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4º Encontro de Resseguro: oportunidades e desafios na AL

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Impactos das catástrofes naturais e Seguro Paramétrico foram destaques entre os temas debatidos no último dia do evento

A primeira década deste século esteve associada ao progresso econômico da América Latina, quando se percebeu o surgimento de uma nova classe média, a redução da pobreza e a inflação sob controle. Durante palestra realizada pelo CEO da Swiss Re, Michel Liès - e coordenada pelo vice-presidente da Confederação nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), Patrick Larragoiti -, foram apontados os riscos importantes na América Latina e as oportunidades que o continente oferece às resseguradoras. O executivo assinalou que a linha de infraestrutura global é um dos aspectos mais importantes para o setor. “Dos U$ 80 trilhões de dólares dos ativos mundiais, menos de 1% é destinado à infraestrutura”, afirmou durante a plenária “Desafios e Oportunidades: a Atração da América Latina”, que aconteceu ontem, pela manhã, no último dia do 4º. Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro.

Sobre os riscos importantes na América Latina, o destaque ficou com a seca que afetou o Brasil e a América Central no ano passado, causando perdas generalizadas ao setor agrícola, estimadas em U$ 3 bilhões. O ano de 2014 registrou o maior número de catástrofes naturais – foram 189 -, acentuando a vulnerabilidade das áreas metropolitanas a riscos de inundações enfrentadas no país, sobretudo no Rio de Janeiro, com transbordamentos de rios e enchentes relâmpago, combinados com deslizamentos de terra. O aumento da urbanização e densidade demográfica e as atividades econômicas crescentes nas áreas metropolitanas intensificaram esses efeitos. As perdas econômicas somaram U$ 110 milhões e apenas U$ 35 bilhões para perdas seguradas, em um cenário onde apenas 30% do planeta são segurados. 

A necessidade de proteção contra as catástrofes naturais foi debatida no painel “Resseguro Paramétrico”. Florin Kummer, da Swiss Re, analisou o mercado brasileiro, apontou as diferenças entre o resseguro tradicional e paramétrico e analisou como estruturar um produto simples, que se ajuste às características naturais do Brasil. Sobre a cultura do resseguro no Brasil, Kummer contrapôs a atenção voltada para o mercado soft às catástrofes naturais, como enchentes, secas, deslizamentos e incêndios. Segundo o executivo, a penetração dos seguros paramétricos no país, hoje, é de apenas 3%. Reforçando que o Brasil “tem uma sociedade complexa e riscos complexos”, Kummer disse que um dos maiores desafios do mercado, atualmente, é promover a cultura dos seguros e resseguros paramétricos.

Kummer alertou ainda que o Brasil possui um mercado promissor e que o momento econômico mundial é favorável para o desenvolvimento de produtos de resseguro. A preocupação com a carência de proteção paramétrica é acentuada pelo que o executivo chama de “cenário de tendências a desastres naturais”, que, somadas às tendências socioeconômicas, incrementam ainda mais a vulnerabilidade brasileira aos desastres naturais. Falou também das diferenças entre o resseguro tradicional e o paramétrico. Segundo ele, na maioria dos casos, o resseguro paramétrico está relacionado, entre outros fatores, à restrição de ofertas para determinados riscos ou segmentos no mercado tradicional, seja por falta de informação adequada ou de recursos para participar do mercado. “O resseguro paramétrico não é um substituto e nem uma alternativa para o seguro tradicional. É um complemento”, ressaltou.

O painel de Resseguro Paramétrico teve outro debatedor, Rodrigo Protasio, da JLT RE Brasil, que começou sua palestra afirmando que o tempo é passível de ser segurado e fez uma breve análise sobre a oportunidade de crescimento para o mercado de resseguros paramétricos no Brasil. Sobre a matriz energética brasileira, Protasio lembrou que de 70% a 75% da capacidade de produção advém das hidrelétricas. O aumento da conta de energia foi motivado pela diminuição das chuvas no Brasil este ano. Porém, segundo ele, a maioria dos contratos firmados por empresas geradoras de energia compram seguros apenas para os transformadores, pensando em danos materiais. “A questão é que hoje o risco é muito maior para as perdas causadas por alterações climáticas”, esclarece.

A situação climática no Brasil, reforçou Rodrigo Protasio, abre espaço para que o mercado invista no resseguro paramétrico. Enquanto alguns estados da região Nordeste e Sudeste sofrem com a escassez de água e diminuição dos índices pluviométricos, as regiões Sul e Norte enfrentam alagamentos e deslizamentos de terra. Os fenômenos são acentuados pelas características climáticas do Brasil. O executivo encerrou sua palestra alertando para a necessidade de “pensar fora da caixa”. Segundo ele, a maioria das matrizes energéticas hoje depende das condições climáticas. Por isso, é preciso investir em inovação. “O resseguro tradicional já não está funcionando tão bem, então, por que não usar o paramétrico como complemento do tradicional? Precisamos pensar fora da caixa”, finalizou.

O 4º encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, realizado nos dias 14 e 15 de abril, no Hotel Sofitel, em Copacabana, cumpriu seu segundo dia de programação com as plenárias do professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente, que apresentou as perspectivas do século 21, comandada pelo diretor do Centro de Pesquisas da Escola Nacional de Seguros, Claudio Contador. “Vamos observar que o setor, desde a abertura do mercado, mais teve uma mudança qualitativa muito grande, o que nos permitiu (empresas nacionais) um desempenho muito grande, muito próximo ao das resseguradoras estrangeiras”, comentou Contador. Os cerca de 500 executivos do mercado, que lá estiveram, ainda participaram das outras plenárias e painéis técnicos: “Aspectos Jurídicos da Regulação de Sinistros”, “Transferência de Risco através de Mercado de Capitais”, “Resseguro Paramétrico”, “D&O” e “Proteção de Portfolio”.

Fonte: CNseg, em 16.04.2015.