância da diversificação internacional das carteiras das fundações e o cenário atual. “O investimento no exterior ganha cada vez mais relevância, uma vez que é uma ótima forma de potencializar resultados e, ao mesmo tempo, diminuir o risco das carteiras, dada a baixa correlação com ativos locais”, diz em trecho da entrevista.

A especialista analisa que o cenário continua propício para a ampliação das alocações no exterior porque atravessamos um momento de retorno do crescimento global, reabertura das economias, políticas monetárias e fiscais expansionistas na maior parte do mundo. Confira a seguir a entrevista na íntegra:

Blog Abrapp em Foco – Poderia explicar quais os principais benefícios da alocação de recursos em ativos internacionais para as fundações?

Atualmente, as fundações no Brasil enfrentam um grande desafio para superar suas metas atuariais. Dessa forma, diversas entidades estão alterando suas políticas de investimento com foco em adicionar novas fontes de retorno aos portfólios. Nesse cenário, o investimento no exterior ganha cada vez mais relevância, uma vez que é uma ótima forma de potencializar resultados e, ao mesmo tempo, diminuir o risco das carteiras, dada a baixa correlação com ativos locais. 

Outro grande benefício da alocação em ativos internacionais é a exposição a setores e regiões com grandes tendências estruturais de crescimento, como, por exemplo, o setor de tecnologia que está causando uma disrupção no mercado como um todo; e regiões como China, que acreditamos que deve se tornar a maior economia do mundo na próxima década, ultrapassando os Estados Unidos.

Blog – Poderia analisar o cenário internacional atual? Quais os principais fatores de risco?

No J.P. Morgan Asset Management, continuamos otimistas com ativos de risco, dado que estamos em um momento de retorno do crescimento global, reabertura das economias, políticas monetárias e fiscais expansionistas na maior parte do mundo. 

Como risco, vislumbramos as pressões inflacionárias. Entretanto, não devemos pensar na inflação como um sinal vermelho para investir, mas sim como uma oportunidade para gestão ativa da carteira. Os investidores devem agir de forma a se beneficiar de uma inflação um pouco mais alta.

Blog – Poderia comentar quais são as principais oportunidades de alocação no exterior? Quais as classes de ativos mais interessantes?

Focamos na construção das carteiras como uma ferramenta para buscar a melhor relação risco/retorno para os portfólios de nossos clientes. Nossa principal convicção é de que o asset allocation, ou seja, a alocação em diferentes segmentos de investimentos, dentre eles renda fixa, renda variável, etc, é o principal vetor na geração de retornos no longo prazo. Entendemos que realizar o asset allocation para a parcela global não é tarefa fácil para os investidores brasileiros. Dessa maneira, acreditamos que delegar essa função para gestores especializados é um caminho que ganhou força nos últimos meses e deve continuar na mesma tendência. 

Uma forma de colocar isso em prática é selecionar estratégias globais flexíveis e dinâmicas, que permitem ao gestor de investimentos navegar por diferentes situações de mercado, avaliando oportunidades para cada alocação, seja em renda fixa, renda variável ou quaisquer ativos selecionados para a busca de alpha. 

Os benefícios de alocar no exterior por meio de uma solução completa, que gera exposição em diversas classes de ativos, são vários, mas podemos destacar: custos mais baixos, um nível mais alto de gerenciamento de risco e uma maior compreensão de como o portfólio se move em uma ampla gama de cenários econômicos. A transparência é fundamental!

Blog – Quais são as melhores estratégias? Poderia analisar as opções com ou sem hedge cambial?

A escolha do investimento deve ser sempre pautada com base no objetivo de retorno de longo prazo e apetite de risco do investidor. Uma questão importante para a fundação é a decisão de investir com ou sem hedge cambial. Nesse aspecto, é importante ter em mente que ao investir globalmente sem hedge cambial, os fundos de pensão precisam avaliar dois pontos: o desempenho dos ativos internacionais, e a direção da moeda. É bastante difícil prever as movimentações das moedas, mas elas tendem a se recuperar rapidamente dos extremos. 

Ainda, se o investidor decidir ter exposição sem hedge cambial é muito importante estar ciente de que market timing para moedas pode ser um hábito perigoso. Como vimos no passado, os movimentos de depreciação e de apreciação podem ocorrer rapidamente e mudar de direção muito rápido também. O melhor é decidir se quer ter exposição em dólar, e adicionar essa exposição gradualmente. Outro ponto importante é que a exposição ao dólar tende a ser uma forma de proteção natural contra renda variável local, uma vez que esses ativos historicamente apresentam movimentos opostos.

Blog – O limite imposto pela Resolução 4.661/2018 até 10% do patrimônio das fundações é adequado? Qual seria um limite mais adequado? Por que?

Por muitos anos, os juros altos no Brasil levaram investidores a argumentar que oportunidades globais não valiam a pena, uma vez que era possível obter retornos atrativos e com baixo risco no mercado doméstico. Entretanto, frente ao cenário atual no Brasil, em que as taxas de juros se encontram em mínimas históricas, as fundações enfrentam um grande desafio para buscar novas fontes de retorno e, ainda, terão que adicionar risco às carteiras. Se lembrarmos que o Brasil representa uma parcela muito pequena da economia global, o investimento no exterior tende a se tornar cada vez mais atrativo. 

Acompanhando este movimento, a alteração do limite de investimento no exterior será cada vez mais necessária para auxiliar as entidades a atingir seus objetivos de retorno no longo prazo. Independente do percentual, é fundamental que as fundações iniciem, ou incrementem, a alocação internacional ao longo dos anos. Estudos mostram que a alocação em ativos globais tende a melhorar a relação risco/retorno das entidades. Diversas fundações, especialmente as de médio porte, relatam que estão muito próximas do limite máximo de 10% e que gostariam de ter mais flexibilidade para aumentar essa alocação. 

É importante ressaltar que o aumento do limite em si não significa maior exposição a ativos internacionais. Apenas aquelas entidades que considerarem essa diversificação benéfica para os seus participantes irão executá-la. Ou seja, elevar o limite, na nossa visão, significa apenas aumentar o leque de possibilidades.

Blog – Como implementar a alocação internacional? Quais as recomendações em termos de veículos?

A decisão de como implementar a alocação internacional tornou-se um tema importante nos últimos tempos. Algumas fundações, que estão iniciando o processo de diversificação no exterior, têm avaliado a opção de constituir um veículo exclusivo para as movimentações iniciais. No passado, essa estratégia fazia sentido, pois a oferta de produtos locais ainda era incipiente. 

Com a evolução do mercado nos últimos anos e aumento consistente na oferta de produtos no Brasil, acreditamos que dificilmente uma estratégia exclusiva irá oferecer exposições muito diferentes das já existentes. No nosso ponto de vista, a alocação em produtos abertos oferece diversas vantagens que precisam ser consideradas durante o processo de implementação, dentre elas: custos, transparência, gestão única e agilidade na alocação. Além disso, é importante privilegiar que os fundos sejam aderentes à resolução 4.661: os regulamentos dos fundos abertos já consideram todas as questões impostas pela legislação vigente

Ao longo dos nossos mais de 150 anos de experiência na gestão de recursos de terceiros, entendemos que a melhor estratégia para complementar os investimentos de um fundo de pensão é uma carteira balanceada entre diversas classes de ativos. Como responsabilidade fiduciária de clientes de planos de previdência, nosso objetivo é oferecer o mais alto nível de padrões de governança.

Fonte: Abrapp em Foco, em 04.06.2021